Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
A GloboNews exibiu recentemente uma matéria abordando uma suposta tendência observável no mundo dos negócios: a crescente preocupação dos empresários em “gerar efeitos positivos na sociedade”. Segundo a reportagem procurou demonstrar, até mesmo fundos de investimento têm procurado aplicar o dinheiro de seus poupadores em empresas que “aliem o lucro a questões sociais”.
Pioneira na disseminação e no fomento destes empreendimentos de impacto social no Brasil, a Artemisia, por exemplo, visa “inspirar, capacitar e potencializar talentos e empreendedores para criar uma nova geração de negócios que rompam com os padrões precedentes e (re)signifiquem o verdadeiro papel que os negócios podem ter na construção de um país com iguais oportunidades para todos”. Seu slogan, a propósito, resume bem a visão da companhia:” entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, fique com os dois”.
A equipe de jornalismo, claro, preferiu esquecer-se de um detalhe crucial: em um ambiente de trocas voluntárias com pouca ou nenhuma regulação estatal, só irão prosperar e obter ganhos aqueles indivíduos que oferecerem produtos e serviços de maior qualidade a seus consumidores a preços acessíveis, gerando empregos e movimentando a economia ao longo da cadeia produtiva.
Em suma: todo e qualquer empreendedor que não esteja mancomunado com o poder público gera impacto social positivo em sua jornada rumo à riqueza.
Como bem explicou Renato Russo em entrevista concedida a MTV no auge de sua fama, a qual deveria fazer artistas que vivem de Lei Rouanet e outras verbas oriundas dos pagamentos de impostos enrubescerem: ele só nos premiou a todos com suas inesquecíveis canções – ajudando a criar postos de trabalho no setor fonográfico, dentre outras benesses obtidas por terceiros envolvidos em sua notável obra – porque queria ganhar dinheiro em troca!
Quem viveu ou vive em Curitiba conhece a história do Dog do Zeu: um rapaz que começou vendendo cachorro-quente na rua em parceria com um amigo hoje emprega dez pessoas (todos jovens que poderiam estar ocupando-se de malandragens mil por aí) em uma esquina na terra da Lava jato. Matar a fome de quem passa pelo bairro Bacacheri e ainda proporcionar oportunidades para que os garotos ajudem no sustento de suas próprias famílias: querem impacto social maior do que este?
E que exemplo poderia ser melhor do que a celeuma envolvendo a empresa Guararapes no Rio Grande do Norte, onde o empregador está sendo defendido por seus empregados terceirizados – antes que ele decida trocar os fornecedores brasileiros por paraguaios – em meio a uma ação questionável do Ministério Público do Trabalho? Operário tomando o partido do patrão, em uma perfeita inversão da luta de classes marxista, para o desespero da extrema-esquerda.
Como o Instituto Liberal já explicou aqui e aqui, dentre outras oportunidades, produzir é criar valor a partir da combinação e realocação de recursos escassos visando gerar bens que atendam as necessidades reais de cidadãos comuns, na esperança de convencê-los da conveniência de trocar o fruto de seu próprio trabalho por aqueles bens.
Ou seja, tanto durante o processo produtivo propriamente dito, quanto durante a fase de comercialização dos bens ofertados, a sociedade como um todo sai ganhando – especialmente se houver pouca ou nenhuma intervenção estatal envolvida.
Preparem-se, pois, para constatarem cada vez mais ações de marketing dando conta de que a empresa X ou Y possui “responsabilidade social”. Grande coisa: qualquer empresário possui. Basta ele não usufruir de bolsa-BNDES (como Joesley Batista e Marcelo Odebrecht), não ser privilegiado por tarifas de importação protecionistas, não firmar contratos superfaturados com entes governamentais, não buscar junto a burocratas formas de estrangular a competição em sua atividade econômica (como permissionários de placas de táxi).
Enfim, basta que ele seja, de fato, um empresário, e não o sócio de uma join venture com o poder estatal disfarçada de empreendimento privado, e estaremos diante de alguém capaz de beneficiar muitos brasileiros – especialmente os de menor poder aquisitivo – sem precisar, para isso, ostentar uma fama de “justiceiro social”.