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Sirlei Prestes, 60 anos, não sente mais dores desde que começou a ser tratada com os biológicos | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Sirlei Prestes, 60 anos, não sente mais dores desde que começou a ser tratada com os biológicos| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Medicamentos buscam a remissão

Até o fim da década de 90, o tratamento para a artrite reumatoide – à base de anti-inflamatórios não hormonais, glicocorticoides em doses baixas e antimetabólitos (que agem inibindo o metabolismo do ácido fólico) – tinha o objetivo de diminuir os sintomas provocados pela doença. Na última década, com a descoberta dos medicamentos biológicos, a busca é pela sua remissão.

Os biológicos são anticorpos produzidos a partir de células vivas e são usados no tratamento de outras doenças auto-imunes e de alguns tipos de câncer. "Eles são considerados mais eficientes porque agem diretamente sobre as substâncias que causam a inflamação, os chamados finalizadores", explica o professor e chefe de Reumatologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Sebastião Radominski.

Os primeiros biológicos lançados no mercado foram os inibidores do fator de necrose tumoral, também conhecidos como anti-TNFs. Por enquanto, estes são os únicos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde.

Entre os mais recentes estão o rituximabe, o abatacepte e o tocilizumabe. O primeiro, produzido pelo laboratório Roche, tem ação específica nos linfócitos B, células do sistema imunológico que participam da inflamação que caracteriza a artrite reumatoide. Já o segundo (laboratório Bristol Myers Squibb) bloqueia uma etapa do sistema imune.

O tocilizumabe, produzido pela Roche, faz parte da nova geração dos medicamentos biológicos. É o primeiro remédio que age diretamente contra a interleucina 6, substância produzida em excesso por quem tem a doença, responsável pela inflamação crônica e pela destruição progressiva das articulações. "Em poucos dias, os pacientes já sentem a diferença", diz o reumatologista Morton Scheinberg, do Hospital Albert Einstein.

A dona de casa Sirlei Alves Prestes, 60 anos, com artrite reumatoide há mais de dez, conta que, desde que começou a ser tratada com os biológicos, não sentiu mais dores e recuperou boa parte dos movimentos. Sirlei, que mora em Quitandinha, vem a Curitiba a cada dois meses para tomar a injeção no Hospital de Clínicas.

Serviço: O Centro de Estudos de Reumatologia do HC está desenvolvendo estudos com quatro novos medicamentos biológicos e está precisando de pacientes voluntários com artrite reumatoide. Interessados devem ligar para (41)9109-6167.

Crônica, progressiva e causadora de danos irreparáveis, a artrite reumatoide acomete cerca de 1% da população mundial e 1,5 milhão de brasileiros.

A doença autoimune e de origem desconhecida pode atacar coração, pulmões, olhos e pele, mas o mais comum é provocar a inflamação das articulações – principalmente de mãos, pés, punhos, tornozelos e joelhos –, e a consequente destruição de ossos, cartilagens, tendões e ligamentos.

A fadiga e a dor causadas pelas inflamações são os sintomas iniciais de um problema que pode resultar na deformidade das articulações e na incapacidade de realizar movimentos simples como escovar o cabelo ou amarrar os sapatos, se não detectado há tempo. "A artrite reumatoide é a segunda maior causa de afastamento temporário do trabalho e quando não é tratada corretamente, leva à incapacidade em mais de 50% dos casos", alerta a reumatologista Ieda Laurindo, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

O que mais causa sofrimento aos pacientes, entretanto, não é o desconforto físico, mas os prejuízos emocionais. De acordo com uma pesquisa recente realizada pelo Instituto Opinion Health em seis países, 42% pacientes se sentem sozinhos na luta contra a doença e mais de um terço acham que a família não entende como a doença afeta a sua vida. Muitos se sentem discriminados e deprimidos.

Embora a artrite reumatoide acometa todas as idades e ambos os sexos, a doença é mais prevalente em mulheres entre os 40 e 60 anos de idade. "Estima-se que no Brasil, a cada homem, três mulheres são acometidas pela doença. Na América Latina, a diferença é ainda maior: um homem para cada 6,9 mulheres. Embora não exista confirmação, é provável que a influência dos hormônios femininos seja responsável por esses números", diz a médica.

A causa da artrite reumatoide não pode ser identificada, mas existem alguns fatores relacionados à doença, como explica a diretora científica da Sociedade Paulista de Reumatologia, Elaine de Azevedo. "Predisposição genética, fatores ambientais e alguns hábitos de vida podem aumentar as chances de desenvolver a artrite reumatoide. Estão entre eles clima e localização geográfica, nível hormonal, infecções causadas por vírus e tabagismo", aponta.

Embora não exista prevenção nem cura para a artrite reumatoide, alguns cuidados podem controlar a doença. O primeiro passo é o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento (leia ao lado). "É muito importante iniciar o tratamento antes do desenvolvimento de uma lesão", lembra o reumatologista Morton Scheinberg, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

A combinação de uma dieta balanceada com a prática de exercícios físicos também é ideal para amenizar os sintomas da doença. "O sobrepeso pode causar lesões mais severas nas articulações. Além disso, a falta de cálcio na dieta pode aumentar o risco de desenvolver osteoporose e o consumo exagerado de gordura animal aumenta a inflamação e a dor", explica Elaine. "Já os exercícios diários – como as caminhadas, a natação, a dança e a musculação – são importantes para fortalecer a musculatura ao redor das articulações afetadas e diminuir o desconforto", completa.

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