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Fundador da XP Investimentos escreve mensagem de esperança
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Não é fácil empreender. No Brasil, então, é missão quase impossível. É que não só as instituições jogam muitas vezes contra, com o excesso de burocracia, carga tributária complexa e elevada, mão de obra pouco qualificada, privilégios para os “amigos do rei”, insegurança jurídica, infraestrutura capenga e tudo mais que configura aquilo que chamamos de “custo Brasil”, como ainda há o fator cultural, num país que tende a menosprezar o capitalismo e o lucro e olhar para o estado como um messias salvador.

Mas mesmo diante de todos esses obstáculos, há quem siga em frente, quem vá adiante apesar das barreiras que parecem quase intransponíveis. São esses os verdadeiros heróis do Brasil. E as histórias de sucesso deveriam virar livros, filmes, os empreendedores deveriam virar nomes de ruas no lugar de políticos e até ditadores, para que a mentalidade possa mudar, e o povo passe a valorizar mais aqueles que criam riquezas, em vez de aqueles que só falam em distribuir riquezas – normalmente de olho num naco gordo como “pedágio”.

Para empreender no livre mercado, é preciso criar algo de valor – sob a ótica do próprio consumidor. E aqui está o xis da questão: quando o sucesso vem do mercado, de transações voluntárias, é porque o cliente está votando com o bolso, está dizendo que ficou satisfeito com o novo produto ou serviço. E no caso dos investimentos, muitos que ficavam antes nas mãos dos gerentes dos grandes bancos, com todos os conflitos de interesse que isso gera, passaram a ter acesso a toda uma gama de alternativas por meio da XP Investimentos.

O processo de “desbancarização” se tornou uma realidade tão avassaladora que o maior de todos os bancos, o Itaú, acabou comprando uma grande fatia daquele novo concorrente que incomodava cada vez mais. Se não pode derrotá-los, junte-se a eles: o bancão de Setúbal seguiu essa lógica e achou melhor ter acesso ao fruto do sucesso dos jovens empreendedores por trás da XP, ainda que como investidores, sem o controle da operação.

O fundador da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, hoje é um empreendedor de sucesso, rico, sócio do Itaú, que aceitou pagar R$ 6 bilhões pela metade do negócio. Mas olhando assim é fácil esquecer como tudo começou, com dois jovens rapazes distribuindo panfletos nas ruas e dando cursos sobre investimentos para pouca gente que poderia se tornar cliente depois.

O próprio Benchimol acaba de escrever um e-mail para circulação interna no grupo, ao qual tive acesso, que conta de forma resumida essa história, lembrando das dificuldades do começo, e transmitindo uma mensagem de esperança a todos, ao mostrar que é possível, sim, empreender com sucesso no Brasil, apesar de tudo. Segue seu texto, que deveria servir para a reflexão de todos:

Esperança

Cresci tendo Ayrton Senna como referência, sentindo orgulho do nosso país e vendo suas vitórias épicas.

Desde pequeno, meus pais me ensinaram que a vida não seria fácil e, se eu quisesse ser um vencedor, teria que lutar muito para conseguir.

Eles estavam certos e acho que esses dois acontecimentos marcaram a minha infância: Senna e “não vai ser fácil”.

Por destino da vida, fui obrigado a me tornar empreendedor e construir meu próprio negócio. Isso foi em 2001, momento muito parecido com o atual, onde o desemprego e a economia não estavam em um bom momento.

Comecei do nada, sem dinheiro ou apoio de ninguém. Eram apenas os R$ 10.000,00 do meu FGTS demissional.

Ser empreendedor não é fácil, mas o que é fácil nessa vida?

Os primeiros anos foram de “desintoxicação”, afinal o empreendedor não precisa se preocupar com nada que não seja fazer o seu negócio dar certo, sem politicagens, cerimônias ou outras tarefas cotidianas da vida de um executivo.

No começo, pensei em desistir algumas vezes, mas uma força interior me dizia para sempre continuar um pouco mais e seguir em frente.

Quantas noites mal dormidas, fins de semana perdidos ou madrugadas no escritório, para encontrar a saída dos desafios que nunca deixaram de aparecer.

*Já entreguei folder na rua, fiz visita de porta em porta, dei aulas e palestras para conseguir os primeiros clientes. Jamais tive vergonha de lutar pelas minhas crenças e fazer de tudo para conseguir as minhas vitórias, talvez parecido com as duras corridas do nosso Ayrton Senna, mas, obviamente, em outra proporção e direção*

Tenho orgulho de ter começado do nada e ter conseguido, junto com meus sócios, depois de 16 anos de muita dedicação, perseverança e um pouco de sorte, ter chegado até aqui.

Em nosso país, vemos constantemente nos noticiários, políticos, empresários, juízes, funcionários públicos e tantos outros personagens, envolvidos em casos ininterruptos de corrupção.

Muitos acham que a única maneira de ter sucesso – financeiro, profissional ou ambos – é por meio de alguma “mamata”. Eu, como vocês provavelmente, já ouvi isso diversas vezes.

No entanto, posso lhes afirmar que nós, como a maioria dos empresários, vencemos sem corromper, roubar, enganar ou fazer qualquer coisa errada que hoje sentimos estar presente no dia a dia do nosso país.

É possível sim chegar lá, fazendo as coisas certas e lutando pelos valores que nossos pais nos ensinaram quando éramos pequenos.

É verdade também que, ainda assim, tentarão nos levar para o caminho errado. O meu conselho é sempre pensar em como nossos pais, filhos, esposas, amigos e demais familiares, gostariam que fôssemos lembrados. Afinal, o que levamos dessa vida?

O nosso sonho vem se tornando realidade e a cada dia que passa, sentimos que mudar nosso país e deixar um lugar melhor para nossos filhos depende apenas de nós.

Nosso Brasil tem jeito sim e esse jeito está mais perto e rápido do que imaginamos.

Convido a todos, desde já, a vestirem a camisa do orgulho, da dignidade e da vitória, onde os fins NÃO justificam os meios.

Nosso país é o melhor lugar do mundo e não podemos abandoná-lo.

Não deixem de lutar pelos seus sonhos e acreditar que podem vencer na vida, do jeito correto, sem atalhos, subterfúgios ou “jeitinhos”.

No final, a vitória será verdadeira e a conquista inesquecível!

Abraços
Guilherme Benchimol

Acho que o país está precisando mesmo de mensagens deste tipo, de quem acredita num amanhã melhor, e principalmente, de quem arregaça a manga para lutar por isso, em vez de só ficar se lamentando e repetindo que “não tem jeito” por aí. Tem muito bandido, muito “malandro” em nosso país mesmo. Mas vamos deixar o Brasil de bandeja para eles? Ou vamos lutar pelo que é nosso?

Rodrigo Constantino

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