Bem-me-quer, malmequer. Era com uma margarida nas mãos que as crianças de antigamente davam-se à brincadeira de ir tirando uma a uma as pétalas de uma margarida cantando, alternadamente, “bem-me-quer”, “malmequer”. A última pétala era a decisiva: se nela caísse um “bem-me-quer”, era motivo de alegria para quem a tinha arrancado; ou de decepção e tristeza se coincidisse com um “malmequer”. Dilma, Lula e milhares de mulheres vindas de todos os recantos do país deram-se prazerosamente a esta brincadeira infantil nesta semana, em Brasília – com a diferença de que a última pétala foi tirada pelo contribuinte brasileiro: era um “malmequer”.
Quem pagou para que um segmento de militantes políticos simpático ao governo homenageasse o governo foi o próprio governo. Ou todos nós, os contribuintes
Aconteceu na 5.ª Marcha das Margaridas, evento liderado por organizações de esquerda ligadas ao Partido dos Trabalhadores. Nada contra a festa nem contra as manifestações que lá ocorreram a favor de Dilma Rousseff. Tudo isso faz parte das liberdades democráticas que garantem o direito de manifestação. O problema está em quem paga a festa.
Pois bem: para lotar o estádio Mané Garrincha, em Brasília, com 40 mil mulheres que enfrentaram viagens de ônibus provenientes dos extremos do país; dar-lhes pouso e comida; e custear todo o resto da logística necessária para a promoção de um evento deste porte, o governo não regateou recursos. Três estatais – Caixa Econômica, BNDES e Itaipu Binacional – se cotizaram para reunir quase R$ 900 mil empregados na festança a que compareceram, como homenageados e oradores, o ex-presidente Lula e sua sucessora.
Em outras palavras: quem pagou para que um segmento de militantes políticos simpático ao governo homenageasse o governo foi o próprio governo. Ou, em última análise, todos nós, os contribuintes, em boa parte descontentes com os rumos que o país tomou a partir das gestões de Lula e Dilma. Logo, não caberia a estes entrar com a cota-parte correspondente a seus impostos e sem seu prévio consentimento.
Louve-se o fato de que se tratou de uma manifestação pacífica, alegre. Ali, todas as pétalas eram de bem-me-quer, salvo pelas malmequer desfolhadas contra os inimigos de sempre e os adversários de ocasião – um dos refrões pedia a cabeça de Eduardo Cunha, nestes exatos termos. Mas pode-se dizer que uma festa assim, oficialmente promovida com o pretexto de defender os direitos das mulheres, foi uma exceção dentre tantas manifestações ocorridas em passado recente e que foram igualmente patrocinadas com recursos públicos.
Um exemplo: em fevereiro de 2014, cerca de 15 mil militantes do MST promoveram protestos em Brasília. Tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal (STF), causando a interrupção da sessão que lá dentro se desenrolava. Frustrados em seu intento de entrar no Supremo, os sem-terra dirigiram-se ao Planalto e promoveram um confronto com uma centena de policiais; armados com paus, pedras e até martelos, fizeram 30 feridos. Quem pagou pelo 6.º Congresso Nacional do MST, cujo “encerramento” foi justamente o quebra-quebra na Praça dos Três Poderes? O contribuinte, lógico, representado pela Caixa Econômica (R$ 200 mil), BNDES (R$ 450 mil) e, quem diria?, Petrobras, que arcou com R$ 650 mil. Depois da pancadaria, o então secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, não só arranjou um encontro dos sem-terra com Dilma como também disse que futuros eventos do MST continuariam a contar com patrocínio estatal.
Interessante notar é a afinidade político-ideológica que une Margaridas, o MST, o lulopetismo e o governo, advindo daí, certamente, a generosidade dos patrocínios oficiais. Assemelham-se tais casos a práticas hoje comuns na Venezuela, onde o governo organiza milícias para enfrentar com violência manifestações de rua contra o chavismo ou para dar segurança às festas populares “voluntárias” em favor do presidente Nicolás Maduro, aprendiz e sucessor de Hugo Chávez.
Nada disso é brincadeira inocente ou infantil. Tanto quanto as cartas marcadas por um crupiê de cassino clandestino, as pétalas da Festa das Margaridas também já estavam marcadas: as malmequer couberam, no fim, apenas para o contribuinte.
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