Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal
A despeito da insegurança jurídica, da falta de bom conteúdo em português sobre as diferentes metodologias de homeschooling e dos muitos mitos sobre, entre 2013 e 2016 a quantidade de praticantes de educação domiciliar no Brasil dobrou, passando de 2 mil para 5 mil famílias.
A pesquisadora americana Isabel Lyman descobriu haver vários motivos para se adotar a educação domiciliar em ‘The HomeschoolingRevolution’:
- a insatisfação com o ambiente predominante nas escolas;
- a insegurança nos perímetros escolares;
- o baixo nível técnico das escolas;
- questões religiosas;
- a crença na superioridade acadêmica do ensino doméstico;
- a necessidade de se construir laços familiares mais robustos;
- eventuais divergências ideológicas de toda sorte.
Embora realizada nos Estados Unidos, é notável que os motivos se repetem, em grande parte, no Brasil. Em relação à segurança, por exemplo, 42% dos alunos da rede pública foram vítimas de violência. Ademais, surpreendentemente 15% das agressões partiram dos próprios educadores.
No que toca à infraestrutura, menos de 5% das escolas brasileiras possuem um padrão considerado adequado, dentro das previsões legais do Plano Nacional de Educação.Quase 10% das instituições de ensino sequer possuem água sanitária, e apenas 8,6% possuem laboratório de ciências.
Os resultados oferecidos pela educação brasileira, para contrastar, são pífios: 9 dentre 10 estudantes da rede pública chegam ao ensino médio sem saber o conteúdo básico. No último resultado do PISA, o Brasil ocupou a 63ª posição em ciências, a 59ª em leitura e a 66ª colocação em matemática.
Já a doutrinação ideológica ganhou manchetes com as denúncias promovidas pelo movimento Escola Sem Partido. O enviesamento do ensino por parte de professores, de livros didáticos e da própria grade curricular é um dos principais motivos para a adoção do ensino domiciliar no Brasil.
Por fim, a crença na superioridade da educação domiciliar não é difícil de explicar. O modelo educacional padrão é a reprodução de um modo de produção de fábrica. Murray Rothbard o compara com o bandido Procusto. Na mitologia grega, o personagem construiu uma cama de seu tamanho e convidava a todos os viajantes para nela repousar. Os hóspedes tinham seus corpos ajustados ao tamanho da cama, que cortava o excesso (cabeça e membros inferiores) ou esticava seus corpos.
Assim, no modelo escolar, os alunos são alocados em salas de acordo com a idade, e não com seus interesses e proficiência em cada temática. Isso faz com que cada turma tenha um ritmo médio, prejudicando alunos com maior facilidade naquela disciplina (que precisam esperar o restante da turma para avançar de conteúdo), além dos alunos com maior dificuldade (que possuem capacidade de aprender os conteúdos, mas a um ritmo mais lento, e acabam fracassando).
Atualmente tramita no STF o Recurso extraordinário (RE 888.815), que pode dar mais segurança jurídica à prática da educação domiciliar no Brasil. A partir disso, a expectativa é que mais conteúdos sobre essa modalidade de ensino sejam divulgados e empresas passem a oferecer serviços nessa área, fazendo mais famílias adotarem a prática.
Saliento que não se defende aqui a educação domiciliar para todas as crianças, vale ressaltar. O homeschooling não deve ser tratado como uma panaceia que salvará nossos resultados pífios na educação. O que se argumenta é que os pais são soberanos na criação de seus filhos e devem ter a opção de, se acharem conveniente, os instruírem no lar.
Nota: O artigo apresentado em uma versão condensada — é parte de uma palestra apresentada por Sperandio na ocasião da Libertycon2017
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião