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 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo
| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo

Quase metade dos curitibanos diz ter medo de ser assaltada e 75% deles afirmam se sentir menos seguros hoje do que há cinco anos. As constatações são de uma pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo ao Instituto Paraná Pesquisas. O levantamento foi realizado com 436 moradores de Curitiba entre os dias 17 e 18 de maio. As entrevistas revelaram ainda que 57% dos curitibanos acreditam que a capital não é uma cidade segura.

O medo de assalto é justificado pelos números oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Paraná. Entre 2010 e 2015, houve um crescimento de 27% nos casos de roubos em Curitiba e de 19% no estado inteiro. De acordo com a pesquisa, entre os crimes mais temíveis pelos curitibanos, 43% citaram assalto, seguido de homicídio e latrocínio, o roubo seguido de morte (15% cada).

INFOGRÁFICO: Sensação de insegurança

Medo, mesma raiz da raiva

O psicólogo Akel Filho explica que o medo tem a mesma origem emocional da raiva. O primeiro, no entanto, impõe um recuo, a fuga de quem sente. O segundo pode gerar a agressão. “Fisiologicamente, no entanto, as duas têm a mesma raiz”, comentou. Ele mencionou que a sociedade, sob o aspecto coletivo, se sente atualmente muito mais frágil que em momentos da história anteriores.

“A pesquisa pode indicar a constatação de que há uma sensação de impotência muito grande diante de um inimigo comum, a violência. A resposta da sociedade acaba sendo o medo ou o isolamento”, pondera. Esse medo, lembrou o professor, pode gerar patologias, como a depressão, isolamento social, quando é um sentimento extremo. “São sinais claros de um sentimento em indivíduos que têm que conviver atualmente em meios agressivos”, explica.

Os dados do levantamento acompanham a realidade estatística do principal indicador de violência do estado: os homicídios dolosos (com intenção de matar). No mesmo período, houve uma queda de 40% nos casos de assassinato na capital, embora a taxa de 24 homicídios para cada 100 mil habitantes ainda seja considerada epidêmica. O índice tolerável pela Organização Mundial de Saúde é de no máximo 10 casos por 100 mil.

Explicações

Para especialistas, além da violência propriamente dita, a sensação de insegurança pode ter outras explicações como a descrença no poder público e a cobertura sensacionalista da mídia. O sociólogo Cézar Bueno, da PUCPR, lembra que a falta de uma política de segurança pública adequada caminha lado a lado com a realidade violenta. Na avaliação dele, as pessoas temem menos o homicídio porque é um crime que, em geral, atinge uma parcela da população que está à margem das políticas públicas, como usuários de drogas e moradores da periferia. Já os assaltos ocorrem de maneira uniforme na cidade, lesando o patrimônio privado e traumatizando a sociedade.

O coordenador do curso de Psicologia da PUCPR, Naim Akel Filho, ressalta também aspectos ligados ao meio urbano. Ruas mal iluminadas e estabelecimentos carregados de equipamentos de segurança geram uma imagem de ausência do poder público. “Há uma descrença nos agentes que deveriam garantir a nossa segurança e uma sensação de que os ‘inimigos’ estão mais organizados que o Estado”, destaca.

Na avaliação de Bueno, há ainda a cobertura exagerada da mídia, feita sem reflexão, que contribui com a sensação de insegurança. “Os meios de comunicação de massa aumentaram o tempo dos programas que tratam sobre violência. Seu público-alvo é basicamente educado pela televisão, o que gera essa consequência. Mas, o problema é a forma sem reflexão que as informações são jogadas no ar”, afirma. Segundo ele, as redes sociais reforçam o impacto midiático da violência porque apostam também em compartilhamentos de informações erradas.

O Paraná Pesquisas comparou o estudo com pesquisas anteriores, mas a resposta apresentada foi que não houve variação considerável, ou seja, o resultado ficou fora da margem de erro de 5 pontos para mais ou para menos. Por exemplo, em 2014, o mesmo estudo foi realizado e 75% dos entrevistados consideraram Curitiba menos segura que cinco anos antes.

Roubos refletem contexto de crise, diz o governo

A Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) afirmou, em nota, que conhece o problema envolvendo crimes patrimoniais, que é, segundo a pasta, impulsionado pelo contexto social de crise econômica, recessão e desemprego. A Sesp informa que faz análises dos locais onde há mais incidências policiais e considera este instrumento um dos mais importantes para combater o crime.

Além disso, a nota menciona que há um pacote de medidas para reduzir crimes, discutido com o governador Beto Richa recentemente, que inclui a aquisição de, pelo menos, mil novas viaturas policiais e compra de armas longas e pistolas para as polícias.

“Os problemas enfrentados pela segurança pública não são exclusivos do Paraná, como a própria população reconhece, de acordo com a pesquisa mencionada”, destaca o texto. A pasta ainda orienta a população sempre registrar boletim de ocorrência. O BO é um instrumento fundamental para orientar a polícia sobre quais são os locais com mais incidência de crimes.

Sobre os homicídios, a Sesp ressaltou que o estado apresentou consecutivas quedas nos últimos anos, “resultado de um trabalho focado na redução dos crimes contra a vida”. A nota do governo não menciona os resultados da pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo sobre a sensação de segurança.

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