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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Pouco mais de uma semana depois de o governo federal ter comemorado o pequeno crescimento da economia brasileira em 2017, de apenas 1% na comparação com 2016, o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) surpreendeu alguns setores ao divulgar o desempenho econômico do estado. Pelos números do Instituto, o Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná cresceu 2,5% no ano passado, mas que o dobro da média nacional.

Considerando a “época de vacas magras”, em que o estado vinha de uma queda de 3,4% em 2015 e 2,3% em 2016, a taxa de expansão trouxe ânimo e está servindo para aumentar a confiança dos setores produtivos. Mas quando os números são analisados com detalhes, muitos economistas preferem colocar os “pés no chão” e não descartam solavancos na caminhada para um ciclo maior de crescimento.

A cautela se deve ao fato de que o PIB paranaense foi fortemente impactado pelo desempenho da cadeia do agronegócio, esse sim surpreendente, enquanto outros setores obtiveram resultados bem mais modestos. O setor primário, que compreende a agricultura e a pecuária, teve um salto de 11,5%.

ENTENDA:o que é Produto Interno Bruto, o famoso “PIB”

“Em 2017 o Brasil teve um crescimento do setor agroexportador muito forte. Como no Paraná esse segmento tem um peso grande, o efeito acabou levando a um crescimento significativo do PIB. É um efeito setorial, essa é a primeira coisa a ser observada. Não podemos associar esse crescimento a políticas públicas”, avalia Marcelo Curado, professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, vai na mesma linha. Ele observa que o estado teve uma safra agrícola muito boa e o mesmo aconteceu com a pecuária, no setor de aves, o que possibilitou crescimento nas exportações desses produtos e, consequentemente, um impacto positivo no PIB.

Em 2017 o Brasil teve um crescimento do setor agroexportador muito forte. Como no Paraná esse segmento tem um peso grande, o efeito acabou levando a um crescimento significativo do PIB. É um efeito setorial, essa é a primeira coisa a ser observada. Não podemos associar esse crescimento a políticas públicas

Marcelo Curado professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

“Como os preços internacionais das commodities não despencaram, a expansão de 2,5% do PIB do Paraná tem uma explicação técnica”, pontua Pio Martins ao fazer um alerta: “Você pode ter aumento da produção de um produto agrícola, mas ainda assim o PIB agrícola pode cair. Isso porque depende de preços. O inverso também é verdadeiro, ou seja, você pode ter baixa na produção e o PIB não sofrer queda por causa de um aumento de preços”.

Menos cauteloso, Marcelo Percicotti, gerente de Economia da Fiep, ressalta a reação da indústria, depois de anos seguidos de queda. O setor industrial teve crescimento de 1,8% no ano passado, com expansão significativa no último trimestre, de 2,2%. “O resultado reflete a força econômica do Paraná, caracterizada pelo dinamismo industrial e o agronegócio, com a presença de empresas relevantes, que fazem com que o estado sempre consiga se destacar quando há uma retomada da economia do país”, diz.

Para Percicotti, a reação da indústria ocorreu graças à estratégia de empresas de exportação. “Os setores que tiveram uma boa estratégia para explorar o mercado externo, caso da indústria automotiva, metal mecânica e celulose e papel, tiveram uma retomada mais vigorosa”, avalia.

De outro ponto de vista, o diretor-presidente do Ipardes, Julio Suzuki Junior, defende que a diferença do PIB do Paraná com a média nacional se deu pela retomada da indústria e o desempenho razoável dos serviços. “A agropecuária foi o grande vetor do crescimento em 2017, mas o que fez a diferença em relação ao Brasil foi o bom desempenho tanto da indústria quanto dos serviços”, afirmou.

Ambiente de negócios, infraestrutura e muitos impostos travam expansão

O crescimento da economia paranaense acima da média nacional em 2017 foi comemorado pelo governo e setores empresariais, mas para praticamente a unanimidade dos analistas o resultado poderia ter sido mais vigoroso não fossem as dificuldades impostas ao setor produtivo do estado. Entre os inúmeros pontos que impediram uma expansão maior da atividade econômica paranaense podem ser destacados o acesso a créditos para investimentos, os altos impostos à produção, infraestrutura deficiente e problemas no ambiente de negócios.

“É preciso ter um conjunto de elementos institucionais que favoreça o empreendimento. E nesse rol entra uma série de medidas de melhoria para o ambiente de negócios, o que nós chamamos de reformas macroeconômicas. São medidas, por exemplo, para facilitar a abertura e fechamento de empresas, redução no tempo de demandas judiciais e logística”, diz Marcelo Curado, professor do Departamento de Economia da UFPR.

Para Curado, outro ponto fundamental é a infraestrutura. “Isso depende do setor público. Se o Estado não tem recursos para investir, ele precisa passar isso para o setor privado. Também depende de reduzir a burocracia do setor público”, acrescenta.

Os setores que tiveram uma boa estratégia para explorar o mercado externo, caso da indústria automotiva, metal mecânica e celulose e papel, tiveram uma retomada mais vigorosa

Marcelo Percicotti gerente de Economia da Fiep

O economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, aponta três problemas principais que impedem um crescimento maior da economia paranaense no momento. “A estrutura portuária precisa melhorar muito, não pode continuar numa situação em que caminhões ficam até três dias na fila. Nos Estados Unidos não passa de três horas. O segundo ponto é a estrutura física, que ainda é muito estatal e a contribuição do setor público na expansão dessa estrutura é baixa. Por fim, a terceira questão, é o relacionamento do estado com os países do Mercosul. O Paraná tem fronteira com a Argentina e o Paraguai, além do Uruguai que é bem próximo e faz divisa com o Rio Grande do Sul”, observa Pio Martins.

O economista Marcelo Percicotti, gerente de Economia da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), concorda com todas as questões levantadas por Marcelo Curado e Pio Martins.

“Nós temos amplos estudos que confirmam exatamente esses pontos como barreiras para a economia paranaense avançar com mais vigor. “Os principais entraves são exatamente esses apontados, a alta carga tributária, a burocracia – com uma estrutura que custa caro para a sua manutenção –, os problemas de logística e de infraestrutura, além das dificuldades de acesso ao crédito e o ambiente não muito favorável aos negócios”, resume.

Percicotti ressalva que esses são fatores externos à gestão da empresa, mas que afetam diretamente na capacidade competitiva das companhias.

Entendendo o PIB

Quando se fala de Produto Interno Bruto (PIB) muitas pessoas têm dúvidas sobre como é feito o cálculo para se chegar aos números. O economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, tem uma explicação que facilita o entendimento.

“O Produto Interno Bruto é soma dos bens e serviços ‘finais’ produzidos em um ano no país, se for nacional, ou no estado, no caso do Paraná. Essa expressão ‘finais’ é muito importante para compreender. Quanto você pega a produção de pão, o que a sociedade tem é o pão, mas antes tem a padaria que industrializou o pão, tem o moinho de trigo, tem a fazenda que produziu o trigo, antes da fazenda tem o produtor. Essa cadeia toda termina num produto final. Então o PIB é soma dos bens e serviços finais dado em uma expressão monetária. Como não dá igualar litros de leite, com toneladas de soja e pães, por exemplo, é preciso exprimir este produto em valores monetários. Essa expressão monetária são os preços. Você mede o PIB pelos preços correntes no ano”, explica o professor.

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