Em um pequeno edifício em Marrero, Louisiana, pacientes respiram oxigênio puro em uma cápsula.
O procedimento, conhecido como oxigenoterapia hiperbárica, usa uma câmara pressurizada para ajudar mergulhadores a superar a descompressão. No entanto, o Dr. Paul G. Harch o utiliza no tratamento de concussões.
Uma paciente, Rashada Parks, disse que enfrenta variações de humor desde que caiu e bateu a cabeça há mais de três anos. Antidepressivos não ajudaram. Porém, após 40 sessões de tratamento, ou mergulhos, os sintomas haviam diminuído.
Três estudos bancados pelos contribuintes americanos, com custo de aproximadamente US$ 70 milhões, descobriram que os benefícios do oxigênio hiperbárico relatado por pacientes podem ser resultado do efeito placebo. Porém, recentemente, sem se deixar abater, defensores do tratamento persuadiram legisladores americanos a gastar mais dinheiro para investigar se esses estudos eram falhos.
Uma indústria se desenvolveu em torno das concussões. Todos os anos, cerca de 1,7 milhão de americanos tratam concussões causadas por quedas, acidentes, lesões esportivas e outras causas. Enquanto a grande maioria se recupera rapidamente com repouso, uma porcentagem pequena dos pacientes experimenta efeitos nefastos durante muito tempo. Além de problemas de memória, os sintomas podem incluir dores de cabeça, tonturas e problemas de visão e equilíbrio.
Na última década, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos gastou mais de US$ 800 milhões na pesquisa da lesão cerebral. E enquanto as pessoas se conscientizam mais sobre as consequências debilitantes de concussões repetidas em longo prazo, as empresas perseguem soluções vendáveis.
A busca de maneiras de tratar e prevenir concussões gerou aparelhos de exames, sensores em capacetes e dispositivos de imagem cerebral. No entanto, conforme a indústria vai crescendo, médicos especialistas cada vez mais acreditam que esse é um negócio onde a crença frequentemente vence os fatos.
Pouco tempo atrás, o campo de pesquisa de traumatismo cerebral era pequeno. Pouca atenção era dada à concussão, que é também chamada de lesão cerebral traumática moderada. Isso mudou depois que relatórios mostraram que centenas de soldados americanos voltavam do Iraque e do Afeganistão com lesões causadas por acidentes e explosões em batalhas. Em 2007, o Congresso alocou US$ 600 milhões para pesquisa e tratamento, dividindo os fundos entre traumatismo crânio-encefálico e transtorno de estresse pós-traumático, ou TEPT.
O Dr. David X. Cifu, professor da Universidade Virginia Commonwealth, em Richmond, que também trabalha para o Departamento de Assuntos de Veteranos, disse que os fundos do governo geraram um frenesi de pesquisa. “Era um campo pequeno que cresceu incrivelmente porque muitas pessoas estavam inventando e afirmando coisas”, afirmou Cifu.
Alguns especialistas disseram acreditar que a abordagem militar à concussão sofria de um problema básico. Todos concordam com os sintomas que definem uma concussão no momento em que ela ocorre, mas não existe uma definição similar para descrever o que acontece após o ocorrido, incluindo o desenvolvimento dos sintomas da lesão ao longo do tempo. Além disso, muitos soldados que são diagnosticados com lesão cerebral leve também sofrem de TEPT, uma condição com sintomas semelhantes àqueles associados à concussão.
Há alguns anos, uma das maiores fabricantes de capacetes de futebol americano, a Riddell, anunciou que estava buscando uma maneira de reduzir lesões por meio de sensores eletrônicos de impacto para monitorar golpes na cabeça. A Liga Nacional de Futebol (National Football League, NFL) ficou tão entusiasmada com a ideia que estudou o desempenho dos sensores de impacto nos capacetes da Riddell em oito jogos. Porém, a Liga terminou a experiência dizendo que os dados obtidos não foram relevantes.
O fim do teste de campo da NFL, no entanto, não diminuiu o entusiasmo pelos sensores entre treinadores e pais. Ainda este ano, jogadores de vários times de futebol americano universitário vão usar protetores bucais equipados com sensores feitos pela i1 Biometrics. Como no negócio da concussão, os especialistas ainda não sabem se os dados produzidos pelos sensores de impacto irão resultar em menos concussões ou se simplesmente irão atrapalhar as estatísticas.
Médicos especialistas dizem que, após uma década de trabalho intenso, há uma maior conscientização sobre as consequências das concussões.
Eles afirmam também que, em alguns aspectos, a busca de novas abordagens voltou à estaca zero. Um perito em concussão da Clínica Mayo em Phoenix, Arizona, o Dr. David W. Dodick, disse acreditar que um suplemento nutricional barato, a N-acetilcisteína, poderia ajudar a tratar os sintomas da concussão, e que ele gostaria de estudá-lo.
Não seria a primeira vez que o suplemento é testado com essa finalidade. Em 2008, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos iniciou um estudo sobre ele em soldados no Iraque que haviam sofrido algum traumatismo. Esse estudo mostrou benefícios, mas Dodick disse que uma controvérsia no teste ofuscou um possível avanço e que a N-acetilcisteína ainda pode ser uma ferramenta valiosa.