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Curitiba e o plano da “não mobilidade”

Rua Izaac Ferreira da Cruz: novo eixo de adensamento da capital. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Rua Izaac Ferreira da Cruz: novo eixo de adensamento da capital. (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Mais amplo que a versão em vigor, o novo Plano Diretor de Curitiba, em tramitação na Câmara Municipal, sugere uma mudança de peso na estrutura urbana da capital paranaense. De maneira geral, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) moldou uma proposta na qual imagina uma cidade mais vertical e densa, ao longo de novos eixos estruturantes – onde a ocupação deve ocorrer de forma semelhante à Avenida Sete de Setembro –, e novos eixos de adensamento, onde também haverá incentivos para novas habitações e empreendimentos, mas em menor grau. A expectativa é de que daqui a 50 anos, quando esses eixos estiverem consolidados, Curitiba tenha dobrado a oferta de uma de suas principais marcas: o ônibus de trânsito rápido (BRT). A mudança não altera em nada o projeto do metrô curitibano.

Quem está acostumado a olhar o mapa da capital paranaense vai ver que a proposta é acrescentar ao principal eixo que corta a cidade, de Norte a Sul, um entrelaçado de novas regiões de adensamento no sentido Leste-Oeste. Nas palavras do presidente do Ippuc, Sérgio Pires, o que está em discussão na Câmara e deve ser votado até outubro próximo, é um plano do “não deslocamento”. “Numa cidade mais compartimentada [com mais regiões abastecidas de comércio e serviços e rodeadas de eixos de transporte], o cidadão deve poder escolher se deslocar ou não.”

Os novos eixos já são importantes em termos de transporte, mas devem, com o passar do tempo, receber mais investimento nessa área. O modelo previsto para isso é o mesmo de hoje, de sistema trinário de trânsito, com três vias paralelas como condutoras do transporte e o BRT, como principal estrela, em uma delas – sem esquecer da experiência da Via Calma na Sete de Setembro. Embora o Ippuc diga que ainda há necessidade de mais estudos para definir quais vias receberão, no futuro, mais ônibus e ciclovias, a Gazeta do Povo localizou no mapa algumas das mais prováveis (veja no gráfico).

De maneira geral, Pires diz que a nova estruturação urbana da cidade tem potencial para dobrar a oferta de BRTs, em Curitiba, atualmente em 81 quilômetros. De acordo com dados da Urbs, os seis eixos de BRT existentes na capital transportam diariamente cerca de 540 mil passageiros, quase um quarto dos passageiros de todo o sistema integrado. O maior volume está na linha Santa Cândida / Capão Raso, com 170 mil pessoas por dia, chegando a picos de 45 mil passageiros nos dois sentidos nos horários de rush.

Não há mais espaço para se trazer empresas como a Volvo [para dentro de Curitiba]. Foi daí que surgiu, nas discussões, essa proposta desse tipo de estruturação, de jogar para o Leste uma malha de transporte com novos eixos de adensamento, propiciando a formação de novos subcentros.

Sérgio Pires presidente do Ippuc.

Mas o BRT só chegará onde houver demanda. Pode parecer um pensamento óbvio, mas um sistema que tem perdido passageiros nos últimos anos por uma série de fatores – das falhas de qualidade à simples escolha de muitos por andar de carro – não pode se dar ao luxo mais de chegar antes de um adensamento populacional que possa sustentá-lo.

Colaborou: Fernanda Trisotto

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