Por Dr. Gustavo Teixeira
Pais que superprotegem e que não dão limites a seus filhos são o pano de fundo para o desenvolvimento da Geração “Snowflake”, ou floco de neve como os americanos gostam de descrever. Os filhos são descritos como seres únicos, frágeis e perfeitos, o que justificaria esse excesso de zelo por parte dos pais para que suas autoestimas não sejam machucadas.
Os filhos “flocos de neve” podem tudo, pois são especiais demais para ouvir um “não”, são sensíveis, se ofendem por qualquer coisa e logicamente há de se ter cuidado redobrado para não machucar seus sentimentos, pois não queremos que fiquem tristes e deprimidos.
Nesse alicerce assombroso, temos a versão tupiniquim dos “snowflakes”, a Geração Mimimi, que nasce com pais que acham um absurdo a escola ranquear os alunos por desempenho acadêmico ou premiar apenas os três primeiros colocados no campeonato de futsal, exigindo que o filho receba a medalha de vigésimo oitavo colocado com a mesma pompa do campeão.
A infância e adolescência é uma fase de proteção e cuidado, mas há de se diferenciar cuidado com superproteção. Enriquecer a vida e o ambiente em que nossos filhos vivem é muito importante, mesmo que tenham que se machucar, se frustrar, ficar tristes e sofrer.
Não há como manter os filhos em uma bolha irracional objetivando que sejam poupados dos perigos inerentes da vida em sociedade.
Para alguns pais, o excesso de zelo é amor, mas também há de se evitar a confusão entre amor e culpa. Excesso de trabalho e falta de tempo com os filhos têm servido de pano de fundo para uma preocupação frenética com segurança. A incapacidade de criar oportunidades de convívio e formar vínculos afetivos com a prole abre caminho para ceder a todos os desejos da criança a fim de sanar sua culpa pela incapacidade e incompetência de exercer a paternidade e maternidade.
Com o decorrer do tempo os problemas dessa superproteção se tornam mais evidentes, pois o encarceramento social e emocional imposto pelos pais acaba prejudicando muito a socialização ao impedir a exposição dos filhos aos perigos da vida.
Segundo a educadora Julie Lythcott-Haims, ex-reitora para calouros na Universidade Stanford, vivemos em um mundo onde os “pais helicóptero” temem o futuro dos filhos em um mundo perigoso, violento e com a economia ruim. Então eles se posicionam no sentido da superproteção: “sempre estaremos aqui para você, meu filho, consertando tudo e sendo sua rede de segurança emocional e financeira eterna”.
Desta forma, estamos criando uma geração de egocêntricos, que acreditam que são especiais e que podem tudo. Daí eles crescem achando que merecem ser premiados pelo simples fato de existirem, não aprendem conceitos de ética, respeito, disciplina e de que para se conquistar alguma coisa na vida é preciso lutar e trabalhar muito! Se tornam “soft”, fracos, raquíticos e vulneráveis como um floco de neve.
Quando percebem que o mundo real não é aquele ensinado pelo seus pais, já é tarde demais. Agora não basta apenas pedir para o papai ou para a mamãe para terem seus desejos atendidos e como não aprenderam a lidar com a frustração, nem aprenderam a lutar para conquistar algo na vida, resta apenas reclamar e culpabilizar a sociedade ou o universo pelo seu fracasso pessoal, profissional e emocional. Então vamos deprimir, pessoal!
Frente a esse padrão problemático de criação parental fica fácil de entender que a Geração Mimimi agrega um número imenso de jovens do grupo “nem-nem” (nem estuda e nem trabalha). Eis 2 exemplos clássicos:
Exemplo 1: Luciano, 27 anos de idade, mora com os pais, não trabalha, não estuda, fuma maconha o dia inteiro e o hobby principal é postar críticas nas redes sociais contra o governo golpista que não faz nada pela segurança pública para conter o avanço da criminalidade, a violência urbana e o tráfico na favela. Ah, e a última que escutei semana passada: a culpa é dessa sociedade conservadora e retrógrada que não aceita descriminalizar a maconha, sendo esse o motivo principal da existência do tráfico de drogas.
O floco de neve não percebe que financia o crime organizado, que retroalimenta a violência urbana. Mas isso pouco importa, pois é o orgulho do papai que tem o filho “inteligente e politizado”. Ah, papai não se importa que fume maconha em casa, pois é mais seguro que o faça dentro da fortaleza doméstica, afinal, a violência lá fora é grande e a maconha é substância natural, inofensiva.
Exemplo 2: Daniela, 22 anos de idade, mora com os pais, estuda em faculdade particular e reclama que não consegue ficar em estágios por mais de 6 meses. Tem dificuldade em trabalhar em equipe, não aceita crítica, não aceita ordens, se julga competente, mas considera que é “perseguida” no estágio, pois é incompreendida por ser mais inteligente e melhor capacitada que todos os colegas na empresa.
Daniela atrasa todos os trabalhos, comete muitos erros e normalmente abandona os estágios antes de ser mandada embora: “Muita pressão, não sou respeitada e não posso me estressar, quero qualidade de vida”. Isso mesmo!!! 22 anos de idade e quer “qualidade de vida”, trabalhar para que? Vamos para o colinho de papai e de mamãe, por favor!
Claro que a culpa disso tudo não é apenas do Luciano ou da Daniela. Está claro que esses padrões de comportamento são as únicas possibilidades esperadas e eles são reflexos de decisões e escolhas malfeitas, embasadas em um alicerce pobre e rudimentar construído por seus pais durante anos.
No caso da Daniela, ela é a soma de tudo que aprendeu na vida. Seus pais nunca deram limite, nunca cobraram nada da filha e a superprotegeram para que não sofresse nesse mundo cruel e machista!
Olha, a conta chega um dia, papai e mamãe… não se pode colocar um filho sobre um pedestal, dentro de uma redoma de vidro e achar que a filhota vai se dar bem na vida. Desta forma você não está oferecendo ferramentas e habilidades para que ela crie asas e voe. Ao invés de protegê-la, estás a condenar sua filha à infelicidade!
A vida é dura e tudo é uma questão de merecimento. Para se conquistar algo tem que lutar, trabalhar muito. Com vinte e poucos anos de idade é preciso ter sangue nos olhos e olhos de tigre para vencer profissionalmente e emocionalmente.
Infelizmente, os jovens da Geração Mimimi são grandes vítimas da incompetência e da arrogância de pais inábeis que desde muito cedo cerceiam o direito e a possibilidade de desenvolvimento de seus filhos.
Portanto, é preciso humildade para aceitar que não é possível controlar as variáveis universais da vida. Sofrer não é um sentimento bom, mas é preciso sofrer para que exista aprendizagem e crescimento. Parcimônia e equilíbrio na hora de educar os filhos é fundamental para que eles desenvolvam asas para voar… sem mimimi!
Dr. Gustavo Teixeira, M.D. M.Ed, é psiquiatra da infância e adolescência e Diretor Executivo do CBI of Miami
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