Os alquimistas da Idade Média dedicaram suas vidas à busca da pedra filosofal substância que poderia transmutar qualquer metal em ouro e da qual seria possível extrair o elixir da eternidade. A alquimia anda fora de moda há séculos. Mas a procura daqueles protocientistas medievais segue firme, ainda que de forma bem diferente. Afinal, o motor da história da humanidade talvez possa ser resumido em dois desejos que a pedra hipotética atenderia: riqueza abundante e vida eterna.
Com abordagens muitas vezes completamente distintas, civilizações variadas construíram seus alicerces sobre essas duas aspirações, ora com mais ênfase na busca de uma, ora na outra. A sociedade contemporânea não foge da regra. Organiza-se basicamente para produzir crescimento econômico. Ou seja, para gerar riqueza a partir de matérias de menor valor, tal qual imaginavam os alquimistas. O homem moderno tampouco esquece do sonho da eternidade. A medicina nada mais faz que tentar encontrar o elixir da vida longa.
A pedra filosofal muda de nome, mas sempre é objeto do desejo dos homens. Para alguns, hoje ela se chama nanotecnologia, a ciência dos objetos minúsculos, do tamanho de átomos. Em reportagem da Gazeta do Povo publicada na segunda-feira, o pesquisador Rajender Varma, da Agência Norte-Americana de Proteção ao Meio Ambiente (EPA, na sigla em inglês), diz que a nanotecnologia terá aplicação na indústria farmacêutica a procura pelo elixir. E assegura que em breve será possível obter ouro a partir de produtos como chás, beterraba ou bagaço de uva (leia a matéria em http://bit.ly/rajender). Para isso, bastaria manipular prótons para construir o metal no nível atômico.
A ciência pode até chegar lá num futuro próximo. Resta saber se o ouro terá valor quando for tão comum como uma beterraba que qualquer um pode comprar na quitanda da esquina. Assim, a procura pela pedra filosofal vai continuar indefinida, para que outra riqueza possa ser produzida.
Talvez a solução para o dilema dos séculos seja resgatar o entendimento mais simbólico da alquimia. Alguns estudiosos dizem que a transmutação dos metais ordinários em ouro nada mais seria que uma metáfora para a busca de cada um pela perfeição; da mudança que o homem comum deve empreender para se tornar nobre e raro. Isso se dá por meio de algo que sobrevive ao tempo, o conhecimento ou, figurativamente, a pedra dos filósofos.
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