Bobô tem menos de 20 centímetros de altura e dois botões em forma de retângulos coloridos, um verde e um vermelho, que indicam, respectivamente, sim e não. Ele é um robô-anjo, especialmente projetado para atender as necessidades de Luana Vitória Brizola de Castilho, de 7 anos. O robô circula, com desenvoltura, pela Escola Municipal Durival de Britto e Silva, no bairro Cajuru, em Curitiba. Faz um caminho programado, feito de retas e curvas marcadas no chão em branco e preto, que vai da sala de aula até o banheiro, para acompanhar a menina, que tem Síndrome de Down e um problema urinário.
O ajudante de Luana foi feito por estudantes entre 11 e 13 anos, que participam de programa de robótica na escola. Eles aceitaram o desafio, proposto pela diretora Anaí Rodrigues. É que antes de Bobô nascer, Luana precisava de alguém sempre ao seu lado para ir ao banheiro. Surgiu então a ideia de criar um auxiliar robótico, que acabou virando o xodó da menina.
Para a mãe de Luana, Elisete Brizola, o uso do robô ajuda na socialização da menina com os colegas. “Ela gostou desde o primeiro dia que viu. Adora tirar fotos com o robô”, diz. Luana tem uma disfunção miccional. “A bexiga dela não se contrai do mesmo jeito que a nossa. Aí ela segura o xixi. Isso dava infecções constantes”, comenta a mãe.
A menina tem acompanhamento médico e precisava levar anotações sobre a quantidade de vezes que foi ao banheiro e, em quantas delas, conseguiu eliminar a urina. Essas informações eram escritas em um caderninho e agora são computadas pelo robô, que registra os apertos de botões feitos por Luana.
Bobô também ajuda Luana a ter mais autonomia. Antes a menina se perdia facilmente pela escola e precisava andar sempre acompanhada. Agora ela consegue ir ao banheiro sozinha e usa as linhas no chão para se orientar sobre direções. “Ela cuida do robô e o robô cuida dela”, comenta a diretora. Também os colegas de Luana querem usar o robô. Às vezes é organizada uma fila na sala para que todos possam ir ao banheiro acompanhados de Bobô, que promove a solidariedade e a inclusão na escola.
Da escola para a competição
Anaí conta que todos tentaram dar outro nome para o robô, mas não houve jeito: Luana já tinha escolhido que ele seria Bobô e continuou chamando-o assim. O projeto começou a ser desenvolvido em julho do ano passado. Está na terceira versão – o robô já teve duas rodinhas e agora tem quatro, para ganhar mais estabilidade e melhorar a direção. Está sendo constantemente aperfeiçoado. As peças são parte de um kit da Lego, que custa aproximadamente R$ 3 mil. Em busca de robôs mais baratos e mais programáveis, os alunos começaram a trabalhar com placas de arduinos. A equipe Conectados, responsável por Bobô, é campeã paranaense na Olimpíada Brasileira de Robótica e disputará, neste sábado (3), o bicampeonato.
Em abril, os alunos foram para os Estados Unidos representar o Brasil numa competição de robótica. “Eu era tímida e não me comunicava com as pessoas. Agora consigo falar em público e aprendi a trabalhar em equipe”, conta Monique Nogueira, de 12 anos. O grupo, que escolheu o nome Conectados, se reúne todos os dias, no contraturno escolar. Para fazer parte da equipe é preciso passar por um processo de seleção. Além de programação, estudam filosofia. “Somos incentivados a discutir valores”, conta Maria Eduarda Mello, de 12 anos.
Alguns dos alunos estão no projeto há quatro anos. Já desenvolveram aplicativos para monitorar risco de enchente e formas de recolher e reciclar chiclete, que depois de preparado com gesso e cola, se transformou em peças. Agora a equipe trabalha em um drone semeador, que eles pretendem que espalhe citronela na beira de rios, como medida para afugentar o mosquito da dengue.
O projeto de robótica faz parte das políticas públicas da prefeitura de Curitiba há mais de uma década. Nem todas as escolas fazem parte do projeto. Atualmente, são 80 alunos participantes. O custo do projeto fica restrito ao salário dos professores, pois os kits adquiridos no passado permitem que os protótipos sejam desmontados e novas propostas sejam executadas.