O nojo é a Cinderela das emoções. Enquanto o medo, a tristeza e a raiva, suas irmãs desagradáveis e espalhafatosas, têm prendido a atenção dos psicólogos, o pobre nojo tem sido escondido no canto, deixado para chafurdar nas cinzas.
Isso mudou agora. O nojo está tendo seu momento sob os holofotes, enquanto os pesquisadores descobrem que ele faz mais do que causar a sensação de enjoo no estômago. Ele protege os seres humanos de doenças e parasitas e afeta quase todos os aspectos das relações humanas, do romance à política.
Em vários novos livros e num fluxo constante de trabalhos de pesquisa, cientistas estão explorando a evolução do nojo e seu papel em atitudes em relação à comida, sexualidade e outras pessoas.
Paul Rozin, psicólogo, professor emérito da Universidade da Pensilvânia e pioneiro da pesquisa moderna sobre o nojo, começou a trabalhar com alguns poucos colaboradores nos anos 90, quando o nojo estava longe de ser um assuntos principal.
"Era sempre a outra emoção", ele disse. "Agora está na pauta."
Ele ainda não vai usar sapatinhos de cristal, o que não faz mal, considerando o tipo de coisa em que ele tem que andar. De qualquer modo, seu alcance leva o nojo além dos reinos da podridão e do excremento.
Falando semana passada numa conferência sobre o nojo na Alemanha, Valerie Curtis, uma profissional que se autodescreve como uma "nojóloga" da Escola Londrina de Higiene e Medicina Tropical (LSHTM, na sigla em inglês), descreveu sua emoção favorita como sendo "incrivelmente importante".
Ela continuou: "Ele está em nossa vida cotidiana. Determina nossos comportamentos de higiene. Determina o quanto queremos nos aproximar dos outros. Determina quem iremos beijar, com quem iremos procriar, perto de quem iremos sentar. Determina as pessoas que nós excluímos, e isso é algo que fazemos bastante".
Ele começa cedo, segundo ela: "Crianças no playground acusam outras crianças de terem piolhos. E funciona, e as pessoas sentem vergonha quando o nojo é virado contra elas".
Alguns estudos sugeriram que os conservadores políticos são mais suscetíveis ao nojo do que os liberais. E é claro que o que as pessoas acham nojento elas também acham imoral.
O que também aumenta a popularidade do nojo como objeto de estudo básico é o fato de ele ser mais fácil de provocar de uma maneira ética do que medo ou raiva. Você não precisa insultar alguém ou fazer com que ele tema pela sua vida basta um cheiro ruim. E o nojo tem sido relativamente fácil de localizar no cérebro, onde frequenta o córtex insular, as amídalas cerebelosas e outras regiões.
"Ele está se tornando uma emoção modelo", disse Jonathan Haidt da Universidade da Virgínia, um pioneiro do nojo com Rozin.
E a pesquisa pode ter benefícios práticos, inclusive pistas para compreender o transtorno obsessivo-compulsivo, alguns aspectos do qual como a excessiva lavagem das mãos parecem uma versão desenfreada do nojo.
Tradução de Adriano Scandolara.