A má distribuição dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) neonatais, somada à falta de infraestrutura e de profissionais capacitados, é o principal entrave para a saúde pública destinada a recém-nascidos no país.
Segundo a pesquisa Munic 2014, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada recentemente, apenas 6,6% das 5.560 cidades brasileiras têm vagas de atendimento pela rede pública de saúde – a maioria dessas situadas no Sudeste do país.
No Paraná, o cenário se repete. Das 22 regionais de Saúde do estado, três não têm nenhum leito de UTI neonatal. Além disso, há uma grande disparidade no número de leitos oferecidos entre as diferentes regionais.
Se na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), por exemplo, há 177 vagas via Sistema Único de Saúde (SUS), no outro extremo do estado, na regional de Foz do Iguaçu, há apenas oito leitos. Depois da RMC, a regional com mais leitos é a de Maringá, com 22.
Essa situação coloca em risco a vida de bebês que nascem prematuros, com má formação ou doentes. “A impossibilidade de se implantar UTIs neonatais em todos os municípios, principalmente por motivos econômicos, obviamente dificulta o atendimento aos recém-nascidos”, afirma o médico Adauto Dutra Moraes Barbosa, do Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ele ressalta ainda que os leitos deveriam ser distribuídos de forma regionalizada.
No entanto, dos 381 leitos que atendem a saúde pública no estado, 46% estão localizadas na regional de Curitiba. Das 109 vagas criadas nos últimos cinco anos, a maioria também se concentrou na regional da capital: 68.
A regional de Ponta Grosa, por exemplo, ganhou apenas quatro novos leitos no mesmo período. A de Campo Mourão continua com as mesmas cinco vagas de UTI neonatal que tinha em 2010. A regional de Londrina também continua com as 21 vagas que oferecia cinco anos atrás.
Barreiras estruturais
Segundo a superintendente de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Márcia Huçulak, essa distribuição desigual não é proposital.
Ela explica que o governo priorizou abrir novos leitos em locais onde já havia infraestrutura e profissionais capacitados para atuar em UTI neonatal. “Um leito de UTI não se cria do dia para a noite. Buscamos ampliar onde já havia estrutura.”
Ela diz que não basta apenas criar leitos, mas é imprescindível ter equipes capacitadas para atuar na UTI e em procedimentos específicos na saúde de recém-nascido, como os cirúrgicos.
“Não adianta ampliar o número de leitos se não houver uma retaguarda hospitalar que dê suporte ao atendimento. É preciso ter uma equipe especializada para atender os casos específicos dos bebês internados em UTI”, diz.