Perfil
Microempresa informal e familiar
Microempresas informais com administração familiar. Este é o perfil padrão de uma lan house brasileira, segundo a pesquisa TIC Lan Houses 2010, realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic).
O levantamento, feito com uma amostragem de 412 estabelecimentos distribuídos por 120 municípios do país, revela que 51% atua na informalidade. "Há uma dificuldade para que essas empresas se formalizem. Como são juridicamente comparadas a casas de jogos, elas seriam obrigadas a respeitar uma série de medidas, como a obrigação de permanecer a uma distância mínima de escolas e pagar taxas específicas", explica Luiz Fernando Moncau, pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
As características desses pequenos empreendimentos demonstram também o grau de enraizamento nas comunidades em que atuam. Quatro em cada cinco lan houses são negócios familiares; e 15% do total de proprietários têm o negócio montado junto ao imóvel residencial.
Não é exatamente o caso de Edi Carlos e Daianny Barbosa, proprietários de lan house na Vila Nossa Senhora da Luz. Mas quase. O pequeno negócio, que fatura R$ 1,2 mil por mês, foi instalado em um imóvel separado, mas no mesmo terreno. "Nós já queríamos montar alguma coisa, daí veio um rapaz e ofereceu os computadores como entrada na compra de um carro", explica Barbosa.
A alta capilaridade desses pequenos centros também é vista pelos analistas como uma oportunidade para estender serviços públicos. Um caso bastante citado é o de Estância, no Sergipe, em que a prefeitura firmou um convênio com as lan houses para que os estudantes da rede municipal possam usar os computadores.
"Elas [as lan houses] podem vir a ser um miniponto de atendimento dos serviços públicos. É um novo papel que as lan houses terão no futuro", diz Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.
A gritaria dos jogadores e o martelar nas teclas podem já não ser tão intensos, mas seguem ininterruptos. Fechando uma década de existência massificada no Brasil, as lan houses se estabeleceram como uma importante fonte de acesso à internet, principalmente em localidades de baixa renda. Surgidas a partir de uma carência econômica o alto custo da banda larga privada estas lojas se tornaram ponto de encontro na periferia das grandes cidades e em municípios do interior. Uma vocação que nem mesmo o vigoroso aumento na contratação de conexões de internet residenciais será capaz de sufocar, na avaliação dos proprietários de lan houses e de especialistas.
Dados divulgados pela Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) mostram que 2010 atingiu a marca de 14,2 milhões novas conexões de alta velocidade, um crescimento de 71% sobre o ano anterior. Com isso, o número de lares brasileiros com internet de banda larga chega a 34,2 milhões.
"Em 2007, as lan houses tiveram o seu ápice na quantidade de acessos. Então estabilizou e, a partir de 2009, começou a cair, justamente porque o acesso à internet residencial começa a crescer", analisa o gerente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic), Alexandre Barbosa.
Entretanto, de acordo com a Cetic, quase metade dos acessos à internet no Brasil ainda são feitos a partir de centros pagos, como lan houses e cyber cafés. O recorte por classe social revela, ainda, que a quantidade de usuários de lan houses é inversamente proporcional à renda familiar. Enquanto que na classe A os frequentadores de lan house somam 7%, nas classes D e E este porcentual sobe para 74%.
Na lan house do casal Edi Carlos e Daianny Barbosa, localizada na Vila Nossa Senhora da Luz, periferia de Curitiba, o movimento cresceu ao longo de um ano e meio de funcionamento. "Muita gente por aqui ainda não tem como ter [internet residencial]", diz Daianny, em meio aos oito computadores disponíveis para os clientes. Ela também afirma que a estrutura de tecnologia para o bairro ainda é deficiente, o que mantém o interesse dos usuários pela lan house: "Nós tivemos que esperar seis meses até instalarem a linha, porque não tinha disponibilidade para o bairro. Tem muitas ruas aqui que ainda não têm."
Mário Brandão, diretor presidente da Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital e proprietário de uma lan house no Rio de Janeiro, reconhece que os ventos a empurrar o negócio já foram mais fortes, mas descarta a possibilidade de o acesso residencial extinguir os pontos coletivos. "Lan house que depender só de cobrar por acesso à internet não vai sobreviver. Mas esse não é um problema só das lan houses e, sim, de todo o pequeno negócio."
Cultura
Para Luiz Fernando Moncauas, pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, as lan houses se consolidaram como um importante serviço sóciocultural para comunidades de baixa renda. "Se fizermos uma análise de como algumas comunidades estão servidas de aparelhos culturais, veremos que a lan house ocupa um espaço bastante grande. Mesmo nas grandes cidades, espaços como teatros, cinema e biblioteca estão concentrados nos bairros mais ricos. Por isso, a lan house se torna uma fonte de acesso importante aos produtos culturais", diz.
A presença constante de um funcionário também é uma característica importante nas lan houses nas comunidades em que estão instaladas. Com conhecimento em informática, geralmente superior ao da média dos frequentadores, este profissional acaba tirando dúvidas e auxiliando na navegação. "Às vezes idosos têm dificuldade em acessar algum site, e nós acabamos dando uma força", exemplifica Leonice Azevedo, proprietária de uma pequena lan house instalada na sala de casa, no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. "Têm estudantes que até têm computador em casa, mas acabam vindo fazer os trabalhos [escolares] aqui; e nós indicamos sites para consulta", conta.
Os estudantes Mateus dos Reis e Lucas Andrey Corchak, ambos com 15 anos, possuem computadores em casa. Mesmo assim, costumam se encontrar em lan houses do bairro Santa Cândida, Região Norte de Curitiba, para disputar partidas de videogame entre si e com outros adolescentes. "Quando ganha, a gente pode tirar sarro um do outro", diz Mateus.
Mesmo esse uso recreativo das lan houses, para jogos em grupo e visita a sites de entretenimento, constituem um acréscimo à formação social e cultural dos jovens, analisa Moncau. "Jogar sozinho não tem a mesma graça de jogar com os amigos. Por isso, vários estudiosos do setor apontam a lan house como um ponto de socialização", explica. De acordo com Moncau, os jogos instigam à navegação na internet, capacitando e estimulando os jovens para buscar também outros conteúdos. "Nós constatamos que, com essa forma de lazer, eles aprendem noções básicas de inglês, uso de sistema operacional e navegação. É um importante aliado para a alfabetização digital", avalia.
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Interatividade
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