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Se o governo e os políticos brasileiros estudarem a história da Grécia nos últimos 70 anos e se derem o trabalho de entender como a crise grega se formou, eles poderão extrair lições valiosas sobre as políticas que promovem o progresso e as que levam ao caos econômico e social. Entretanto, para um bom aprendizado é preciso deixar de lado o fanatismo e o viés esquerdizante do qual o Brasil tem dificuldade em se livrar. A primeira lição é que, para melhorar o padrão médio de bem-estar social e, sobretudo, melhorar a situação dos mais pobres – justamente aqueles que a esquerda diz defender –, é necessário haver crescimento econômico. Ou seja, o Produto Interno Bruto (PIB) tem de aumentar.

Vale lembrar que, mesmo com a redução da taxa de natalidade, a população brasileira deve aumentar em torno de 1,6 milhão de habitantes em 2015. Para manter tudo como está, sem elevar a renda média por habitante, o PIB terá de crescer perto de 1%. Para começar, a questão principal na busca pelo desenvolvimento é saber qual política econômica e quais medidas são eficientes para elevar o PIB acima do crescimento populacional.

Elevações de benefícios sociais precisam ser acompanhados de aumento do PIB e da produtividade

A segunda lição implica que as pessoas, as empresas e o governo incorporem a ideia de que, dado certo total de produção nacional, tudo o que for dado a qualquer classe ou categoria social será retirado dos demais habitantes do país. Esse ponto é fácil de entender, pois trata-se de uma questão meramente aritmética. A Grécia passou décadas criando leis a favor de aposentadorias generosas, salários do setor público e benefícios sociais sempre crescentes a taxas superiores ao crescimento do PIB. Esse erro foi agravado pela tentativa de distribuir benesses sem aumentar impostos, obrigando o governo a fazer dívidas e emitir moeda. Isto é, a Grécia tentou criar um país feliz à base de déficits públicos e inflação. Não podia dar certo.

A terceira lição é a prova de que elevações de benefícios sociais precisam ser acompanhados de aumento do PIB e, principalmente, da elevação da produtividade econômica (aumento do produto por hora de trabalho). De outra forma, tentar atalhos milagrosos acaba melhorando a vida de uns à custa dos demais. A Grécia somente acordou para a gravidade de sua baixa produtividade quando ingressou na União Europeia e passou a viver sob as mesmas regras de países como a Alemanha, cuja produtividade é muito superior.

Ao contrário da Inglaterra – que ingressou na União Europeia, mas não aderiu à moeda comum –, a Grécia aderiu ao euro e às regras do Banco Central Europeu, perdendo a possibilidade de corrigir seus déficits com o resto do mundo e sua baixa produtividade pela desvalorização da moeda nacional. Com isso, a única saída foi tentar resolver seus problemas por meio de empréstimos internacionais. Essa torneira foi fechada pelos bancos estrangeiros quando perceberam que o governo grego e a sociedade local não iriam apertar o cinto e fazer os sacrifícios necessários à reversão dos graves problemas.

No meio dessa confusão, o jovem Alexis Tsipras foi eleito primeiro-ministro com a promessa de não impor sacrifícios, não fazer reformas, não aceitar acordos com os credores e enfrentar todos os que exigissem medidas de austeridade. Tudo era festa, o eleito convocou um plebiscito nacional, o povo referendou suas bravatas eleitorais, até que o novo governante se deu conta de que a situação era muito mais grave, abandonou as promessas de campanha, contrariou o resultado do plebiscito e começou a aceitar negociações com os credores. A situação se agravou, os membros do partido do primeiro-ministro negaram-lhe apoio sob a acusação de ele ter sido eleito com outra plataforma, e o resultado foi a renúncia de Alexis Tsipras após sete meses no cargo.

A experiência grega e a trajetória de seu governo nos últimos dois anos encerram lições valiosas sobre os erros a evitar e quais políticas não dão certo. A situação do jovem primeiro-ministro grego tem paralelo com o drama atual da presidente Dilma, que viu sua popularidade despencar e perdeu boa parte do apoio conquistado, após prometer o paraíso na eleição e descumprir tudo dois meses depois. O Brasil tem muito o que aprender com a crise da Grécia, mas isso depende da capacidade da sociedade e do governo em aprender com os erros dos outros.

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