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É a miséria espiritual que leva ao crack, não a conta bancária
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rebati aqui o comentário feito pelo Dr. Drauzio Varella, reduzindo a questão da Cracolândia ao saldo em conta bancária, como se a miséria fosse a causa de todos os males do mundo. Trata-se de uma visão típica da esquerda materialista, mas totalmente equivocada. O consumo de drogas, aliás, andou pari passu com o enriquecimento da sociedade, já que a afluência não garante o preenchimento espiritual de uma vida.

Ao minar as religiões e a família, e delegar tudo ao estado paternalista, a própria esquerda incentivou esse estado deplorável que vemos hoje por todo canto. Deus e família são, para a maioria, os pilares que sustentam a vida, que dão sentido a ela, que alimentam a alma. E nem só de pão vive o homem, ao contrário do que pensam os marxistas.

Dois casos descobertos recentemente de “usuários” (eufemismo para viciados) de crack mostram bem esse ponto, ignorado pelo simplismo materialista de Drauzio Varella. No primeiro, vimos com profunda consternação o irmão de Suzane von Richthofen ser retirado da Cracolândia:

Com escoriações pelo corpo e desorientado, Andreas Albert von Richthofen, único irmão de Suzane von Richthofen, condenada pelo assassinato dos próprios pais, foi internado na madrugada desta terça-feira no Hospital Campo Limpo. Segundo funcionários do hospital, ele teria sido detido por policiais militares quando tentava pular o muro de uma residência em uma área frequentada por usuários de crack.

Cheguei a desabafar no meu Facebook, apesar de condenar o vitimismo presente nas narrativas de esquerda:

Nem sei o que dizer. Esse garoto sim, é uma pobre vítima. Sua irmã monstruosa destruiu toda uma família, matou seus próprios pais, e matou o irmão em vida com isso. E a “Justiça” brasileira ainda solta uma assassina dessas com indulto no DIA DAS MÃES, que é para aumentar o escárnio. É de revoltar cada tripa do corpo. Só espero que ele consiga sair dessa, descobrir algum sentido para a vida, a vontade de viver. Era sem dúvida o que seus pais gostariam nesse momento.

Certamente ele precisa resgatar a noção de volição, de que seu futuro depende de suas próprias atitudes, retomar as rédeas de sua vida. O vitimismo faria com que ele ficasse preso na armadilha do mimimi, sem condições de sair dessa. Não será fácil, claro, pois seu sofrimento foi demais da conta. Mas eis o que escapa à esquerda: sua condição não tem absolutamente nada a ver com a conta bancária. Não é um problema de dinheiro, mas de espírito.

E o mesmo vale para o segundo caso. Um ex-aluno do Colégio Santo Inácio, um dos melhores do Rio, foi visto em vídeo e reconhecido pelos colegas, que agora se unem para tentar ajudá-lo:

A imagem no vídeo exibido na página A Craco Resiste, grupo que auxilia viciados que perambulam pelas ruas da Cracolândia em São Paulo, mostra um homem de traços ruivos, barba entremeada com fios brancos, tocos de dentes na boca e um discurso meio embolado, sinal do uso contumaz de drogas. As palavras, porém, denotam um vocabulário sofisticado e bom nível cultural. Articulado, fala em tom jocoso sobre o prefeito paulistano, João Dória (a quem chama de “perfeito”), ri do fato de não escovar os dentes há oito anos e conta que toma banho a cada dez dias. “Não tenho cecê nem mau hálito, porque o meu ph é muito alto”, diz exibindo o sorriso banguela.

Divulgado na semana passada, em meio à confusão detonada pela intervenção da prefeitura e do governo do estado de São Paulo na região, o vídeo chamou a atenção de um amigo, hoje executivo de uma empresa de tecnologia. Em seu perfil no Facebook, ele publicou um apelo em que pede ajuda para localizar o homem, na verdade Carlos Eduardo de Albuquerque Maranhão, de 46 anos, seu amigo de classe no Colégio Santo Inácio, em Botafogo. No texto, recorda que Maranhão, também conhecido entre a meninada como “Sarda” ou “Jesus”, morava em um casarão no Alto do Jardim Botânico, região onde fica a mansão do ex-bilionário Eike Batista.

Pois bem: diante desses dois casos chocantes, mas nem de perto isolados, só podemos questionar se o Dr. Drauzio Varella pretende rever seu ponto de vista materialista/marxista, resumido à perfeição nessa sua colocação:

A menos que o médico estivesse se referindo à miséria espiritual, e não à material, sua visão não faz sentido, é até preconceituosa e elitista. O que leva muita gente às drogas é a miséria da alma, o niilismo, a falta de sentido para a vida, famílias desestruturadas. Criar uma “bolsa crack” para dar dinheiro a esses viciados é a pior forma de lidar com a questão. Niall Ferguson, em A grande degeneração, bate nessa tecla da perda de sentimento de cidadania como consequência do “welfare state”:

Como Tocqueville, acredito que o ativismo local espontâneo por parte dos cidadãos é melhor que a ação estatal centralizada não só pelos resultados, mas – o que é mais importante – pelo efeito que isso tem sobre nós como cidadãos. Pois a verdadeira cidadania não se resume a votar, garantir o sustento e andar dentro da lei. Também consiste em participar do “bando” – o grupo que vai além de nossas famílias -, que é precisamente onde aprendemos a desenvolver e implementar regras de conduta: em suma, a governar a nós mesmos. A educar nossos filhos. A cuidar dos indefesos. A combater o crime. A manter as ruas limpas.

Infelizmente, a esquerda é parte do problema, não da solução. Ataca todos os pilares que poderiam evitar a aproximação da juventude com as drogas, inclusive as enaltecendo muitas vezes ou protegendo traficantes. O materialismo, o paternalismo estatal, o enfraquecimento da família, a “morte” de Deus, a destruição da cidadania patriótica, são esses os principais fatores que costumam levar alguém por esse caminho de fuga desesperada. Esqueçam o saldo no banco, pois isso não tem nada a ver com o assunto.

Rodrigo Constantino

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