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O governador de São Paulo, João Doria, e o do Rio de Janeiro, Wilson Witzel
O governador de São Paulo, João Doria, e o do Rio de Janeiro, Wilson Witzel| Foto: Divulgação / Equipe João Doria

Os governadores dos dois estados mais ricos do país têm se movimentado para viabilizar seus nomes como candidatos nas eleições presidenciais de 2022. João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro, alternam declarações públicas e ações de bastidores no sentido de sucederem Jair Bolsonaro (PSL) - a quem apoiaram na disputa de 2018.

Os posicionamentos dos dois gestores são vistos com um misto de crítica e desconfiança entre integrantes da direita e de grupos conservadores. O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), disse considerar “muito cedo” qualquer debate sobre a sucessão presidencial. “É uma discussão muito precipitada. O MBL ainda não está falando sobre o assunto”, disse.

Já dentro do PSC, a eventual candidatura de Witzel é tratada como uma possibilidade concreta de levar o partido à presidência da República. O triunfo do governador em 2018 é citado como um estímulo para a candidatura - durante os meses que antecederam a eleição, Witzel não era citado entre os favoritos. “Mas nós tínhamos pesquisas internas que apontavam a possibilidade concreta de crescimento da candidatura”, declarou um deputado federal do partido. O PSC não teve, desde a redemocratização, candidaturas presidenciais competitivas. No ano passado, o partido cogitou lançar o nome de Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES, que acabou compondo a chapa de Alvaro Dias (Podemos).

“Ingratidão” em pauta

Além da ideia - ainda distante - de presidir a República, o que une Doria e Witzel é a relação de ambos com Bolsonaro. Em 2018, os dois governadores estiveram ao lado do atual presidente, em especial no segundo turno da corrida eleitoral. Doria chegou a cunhar a marca “#Bolsodoria” e foi criticado por membros do seu partido por supostamente não ter se empenhado pelo correligionário Geraldo Alckmin no primeiro turno.

Já Witzel teve como um dos momentos mais marcantes de sua campanha a ocasião em que esteve em um trio elétrico ao lado dos então candidatos a deputado pelo PSL Rodrigo Amorim e Daniel Silveira, que haviam quebrado uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), morta em uma emboscada em março de 2018.

Apesar da afinidade ideológica demonstrada na última campanha presidencial, Witzel e Doria têm feito críticas públicas a Bolsonaro nos últimos meses. Doria chamou o discurso de Bolsonaro na Organização das Nações Unidas (ONU) de “inadequado” e “inoportuno”. Witzel contestou a “liderança e capacidade de entendimento” do presidente e também criticou a fala de Bolsonaro sobre o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que morreu durante o regime militar.

Além das declarações, os governadores empreendem articulações para “tatear” a viabilidade dos projetos presidenciais. Witzel, segundo reportagem do portal G1, estaria se aproximando do PP e do DEM - a movimentação também indicaria o seu esforço em se ver como um político mais de centro, algo que o distinguiria de Bolsonaro. Doria, de acordo com reportagem de O Estado de S. Paulo, busca trazer o MDB para a sua gestão em São Paulo, também em um esforço de aproximar a sigla de seu projeto presidencial.

Enquanto isso, há a gestão do Rio

A declaração pública mais incisiva de Witzel no distanciamento de Bolsonaro - quando ele disse que não creditaria a sua eleição ao presidente e que gostaria de sucedê-lo no Planalto - levou o PSL do presidente a anunciar a retirada do partido da base do governador no Rio. A decisão foi encabeçada pelo senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente e dirigente do PSL fluminense.

O rompimento gerou contestações dentro do PSL, com reações de integrantes do partido contra a postura de Flavio. Integrantes locais da legenda se recusaram a deixar a gestão Witzel, e a distensão acabou não indo adiante.

O deputado federal Ricardo Pericar (PSL-RJ) disse considerar “pacificada” a questão entre PSL e PSC. “A imprensa quis criar problema entre os dois lados, mas não há mais ruídos”, disse. O parlamentar também afirmou ver como muito precipitado o debate sobre a as eleições presidenciais de 2022 - mas identificou favoritismo de Bolsonaro para a disputa.

Divisão da direita?

A citação de Witzel e Doria como pré-candidatos a presidente em 2022 abriu também a discussão sobre se os governadores estariam “dividindo a direita”, logo em um momento em que a ala venceu a eleição presidencial e formou bancadas expressivas pelo país.

“A pretensão dele [Witzel] é legítima, ele pode se apresentar. Mas seria melhor contarmos com ele do nosso lado. É uma divisão que pode acabar beneficiando a esquerda”, afirmou o deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS). O parlamentar, entretanto, não vê força eleitoral suficiente no governador do Rio para disputar a presidência: “Bolsonaro fará um governo muito forte”.

O deputado do PSC que conversou reservadamente com a Gazeta do Povo ressaltou que não vê no partido preocupação em torno do tema. “Não há uma discussão quanto a isso quando se fala da candidatura. É um projeto pessoal. E que eu considero muito precipitado. É simplesmente impossível prever o cenário da próxima eleição. Até porque antes disso temos ainda a eleição municipal”, disse.

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