O Paraná tem boa cobertura de rede de esgoto, coleta de lixo e limpeza urbana, na comparação com os demais estados brasileiros. Mas há muitas cidades onde esses serviços são prestados de forma precária. De acordo com dados do Censo 2010 do IBGE, em 173 municípios paranaenses, de 399, a rede geral de esgoto atinge menos de 1% da população local.
INFOGRÁFICO: Saneamento no Paraná e em outros estados
Em cinco cidades, o percentual de população que vive em um entorno com lixo acumulado nas ruas é superior a 30%. Em Antonina, esse número chega a 49%. “Herdamos e damos continuidade a uma cultura de completo descaso e irresponsabilidade com o entorno, tanto no plano do indivíduo como no do coletivo. É no entorno de casa, do trabalho, dos hospitais, que o lixo está acumulado”, observa o geógrafo Francisco Mendonça, professor da UFPR.
LIXO NAS RUAS
As cidades que têm a maior proporção de pessoas vivendo em área onde há lixo acumulado no Paraná são Antonina (49%), Mariópolis (39%), Rio Branco do Sul (39%), Loanda (34%) e Cândido de Abreu (30%). Por outro lado, 113 municípios têm índice zero, segundo o Censo 2010 do IBGE, indicando melhor condição de vida à população.
Surtos epidemiológicos, como o da dengue, do zika ou outros serão cada vez mais frequentes caso o poder público não aumente os investimentos em saneamento. Mendonça e outros especialistas em saúde e gestão ambiental fazem esse alerta, com base na crescente urbanização do país e na adaptação de vetores como o Aedes aegypti a condições cada vez mais adversas.
“Se nós não tivermos como resolver, e não é de um ano para outro, mas se não resolvermos num espaço de uma década a questão do saneamento, associada a uma falta de vacina e medicamento, estaremos avançando para situações epidemiológicas piores”, diz Mendonça.
Para o engenheiro ambiental Carlos Mello Garcias, professor da PUCPR, mesmo nas cidades em que há bom índice de rede geral de esgoto, falta a ligação predial e tratamento adequado. “Se tudo que tem rede geral fosse devidamente tratado, nossos rios não seriam tão poluídos”, afirma. Ele critica a falta de ação do poder público. “A calamidade atual está ligada à falta de saneamento. Ainda não se faz a conexão exata entre a falta dos serviços públicos e o caos nos hospitais”, acrescenta.
O médico patologista Beny Schmidt, professor na Unifesp, diz que o Brasil está há pelo menos 30 anos atrasado no combate especificamente dos mosquitos, sobretudo do Aedes aegypti. “A população precisa saber que lixo e esgoto não canalizado são sinônimos da proliferação de vetores como ratos, baratas, pulgas, moscas e mosquitos transmissores de doenças, muitas delas fatais e, a grande maioria, levando a internações hospitalares que oneram e desgastam o já falido Sistema Unificado de Saúde”, afirma, em artigo distribuído à imprensa.
IBGE mostra onde o problema do lixo e esgoto é maior
Segundo especialistas, surtos causados por mosquitos como o Aedes aegypti são favorecidos pela precariedade do saneamento ambiental, que inclui coleta e destino do lixo, água e esgoto e sistemas de drenagem. Na falta de indicadores municipais recentes para todos esses serviços públicos, o Censo 2010 do IBGE dá um panorama sobre a situação de cada cidade.
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