Por Daniel Greenfield *
Se você quiser saber quem tem privilégios em uma sociedade, vá atrás da raiva.
Há pessoas nos EUA que podem expressar a raiva com segurança. E há pessoas que não podem. Se você está com raiva porque Trump venceu, sua raiva é socialmente aceitável. Se você está com raiva porque Obama venceu, ela não é.
A raiva de James Hodgkinson era socialmente aceitável. Ela continuou sendo socialmente aceitável até ele extrapolar e chegar ao homicídio. E ele não está só. Existe Micah Xavier Johnson, o assassino de policial do Black Lives Matter de Dallas, e Gavin Long, o assassino de policiais do Black Lives Matter em Baton Rouge. Se você é negro e sente raiva da polícia, sua raiva é festejada. Se você é branco e sente raiva pelo bloqueio de viagens do Terror, pela rejeição ao tratado do clima de Paris, ou por qualquer causa da esquerda, você está do lado dos anjos raivosos.
Mas se você é branco e sente raiva porque seu emprego está indo para a China ou por ter escapado por um triz de ser morto por um muçulmano suicida com bombas, sua raiva é inaceitável.
Se você é um esquerdista raivoso, seu líder partidário, Tom Perez, vai gritar e xingar ao microfone, e sua aspirante a candidata à presidência, Kirsten Gillibrand, vai xingar junto, para canalizar a raiva da base. Mas se você é um conservador raivoso, então Trump canalizar sua raiva é “perigoso” porque você não tem permissão para sentir raiva.
Nem toda raiva é igual. Alguma raiva é raiva privilegiada.
A boa raiva consegue uma boquinha de comentarista na CNN. A má raiva faz você ser expulso do seu emprego. A boa raiva não é, de forma alguma, descrita como raiva. Em vez disso, ela é linguisticamente transformada em “passional” ou “corajosa”. A má raiva, entretanto, é “preocupante” e “perigosa”. Os militantes esquerdistas raivosos “clamam”; os militantes de direita raivosos “ameaçam”. A boa raiva é de esquerda. A má raiva é de direita.
Demonstrações de raiva socialmente aceitáveis, do Occupy Wall Street aos distúrbios do Black Lives Matter até as marchas contra Trump e os furiosos protestos nos campus universitários, são invariavelmente esquerdistas.
A raiva da esquerda pela eleição de Bush e de Trump foi santificada. A indignação da direita pela vitória de Obama foi demonizada. Agora, a raiva da esquerda levou um voluntário de Bernie Sanders a abrir fogo em um evento beneficente republicano, um treino de beisebol. E a mídia hesita em admitir que talvez os dois lados devam moderar a retórica. Antes de listar exemplos que tenham tendência à direita como o “Prende ela”.
Por que slogans como o “Prende ela” são desmedidos, mas os gritos de “o chefe na cadeia” da era Bush não são? Por que os comícios do Tea Party eram “ameaçadores”, mas a última marcha “Nós Odiamos Trump” é corajosa? Por que matar Trump no palco é a forma mais maneira de encenar Shakespeare enquanto um palhaço de rodeio que usou uma máscara de Obama foi massacrado por todos, do vice-governador do Missouri até a NAACP?
Nem toda raiva é igual. A raiva, como qualquer outra coisa, é ideologicamente codificada. A raiva esquerdista é boa porque os fundamentos ideológicos são bons. A raiva da direita é má porque a ideologia é má.
O que torna a raiva boa ou má não é o nível, a intensidade ou a natureza ameaçadora.
E é por isso que a esquerda recorre à violência com tanta facilidade. Todos os fins ideológicos dela são bons. Portanto, significa que desde fome maciça, gulags, distúrbios e tirania, tudo tem de ser bom. Se eu furar seus pneus por causa do seu adesivo favorável ao Obama, eu sou um monstro. Mas se você arranhar o meu carro por causa do meu adesivo favorável ao Trump, você está combatendo o racismo e o machismo. Suas táticas podem ser equivocadas, mas seu ponto de vista não é.
Não há padrões universais de comportamento. A civilidade, como tudo o mais, é limitada ideologicamente.
A teoria interseccional não desaprova a expectativa de comportamento civilizado vinda de manifestantes “oprimidos”. Pedir que os estridentes manifestantes dos campus não berrem ameaças na sua cara é “policiamento de tom”. A filha de um afro-americano milionário em Yale está lutando pela própria “existência”, diferente de um mineiro de carvão da Pensilvânia, do oficial de polícia de Baltimore e da florista cristã cujas existências estão realmente ameaçadas.
O policiamento de tom é o que protege a raiva dos esquerdistas privilegiados, enquanto a frustração das vítimas deles é suprimida. A existência do policiamento de tom como um termo específico de proteção das demonstrações de raiva da esquerda exibe o colapso da civilidade sugada pelo privilégio da raiva. A civilidade foi substituída por uma prerrogativa política à raiva.
A esquerda se orgulha de ter uma superioridade moral não conquistada (“Quando eles descem, nós subimos”) reforçada pela própria câmara de eco enquanto ela se torna incapaz de controlar os próprios acessos de raiva. O chilique nacional depois da vitória de Trump quase conseguiu calar o governo, transformou todos os veículos de mídia em alimento inesgotável de teorias de conspiração e disparou protestos que logo chegaram à violência urbana.
