Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal
Com estas palavras, despeço-me do ano que se encerra junto aos leitores, nesta casa que me é tão querida, o Instituto Liberal, certo de que teremos ainda muito o que construir naquele que se inicia. Em paralelo aos votos de uma excelente transição de ano, pensei de que maneira poderia encerrar o ciclo deste 2017 e abrir portas ao decisivo ano de 2018 – que deve ser recebido, válido ressaltar, não como a panaceia absoluta, não como a determinação intransponível de nosso futuro, mas como um encaminhamento extremamente importante de qual será a resolução da atual e tormentosa quadra histórica. Eis o resultado abaixo.
Não digo à-toa que é tempo de escolher. Não é sem razão a paráfrase do discurso de Ronald Reagan, A Time for Chooshing. Disse o grande líder americano em 1964: “Os Pais Fundadores sabiam que um governo não pode controlar a economia sem controlar as pessoas. E eles sabiam que quando um governo se prepara para fazer isso, deve usar a força e a coerção para alcançar o seu objetivo. Chegamos ao momento da escolha”. A escolha, leitor, entre o razoável e o irrazoável; entre o responsável e o irresponsável; a liberdade e a escravidão. Como os mesmos pais fundadores dos EUA lembrariam, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”; em 2018, ainda se trata, no Brasil, e talvez mais do que nunca, da mesma grande decisão.
2017 sucedeu um ano marcado, no mundo, pela campanha que alçou Donald Trump à presidência do gigante do norte. Também sucedeu o ano do Brexit, dando sequência a uma fase em que as contradições contemporâneas do poder nacional e dos grandes corpos burocráticos como a União Europeia deram seus sinais mais claros. 2017 foi marcado por novos atentados, novas insinuações do ódio fundamentalista islâmico contra as bases do Ocidente; em particular, também, pelo acirramento das tensões com o perigo nuclear da Coreia do Norte e por investidas mortais contra o ISIS. A definição do que virá a ser o século XXI está em pleno curso.
Nesse imenso jogo, está o Brasil. Infelizmente, patinando, inconsciente de suas possibilidades e destinos, navegando nas consequências de seus desatinos. Em 2016, nosso povo despertou para soterrar o projeto de um regime autoritário, uma nau desgovernada que vinha sendo conduzida pela mandatária mais obtusa e destrambelhada da história com pretensões nocivas aos nossos valores e nossas liberdades. O impeachment pôs fim à era PT; mas os estragos eram muito mais enraizados para serem eliminados em passe de mágica, e eles apenas se somam, como diria o professor Ricardo Vélez Rodríguez, a vícios crônicos que já de há muito acompanham nosso edifício político-cultural patrimonialista.
O curto governo Temer, atendendo às prerrogativas constitucionais, seguiu adiante por todo o ano de 2017 e, ao que tudo indica, chegará até o final do ano que vem, ainda que talvez em poucas condições de fazer algo de mais significativo sob a pressão do calendário eleitoral. Não foi por falta de tentativas de derrubá-lo; aqui, parece-me de bom tom, em clima de fim de ano, me desculpar por um erro. Assim que Lauro Jardim divulgou o conteúdo do famoso áudio de Joesley Batista conversando com o presidente, reagi de imediato, por temor de mais um longo processo político, defendendo que o presidente deveria sair. Fui duro, mas imperdoavelmente afobado; não poderia ter tirado conclusões com base apenas no que Jardim reportou. Ainda assim, não considero a conversa divulgada nem um pouco civilizada e ainda acredito que, no mínimo, a chapa deveria ter sido cassada pelo TSE, o que na prática determinaria a queda de Temer, por uma questão de justiça.
Michel Temer não é um herói e fez parte, junto a seu grupo político, da base de sustentação do lulopetismo. Não haveria Lula e Dilma por 13 anos sem o PMDB. Não terão, portanto, nem o presidente, nem seu grupo, meus aplausos e meus parabéns por estarem consertando a desgraça que ajudaram a fazer. Contudo, cabe reconhecer que, para os padrões dos governos brasileiros, eles estão fazendo um bom trabalho em retificar o apocalipse petista. Os números já mostram a comida voltando à mesa de muitos por menor preço, inflação em queda, volta regular de atividade na economia.
