As brasileiras estão tendo menos filhos e engravidando cada vez mais tarde, segundo os novos dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de fecundidade no país caiu 21,9% na última década. Em 2000, a média de filhos por mulher era de 2,38. No ano passado, baixou para 1,86. A idade da primeira gestação também teve alteração. Há dez anos, metade das gestantes engravidava antes dos 24 anos e, em 2010, esse porcentual caiu para 45%.
O número de mulheres que tiveram o primeiro filho após os 30 anos passou de 27,5% para 31,3%, um aumento de 14%.
As regiões Norte e Nordeste foram as que mais tiveram redução da fecundidade, com quedas de 23,5% e 25,2%, respectivamente. Apesar disso, o Sudeste ainda é a região que tem a menor taxa, com média de 1,66 filho por mulher, enquanto no Norte a média é de 2,42 a maior do país. No ranking dos estados, o "campeão" é o Acre, com 2,77, e o Rio de Janeiro aparece em último lugar, com 1,62. No Paraná, a média é de 1,88 uma queda de 19% nos últimos dez anos.
Outra mudança nos arranjos familiares apontada pelo IBGE é o aumento de uniões consensuais. Enquanto o número de casamentos religiosos e civis teve uma redução de 13%, o número de casais "informais" aumentou quase 30%. Passou de 28,6% em 2000 para 36,4% em 2010.
Planejamento
A principal explicação para a diminuição do número de filhos entre as mulheres brasileiras é a ampliação do planejamento familiar. Professor de Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Tony Moreira Sampaio explica que a tendência de queda vem sendo observada nas últimas décadas e ocorre também em outros países em desenvolvimento.
Com mais acesso à educação e progressiva participação no mercado de trabalho, as brasileiras estão planejando o tempo certo para a gravidez e o número de filhos. Apesar de haver propensão à queda em todas as classes sociais, ainda há diferenças entre mulheres pobres e ricas. Sampaio argumenta que o controle populacional ocorreu de forma gradual no país, mas não teve a influência direta do Estado, como na China, por exemplo, onde o governo impôs taxas para pais que têm mais de um filho.
Segundo o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos afirma que o Brasil vai precisar se preparar para estas mudanças populacionais. "Neste momento o país vive o bônus porque há crescimento da população economicamente ativa e haverá menos demanda em setores como educação", explica. "Mas no futuro existirão outros desafios, como maiores investimentos em saúde e previdência." Ramos lembra que já há países na Europa com dificuldades de "repor" a população em função das baixas taxas de fecundidade.
O aumento de renda e escolaridade também tem impacto direto no número de filhos, fator também relacionado ao mercado de trabalho e a questões culturais. "Se antes o projeto de vida das mulheres era casar e ter filhos, hoje há novas configurações", diz a socióloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Samira Kauchakje. Ela afirma que há uma mudança em vigor desde os anos 50 em todo o mundo, que repercute inclusive na forma de união com o parceiro.
Desigualdade social cai, mas ainda é alta
Mesmo com a retirada de 28 milhões de pessoas da pobreza na última década, o Brasil ainda é um dos campeões do mundo em desigualdade. Os mais ricos do país têm renda 39 vezes maior que os mais pobres. Em nações desenvolvidas essa diferença fica abaixo de dez.
O índice de Gini medida usada para quantificar a desigualdade de renda no Brasil é de 0,53, o que coloca o país entre os dez mais "desproporcionais". Na Noruega, o índice é de apenas 0,25 e não existem grandes discrepâncias de ganhos entre ricos e "pobres". Os 10% dos brasileiros mais ricos concentram 44% de todo o rendimento do país, enquanto os 10% mais pobres ficam com apenas 1,1%. As diferenças de renda ocorrem também entre grupos populacionais. Homens ganham em média R$ 1.457 por mês e mulheres R$ 1.021. Os brancos têm rendimento médio de R$ 1.400 e pardos de R$ 853.
Presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Paraná (Ibef-PR), Luiz Antonio Giacomassi Cavet explica que a diminuição da desigualdade não está apenas relacionada ao aumento da renda e oportunidades de trabalho. "Há diferenças significativas no acesso à saúde e à educação. Igualar a renda significa também igualar a qualidade de vida", diz.
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