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editorial

Perdendo tempo

Os analistas internacionais estão perplexos com o fato de o Brasil ter passado de “queridinho” dos mercados para, em cinco anos de governo Dilma, descer à condição de “patinho feio” entre as nações emergentes em face de grave recessão econômica e empobrecimento social. Quando a crise financeira mundial iniciada nos Estados Unidos (EUA) em 2007 e agravada em 2008 começou a atingir a Europa e espalhou seus efeitos para quase todo o mundo, os mesmos analistas ficaram surpresos pelo Brasil ter se saído bem, sem problemas de insolvência de bancos. A boa resistência do Brasil levou o presidente Lula a vangloriar-se e dizer que aqui a crise era uma pequena marola.

O fato é que o Brasil estava com elevadas reservas internacionais em dólar, basicamente pelo bom desempenho das exportações sob a elevação dos preços das commodities exportadas, o Produto Interno Bruto (PIB) estava crescendo, a inflação estava sob controle, as contas fiscais estavam equilibradas e a dívida pública estava controlada em bom nível. Como o sistema bancário brasileiro é pouco integrado aos mercados financeiros internacionais, os bancos nacionais não tinham dinheiro aplicado nas instituições que vieram a falir, nem em outras que tomaram prejuízos com os títulos tóxicos vinculados às causas da crise.

O Brasil desperdiçou os anos de abundância em gastos perdulários e supérfluos no setor público

Nos últimos tempos, passados cinco anos do governo Dilma e em meio a uma profunda crise econômica, as causas de mudanças bruscas rumo ao fracasso e o empobrecimento da população começam a ser entendidos. O primeiro elemento foi o fim do ciclo de alta dos preços dos produtos brasileiros exportados e o fim da possibilidade de financiar a expansão interna com o dinheiro dos consumidores do resto do mundo. O segundo elemento foi a descoberta de que o Brasil desperdiçou os anos de abundância em gastos perdulários e supérfluos no setor público, não cuidou de aumentar a produtividade da economia e abandonou as propostas de reformas estruturais claramente necessárias.

Para piorar esse quadro, a presidente Dilma resolveu patrocinar uma invenção, à qual deu o nome de “nova matriz econômica” – na prática, o abandono do tripé que sustentou a política econômica de Fernando Henrique e do primeiro mandato de Lula: metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Esse tripé obrigava o governo a ter superávit primário (necessário para combater a inflação, evitar elevação da taxa de juros e impedir o crescimento da dívida pública), a fixar a meta da inflação e tomar as medidas para atingi-la, e deixar o preço do dólar flutuar segundo o desempenho do balanço de pagamentos (contas referentes às relações com o resto do mundo).

Pela tal nova matriz econômica, o governo Dilma represou preços de energia, combustíveis e transportes, estourou as contas do governo, criou déficits fiscais elevados, descuidou do controle da inflação, deixou a dívida pública subir, não fez reformas estruturais e, ajudada pela crise internacional, viu o país descer ano a ano e terminar numa recessão gravíssima. Para piorar tudo, a crise política, as confusões nas empresas estatais, a descoberta de corrupção em alta escala e a perda de apoio no Congresso levaram o governo a perder poder de manobra e de ação.

Um dos problemas derivados da crise é que o Brasil está perdendo tempo precioso, vendo a população crescer e a economia diminuir. Já entramos no último mês do primeiro trimestre deste ano e nada indica que algo vai mudar tão cedo. O país está parado e arrisca perder também o ano de 2016.

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