A conduta economicamente mais responsável da equipe técnica de Meirelles, o teto de gastos, a reforma do Ensino Médio – com direito a recente pronunciamento do ministro Mendonça Filho enfatizando a inexistência de “ideologia de gênero” na Base Nacional Comum Curricular – e a reforma trabalhista são algumas das evidências de medidas promissoras do governo. Também podemos ter assistido, e esperamos que não haja retrocessos, ao fim do imposto sindical – uma excrescência da qual o Brasil não se livra desde a Era Vargas. O cidadão brasileiro pode ver uma porta de esperança no fim do túnel.
Nem tudo são flores. Ainda temos um número inaceitável de ministérios e uma ministra de Direitos Humanos que ofendeu a população afirmando que seu polpudo salário torna seu trabalho similar ao escravo. A quantidade esperada de privatizações até agora não saiu. A Reforma da Previdência ficou para fevereiro e paira ceticismo sobre a possibilidade de ser aprovada. O governo está cheio de políticos fisiológicos e implicados em investigações no âmbito da Operação Lava Jato e quejandas, entre eles o próprio presidente; apesar, portanto, do mérito em levar adiante reformas inevitáveis e importantes, eles não têm credibilidade junto à população, demonstram deficiência na capacidade de se comunicar com ela e estão constantemente acuados pela Justiça.
Muitos graúdos presos, muitos sob ameaça, particularmente no meu Rio de Janeiro. A Lava Jato segue adiante e ainda espera, para 24 de janeiro que vem, o impactante resultado do primeiro processo concluído contra o ex-presidente Lula. Insegurança institucional também existe, com ministros do STF se digladiando e riscos constantes de uma perigosa e autoritária “judicialização” da vida política. Paira nebulosidade sobre a continuação da crise que, ainda que viva momento de aparente “calmaria”, deve voltar a explodir no clima das primeiras eleições depois da implosão do esquema de poder da estrela vermelha.
2017, porém, também foi marcado pela reação na vida cultural brasileira. Filmes sobre filósofos conservadores em universidades, desafiando a truculência dos radicais. A sociedade comum erguendo o dedo contra bizarrices “artísticas” patrocinadas pelo Estado. Uma discussão viva sobre agendas que desafiam a nossa maneira de viver. Imaturidades houve e são de se lamentar, mas ao mesmo tempo, estes são capítulos positivos de tomada de atitude em uma batalha que finalmente começou a ser travada – com anos, muitos anos de atraso.
Em 2018, teremos várias escolhas fundamentais a fazer. Uma, sobre quem colocaremos no Palácio do Planalto a partir de 2019, com a missão de tomar as medidas drásticas necessárias para dinamizar a vitalidade econômica, devolver nossa dignidade e conseguir comunicar tudo isso ao nosso povo; com a missão de ajudar a conter o derramamento de sangue absurdo que aumenta em níveis inadmissíveis a possibilidade de cada um de nós não ver com os olhos da carne o ano que virá a seguir, sob o impacto fatal do crime sem punição.
Porém, também outras. As escolhas para o Legislativo. As escolhas daqueles que realmente conduzirão adiante as pautas que tanto reivindicamos, defendendo-as da tribuna de um dos poderes mais importantes da nossa combalida República. As escolhas dessas mesmas pautas, das agendas, das bandeiras que defenderemos – e onde defendermos, posto que há muitos espaços a ocupar.
Aquilo de que o Brasil precisa não será obra de um homem só, e nem de um ano só. 2018 não trará milagres, e a essa altura já sabemos disso, e não importa quantos fogos iluminem o céu de Copacabana. Nós faremos a diferença. O indivíduo tem muito poder, mas precisa trabalhar com os outros indivíduos. A vida, a decência, a dignidade, a liberdade, têm pressa. A responsabilidade é nossa de marcar um encontro com elas. Sejamos pontuais.
Feliz ano novo!
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