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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A mudança mais recente na Paranaprevidência, que culminou na batalha do Centro Cívico e descapitalizou o fundo em R$ 3,8 bilhões, prejudicou intensamente sua sustentabilidade, mas não foi a intervenção mais grave que o sistema enfrentou. Na opinião do procurador do Ministério Público de Contas do Paraná Gabriel Guy Léger, sucessivas mudanças promovidas em diferentes governos explicam a insolvência do fundo, que não terá nenhum centavo para pagar aposentadorias a partir de 2047, caso seja mantido o modelo atual.

OUTRO LADO: Veja o que diz a Paranaprevidência a respeito dessa análise pessimista

Segundo Léger, o que tem ocorrido é um “roubo” aos recursos previdenciários. “Não precisa ser a mão armada para ser roubado. Temos aqui o caso de um assalto a mão legislativa”, afirmou, durante palestra em um seminário sobre previdência, organizado pelo sindicato dos servidores do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) e pela federação nacional da categoria.

O procurador afirma que o TCE tem feito seu papel de fiscalização, mas que fica de mãos amarradas porque as intervenções que prejudicam o fundo são aprovadas pelos deputados estaduais. “O tribunal se pauta pela lei, não pode desconsiderar o panorama legislativo estadual. Há uma violação à modelagem constitucional, e há muitas ações questionando isso no Supremo, mas, como o Supremo está atribulado com outras coisas, não as julga”, relata.

De todas as intervenções na Paranaprevidência, Léger aponta três que considera mais grave, ressaltando que é sua opinião como procurador, não do TCE. “Em primeiro está a falta de composição do fundo de previdência com a paridade de, vamos simplificar, 10% cota patronal, 10% servidores. Ou seja, 20% da folha seria para compor um fundo de previdência. Nunca foi feito”, conta. Ele critica a previsão de o governo aumentar a alíquota até 20% nos próximos anos, considerando que não conseguiu contribuir nem com 10%.

Avaliação diferente

Por outro lado, o analista de controle do TCE Mário Antonio Cecato, que também deu palestra no evento, fez uma ressalva à análise pessimista do procurador Gabriel Guy Léger. “Segregar está sendo danoso. Por outro lado, que alternativa havia? Há solvência por quase três décadas. Está ruim, mas está bom”, afirmou.

Em segundo lugar está a negociação que o governo de Jaime Lerner fez em 2000, quando antecipou a receita de 20 anos dos royalties de Itaipu e usou para capitalizar o fundo. “A negociação não foi economicamente vantajosa para o estado, que trocou os 20 anos para receber em 15 anos, mas abriu mão de 53% do valor”, apontou. Ou seja, ganhou cinco anos, mas recebeu só metade do que teria direito. “Além disso, o estado passou a considerar esse pagamento de royalties como se fosse a cota patronal. Não passou a cota patronal. Aquilo que deveria ser receita extraordinária para formar uma poupança só compensou o débito do governo”, acrescentou.

Por fim o procurador cita as mudanças promovidas em 2015 pela gestão de Beto Richa. “A segregação de massas em 2012 já tinha sido ruim, mas a de 2015 foi a mais prejudicial.” A segregação de massas prevê a separação dos segurados em dois grupos distintos, um coberto pelo fundo financeiro e outro pelo fundo previdenciário.

O que é questionado é que a Lei Estadual nº 18.469/2015 transferiu do Fundo Financeiro para o Previdenciário 33,5 mil inativos que até então eram pagos pelo Tesouro. O governo então deixou de aportar na previdência os valores correspondentes a esses funcionários e passou a sacar cerca de R$ 145 milhões da Paranaprevidência, com data retroativa a janeiro de 2015. Essa operação é que “derreteu” o patrimônio do sistema em R$ 3,8 bilhões, segundo cálculo do consultor Renato Follador, um dos idealizadores do órgão criado em 1998.

Paranaprevidência diz que mudanças legislativas reforçarão caixa

A respeito das previsões que apontam que não haverá dinheiro para pagar aposentadorias em 30 anos, a direção da Paranaprevidência destacou que as mudanças aprovadas em 2012 e 2015 preveem recursos ordinários e extraordinários no futuro para reforçar o caixa. “A partir de 2030, o estado fará o aporte de 1% do total mensal da folha de pagamentos do Fundo de Previdência, acrescido de mais 1% ao ano a partir de 2031, até o limite de 22% de 2051 em diante. O governo do estado também assumiu compromisso de pagamento de uma alíquota progressiva para o Fundo de Previdência”, diz nota enviada à reportagem. Atualmente, a alíquota do estado é de 16,5%. “O estado vai, progressivamente, chegar ao repasse de 22%, assegurando recursos necessários para o pagamento de benefícios no futuro.”

Além disso, há previsão de destinar em 2020 R$ 1 bilhão dos royalties de Itaipu para a Paranaprevidência. “Além disso, há uma obrigação legal, prevista pela constituição, de que o estado tem que fazer os aportes necessários sempre que seja preciso garantir o equilíbrio do Fundo de Previdência ou para assegurar o pagamento das aposentadorias e pensões de seus servidores”, finaliza a nota.

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