Encontrar símbolos da história e da cultura negra em Curitiba não é tarefa difícil – os principais marcos estão no Centro da capital, embaixo do nariz de turistas e transeuntes. O que falta é difundir informação sobre a importância destes locais.
Pensando nisso, o pesquisador Thiago Hoshino, em parceria com outros estudiosos, montou um roteiro sobre a cultura afro na capital e que agora está sendo avaliado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) para se tornar, até o fim de 2015, um museu de percurso. “A proposta é sair um pouco da narrativa tradicional do escravo oprimido e também mostrar outras biografias dentro da escravidão. Negros letrados, lutas de escravos etc”, explica Hoshino.
O esforço em dar visibilidade a estes espaços, no entanto, não muda o fato de que a cultura negra é sub-representada na capital paranaense, pondera o presidente da FCC, Marcos Cordiolli. “Curitiba tem um quarto da população de origem africana, o que nunca foi devidamente reconhecido pela cidade.”
Um exemplo é a Praça Zacarias. O chafariz ali instalado foi uma homenagem aos irmãos Antônio e André Rebouças, engenheiros negros e responsáveis pelo primeiro sistema de saneamento de Curitiba –além da ferrovia Curitiba-Paranaguá e da Estrada da Graciosa.
Esta mesma fonte foi palco de conflitos entre escravos e brancos, no século 19. Hoshino, que investigou processos jurídicos do período escravagista, conta que há relatos nos jornais da época sobre disputas pela água. “Quem morava ali reclamava muito que escravos e ‘populares’ iam lá buscar água, tomar banho, as lavadeiras também utilizavam a fonte, e eles [moradores da região] pediam intervenção policial.”
Próximo dali fica o Instituto de Educação do Paraná, onde estudou Enedina Marques, primeira engenheira negra formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e possivelmente a primeira do país.
Em frente ao marco zero da Al. Princesa Izabel – via que leva o nome da princesa que aboliu a escravidão há exatos 127 anos – está a Sociedade Operária Beneficiente Treze de Maio. Idealizada por Vicente Moreira de Freitas para ajudar ex-escravos, o clube aceitava apenas negros. Hoje trabalha com projetos de valorização desta cultura.
A Igreja da Matriz, na Praça Tiradentes, virou um reduto de trabalhadores negros durante sua reforma, entre 1876 e 1893. Há relatos de que o engenheiro Giovani Lazzarini instituiu um fundo que reservava parte dos salários dos próprios pedreiros para pagar a alforria dos colegas sem liberdade, segundo conta a historiadora Marcia Elisa de Campos Graf em seu livro Imprensa Periódica e Escravidão no Paraná. Indiretamente, a reforma deu força à criação da Treze de Maio. Isto porque os negros ficaram sem espaço, uma vez que a população branca passou a ir à missa da Igreja do Rosário, no São Francisco, onde funcionava a Irmandade da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito.