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 | Antonio Costa/Gazeta do Povo
| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

O Brasil aguarda, com a expectativa otimista de muitos e a torcida contrária de uma pequena minoria, que o governo Temer comece a funcionar. A PEC do teto para as despesas dos próximos exercícios está bem encaminhada, mas sua aprovação será só o primeiro passo – um pequeno passo – na direção da reconstrução do país. A situação de terra arrasada deixada pelo governo anterior vai exigir, mais que medidas, determinação e austeridade para implantá-las. Como se estivéssemos numa economia de guerra, os agentes públicos, em todas as esferas de governo e de poder, deveriam adotar o lema “é proibido gastar” para que os sacrifícios exigidos agora recaiam sobre todos, sem exceção, e para que sobre algum recurso para o poder público investir para sanar as tantas carências do país, dos estados e dos municípios.

Há inúmeros exemplos na história mundial e brasileira para nos inspirar. Na Inglaterra bombardeada na Segunda Guerra Mundial, a realeza britânica se submeteu, abdicando de seus privilégios, ao mesmo racionamento de seus súditos. E aqui no Brasil, no Paraná, quando uma geada negra atingiu as lavouras de café, no inverno de 1975, com efeitos devastadores sobre a economia do estado e o deslocamento de milhares de pessoas do campo para as áreas urbanas e outras regiões, a vontade política, a firmeza e a dedicação do governador da época, Jayme Canet Júnior, conseguiram, com o sacrifício de todos, colocar o estado novamente na direção do progresso.

O Estado não precisa ser grande. Precisa ser forte para coibir os abusos que dilapidam o patrimônio público

Canet nunca fez concessões ao populismo. Investiu pesado em infraestrutura sem jamais ceder à tentação de fazer obras monumentais para marcar o seu governo. E, talvez por isso, mereça tanto o respeito e a admiração que os paranaenses lhe dedicam como uma das maiores lideranças de sua história. Suas atitudes no exercício da função pública eram tão importantes quanto as ações que praticava para enfrentar a situação calamitosa e recuperar o Paraná.

O descalabro das contas públicas, tanto do governo federal como de estados e municípios, exige a determinação de políticos com vocação para estadistas. Porque as barreiras à frente não são apenas as vozes discordantes da minoria oposicionista contra as propostas sem apresentar qualquer alternativa e sem qualquer mea culpa pelo apoio à política econômica que nos levou ao caos. O perigo maior vem dos aliados que nem sempre estão dispostos a abrir mão de suas prerrogativas, de enfrentar corporações e interesses contrariados e arranjam argumentos para desfigurar as propostas, como, em maior ou menor escala, vem acontecendo em Brasília e no Rio de Janeiro.

Há de ter firmeza e determinação. Como tiveram os governadores Beto Richa, do Paraná, e Paulo Hartung, do Espírito Santo, que, enfrentando os riscos de perder popularidade, já fizeram os ajustes necessários para sanar as finanças de seus estados. Políticos em geral costumam reagir a cortes e nem só a esquerda, de maneira estridente, se coloca contra o Estado mínimo. Veladamente, muitos representantes do centro e da direita também não querem um Estado enxuto, com poucas benesses a distribuir.

Todos eles não percebem, ou não querem perceber, que o Estado não precisa ser grande. Precisa, isso sim, ser forte. Forte para coibir os abusos que dilapidam o patrimônio público e desperdiçam o dinheiro dos impostos. Não precisa e nem deve ser grande. Deve apenas ser forte o suficiente para recuperar a confiança do país em seu futuro e dos brasileiros em perspectivas concretas de progresso e bem-estar.

João Elísio Ferraz de Campos, empresário e membro da diretoria do Instituto Ciência e Fé de Curitiba, é ex-governador do Paraná.
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