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Pesquisa

Nojo

 | Ilustração: Robson Vilalba
(Foto: Ilustração: Robson Vilalba)

O nojo é a Cinderela das emoções. Enquanto o medo, a tristeza e a raiva, suas irmãs desagradáveis e espalhafatosas, têm prendido a atenção dos psicólogos, o po­­bre nojo tem sido escondido no canto, deixado para chafurdar nas cinzas.

Isso mudou agora. O nojo está tendo seu momento sob os holofotes, enquanto os pesquisadores descobrem que ele faz mais do que causar a sensação de enjoo no estômago. Ele protege os seres humanos de doenças e parasitas e afeta quase todos os aspectos das relações humanas, do romance à política.

Em vários novos livros e num fluxo constante de trabalhos de pesquisa, cientistas estão explorando a evolução do nojo e seu pa­­pel em atitudes em relação à co­­mi­­da, sexualidade e outras pessoas.

Paul Rozin, psicólogo, professor emérito da Universidade da Pen­­silvânia e pioneiro da pesquisa moderna sobre o nojo, começou a trabalhar com alguns poucos colaboradores nos anos 90, quando o nojo estava longe de ser um assuntos principal.

"Era sempre a outra emoção", ele disse. "Agora está na pauta."

Ele ainda não vai usar sapatinhos de cristal, o que não faz mal, considerando o tipo de coisa em que ele tem que andar. De qualquer modo, seu alcance leva o no­­jo além dos reinos da podridão e do excremento.

Falando semana passada nu­­ma conferência sobre o nojo na Alemanha, Valerie Curtis, uma profissional que se autodescreve como uma "nojóloga" da Escola Londrina de Higiene e Medicina Tropical (LSHTM, na sigla em in­­glês), descreveu sua emoção favorita como sendo "incrivelmente importante".

Ela continuou: "Ele está em nossa vida cotidiana. Determina nossos comportamentos de higiene. Determina o quanto queremos nos aproximar dos outros. Determina quem iremos beijar, com quem iremos procriar, perto de quem iremos sentar. Deter­­mina as pessoas que nós excluímos, e isso é algo que fazemos bastante".

Ele começa cedo, segundo ela: "Crianças no playground acusam outras crianças de terem piolhos. E funciona, e as pessoas sentem vergonha quando o nojo é virado contra elas".

Alguns estudos sugeriram que os conservadores políticos são mais suscetíveis ao nojo do que os liberais. E é claro que o que as pessoas acham nojento elas também acham imoral.

O que também aumenta a po­­pularidade do nojo como objeto de estudo básico é o fato de ele ser mais fácil de provocar de uma maneira ética do que medo ou raiva. Você não precisa insultar al­­guém ou fazer com que ele tema pela sua vida – basta um cheiro ruim. E o nojo tem sido relativamente fácil de localizar no cérebro, onde frequenta o córtex insular, as amídalas cerebelosas e outras regiões.

"Ele está se tornando uma emoção modelo", disse Jonathan Haidt da Universidade da Virgínia, um pioneiro do nojo com Rozin.

E a pesquisa pode ter benefícios práticos, inclusive pistas para compreender o transtorno obsessivo-compulsivo, alguns aspectos do qual – como a excessiva lavagem das mãos – parecem uma versão desenfreada do nojo.

Tradução de Adriano Scandolara.

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