Esqueça aquela velha história de que não há desastres naturais no Brasil. Isso é mito. Relatório divulgado em novembro pelo Escritório das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR) e o Centro de Pesquisas de Epidemiologia em Desastres (Cred) mostra que o Brasil é o único país das Américas que está na lista dos dez países com maior número de pessoas afetadas por desastres entre os anos de 1995 a 2015.
E basta ficar mais atento ao nosso estado para ter certeza disso. Um tornado causou inúmeros prejuízos em Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, em 19 de novembro. , Uma semana depois, um terremoto atingiu a região Norte do país. Sem contar os problemas sérios deixados pelas chuvas quase ininterruptas no Sul e os transtornos causados no Nordeste pela seca – fenômeno que mais afeta a população brasileira, de acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais. O estudo – feito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a Secretaria Nacional de Defesa Civil – mostra também que o país registrou mais de 38 mil catástrofes entre 1991 e 2012.
“Colocar que o Brasil não é atingido por desastres naturais é uma desinformação”, observa o professor de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Renato Eugenio de Lima, que atualmente comanda a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba. Ele explica que o fato de estarmos dentro de uma plataforma geológica “mais estável” não quer dizer que não existam pontos dentro desta área mais propícios a ocorrências de fenômenos, que se diferem ao longo do território.
“No Sul, estamos tendo um ano atípico de chuvas por causa do El Niño provavelmente. Desde janeiro o Sudeste enfrente uma seca que tem gerado sacrifício enorme da população e da economia. Também há seca no Nordeste, a Chapada Diamantina enfrenta incêndios e Santa Catarina tem inundações. Isso também é desastre natural”, pontua o professor, que também faz parte do Centro de Apoio Científico em Desastres da UFPR.
Muita ou pouca água
O climatologista e chefe de Pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, afirma que, no Brasil, em torno de 75% dos desastres ocasionados por fenômenos naturais estão relacionados à água – pelo excesso ou pela falta dela. No restante dos registros estão ainda tremores de menores intensidades se comparados a países mais propensos, ventos fortes (que muitas vezes chegam a se transformar em tornados), e ondas de calor.
“No Peru há terremotos, mas lá não há chuvas tão intensas, enchentes frequentes como aqui. O fato é que cada país tem seus desastres”, observa o pesquisador, que apontou como um dos piores desastres brasileiros a tragédia enfrentada por moradores do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, em 2008. Naquele ano, o estado enfrentou a pior enchente das últimas três décadas na região.