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Eles não querem largar o osso: o liberalismo é pró-mercado, não pró-negócio

Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

O presidente da Mercedes-Benz para o Brasil e América Latina, Phillip Schiemer, afirmou nesta terça-feira, 28, em São Paulo, que, caso ocorra uma abertura do mercado automotivo, com redução de alíquotas de importações, como sugere relatório do Banco Mundial divulgado na semana passada, quase todas as indústrias fecharão. “Sem dúvida, se amanhã abrirmos o mercado, as portas de quase todas as indústrias aqui podem se fechar.”

O estudo cita especificamente o “Inovar-Auto”, programa iniciado no Governo Dilma, direcionado ao setor automotivo. Condenado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), o “Inovar-Auto” obteve resultados “questionáveis” sobre a produção, a produtividade e o emprego, de acordo com o Banco Mundial.

Ontem, falei sobre o choramingo do presidente da CSN e diretor da FIESP sobre a perda de algumas benesses. Hoje, é a vez do presidente de outra grande empresa fazer chantagem. Preparem-se, pois essa mistura de choro e ameaças do empresariado tupiniquim vai ser muito comum daqui para frente, caso o governo (atual e futuros) comece a levar a sério uma agenda liberalizante para a economia de Pindorama.

Adam Smith, de forma bastante didática, dizia que “O interesse dos empresários, em qualquer ramo particular de comércio ou fabricação, é sempre em alguns aspectos diferente, e mesmo o oposto, do interesse do público. Ampliar o mercado e reduzir a concorrência será sempre o interesse dos empresários.” Ademais, dizia o mestre, como “O consumo é o único fim de toda a produção, o interesse do produtor deve ser atendido apenas na medida em que seja necessário promover o do consumidor.”

Já Bastiat ensinou que a preferência dos seres humanos pela abundância ou pela escassez varia de acordo com as suas circunstâncias. Quando somos compradores, nossa preferência é sempre pela abundância, que significa maior variedade e menores preços. Quando somos vendedores, por outro lado, nossa preferência é pela escassez, que significa menos concorrência e maiores preços.

Tenho certeza que o presidente da Mercedez-Benz, Phillip Schiemer, gostaria que o mercado de autopeças fosse o mais aberto possível, para que os insumos que adquire para seus produtos fossem abundantes, baratos e de qualidade. Porém, quando o assunto é o mercado de veículos que ele fabrica, sua preferência, como fica claro na matéria do Estadão, será sempre pela escassez, que significa menos concorrência e maiores preços.

Como bem sabiam Adam Smith e Bastiat, frequentemente os maiores inimigos do livre mercado não são aqueles jovens socialistas barbudinhos, vestidos com a camiseta vermelha estampando a face do Che Guevara – os quais muito pouca gente leva a sério, principalmente depois da queda do Muro de Berlim. Os oponentes reais do livre mercado são os grandes líderes empresariais que, em público, não raro enaltecem as virtudes da competitividade e da soberania do consumidor, enquanto tratam de tentar eternizar os privilégios de suas respectivas indústrias, através do favorecimento contínuo dos governos em suas áreas de atuação. Até porque, gerir um negócio dentro de um sistema aberto e competitivo é muito difícil e arriscado. Fazer lobby junto a políticos e burocratas é muito mais fácil e seguro.

Infelizmente, muita gente supõe que a defesa do livre mercado envolve uma agenda “pró-negócios”, o que é totalmente falso. O fato de os liberais defenderem o empreendedorismo leva as muitas pessoas a acreditar que defendemos interesses empresariais. Na verdade, defendemos a liberdade de mercado, as transações voluntárias e o intervencionismo mínimo possível. Fazemos isso não pensando nos interesses das grandes corporações, mas porque acreditamos que mercados livres são a melhor opção para consumidores, trabalhadores e a economia em geral.

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