Mas a Síndrome da Irracionalidade de Trump é um sintoma de um problema da esquerda que existia desde antes de ele nascer. A esquerda é um movimento raivoso. Ela é animada por uma indignação pomposa cuja superioridade moral se desdobra em desumanização. E o maquinário cultural da esquerda dá glamour a essa raiva. A mídia enfeita a raiva borbulhante de modo a que a esquerda nunca tenha de encarar o próprio Hodgkinson no espelho.
A esquerda está mais raivosa do que nunca. Os distúrbios nos campus e os atentados contra políticos republicanos não são nenhuma novidade. O que está mudando é que os adversários estão começando a se igualar em raiva. A esquerda ainda se agarra à mesma raiva que tinha quando era um movimento teórico com planos, mas pouco impacto no país. A indignação contra a esquerda não é mais ideológica. Há milhões de pessoas cujos planos de saúde foram destruídos pelo Obamacare, cujo direito à livre expressão foi retirado, cuja terra foi confiscada, cujos filhos foram doutrinados contra eles e cujos meios de vida foram destruídos.
A esquerda raivosa ganhou muito poder. Ela usou esse poder para destroçar vidas. Ela está conspirando ansiosamente para privar cerca de 63 milhões de pessoas de seus votos pelo uso de seu poder entrincheirado no governo, da mídia e do terceiro setor. E ela está blindada demais pela própria raiva pelo resultado da eleição para reconhecer a raiva dos próprios abusos de poder no atacado e nos chiliques privilegiados.
Mas o monopólio da raiva só funciona em estados totalitários. Em uma sociedade livre, espera-se que os dois lados controlem a raiva e encontrem termos nos quais possam debater e resolver as questões. A esquerda rejeita a civilidade e se recusa a controlar a raiva. O único termo que ela vai aceitar é o poder absoluto. Se uma eleição não dá um resultado que lhe agrade, ela vai derrubar o resultado. Se alguém a ofende, tem de ser punido. Ou haverá raiva.
A esquerda raivosa exige que todos reconheçam a absoluta retidão da sua raiva como base do seu poder. Esse privilégio da raiva, como o policiamento de tom, é frequentemente apresentado em termos de grupos oprimidos. Mas a raiva da esquerda não desafia a opressão, ela busca a opressão.
O privilégio da raiva é usado para silenciar a oposição, para fazer cumprir postura ilegais e para tomar o poder. Mas o monopólio da raiva da esquerda é cultural, não político. A indústria do entretenimento e a mídia podem fazer cumprir as normas do privilégio da raiva através da humilhação pública, mas a difamação não pode deter as consequências do colapso da civilidade na vida pública. Não existe monopólio de emoção.
Quando a raiva se torna a base do poder politico, ela não vai parar com Howard Dean ou Bernie Sanders. Foi isso o que a esquerda descobriu na última eleição. O falso horror da esquerda foi uma reação às consequências da própria destruição da civilidade. A reação da esquerda à demonstração de raiva dos conservadores e dos independentes foi o agravamento do conflito. Em vez de se apresentar como oposição, a esquerda se tornou a “resistência”. Trump se tornou simultaneamente Hitler e traidor. Os republicanos se tornaram feras malignas.
James Hodgkinson absorveu tudo isso. A esquerda alimentou a raiva dele. E, finalmente, ele surtou.
A raiva tem de escoar.
A esquerda gosta de pensar que a própria raiva é boa raiva porque é raiva contra as tribulações de estrangeiros ilegais, terroristas muçulmanos, banheiros transgêneros, a falta de aborto na Carolina do Sul, o salário mínimo no Taco Bell, os cortes de orçamento, os cortes tributários, as prisões pela polícia, os ataques com drones e todos os outros modos em que a realidade seja diferente da utopia. Mas tanta raiva não leva a um mundo melhor, mas leva ao ódio e à violência.
Milhões de esquerdistas como Hodgkinson ouvem todo dia que os republicanos são responsáveis por tudo de errado na vida deles, no país e no planeta. Apesar de tudo o que eles fazem, de todas as petições que eles assinam, das marchas a que comparecem, dos donativos, das cartas raivosas, das arengas nas mídias sociais, os republicanos continuam a existir e até são eleitos para cargos públicos. Pra onde vai tanta raiva?
Ou nós temos um sistema politico baseado nas leis em vigor e nas normas de civilidade, ou teremos um baseado em golpes e na raiva populista da esquerda. E eles já existem aos montes ao sul das nossas fronteiras.
A raiva da esquerda é uma bolha privilegiada de arrogância que estoura eleição sim, eleição não. A opção é tentar entender o resto do país ou intimidar, censurar e oprimir, chegando, enfim, a matar os outros.
James Hodgkinson escolheu a segunda opção. A revolução esquerdista pessoal dele acabou, como todas as outras revoluções esquerdistas acabam, em sangue e violência. A esquerda pode se desfazer do próprio privilégio à raiva e examinar a própria arrogância.
Ou a violência que vem dela será o nosso futuro.
* Publicado originalmente no FrontPage Magazine, em tradução livre de Claudia Costa.
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