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Efeito estufa

Clima será implacável com lavouras

Nos próximos 17 anos, as safras de soja podem registrar perdas na ordem de 24% por causas das variações do clima | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Nos próximos 17 anos, as safras de soja podem registrar perdas na ordem de 24% por causas das variações do clima (Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)

Agressora e ao mesmo tempo vítima: a agricultura é uma das atividades que mais causam impacto ao meio ambiente e também é o setor da economia que deve ser mais afetado pela perspectiva de alterações no clima. O levantamento feito pelos pesquisadores que compõem o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) indica que – em função de chuvas e secas mais intensas, e oscilações de temperatura – o prejuízo do agronegócio pode alcançar R$ 7,4 bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070. Nos próximos 17 anos, as projeções apontam que as safras de soja podem registrar perdas na ordem de 24%.

A expansão da agricultura muitas vezes é responsável por desmatamentos – principal fator no Brasil para emissões de carbono. A secretária executiva do PBMC, Andreia Santos, argumenta que, aplicando tecnologias e pesquisa, é possível alcançar produtividade usando apenas as áreas já disponíveis para a agricultura. Assim, o setor agrícola brasileiro, que seria um dos mais eficientes do mundo, contribuiria para diminuir a emissão dos gases de efeito estufa e se preveniria de impactos no clima que afetariam a produção. "Quando a gente fala em perdas de R$ 7 bilhões, a discussão se volta para o custo da inação, de não fazer nada agora, que é muito maior do que seria necessário para a adaptação", comenta.

Leva tempo

Uma recente pesquisa realizada pela Embrapa revelou que são necessários dez anos de pesquisa, ao custo de aproximadamente R$ 12 milhões, para desenvolver, testar e produzir uma variedade tolerante a alterações na temperatura e no suprimento de água.

As projeções indicam aumento de 3°C a 6°C na temperatura média das regiões brasileiras até 2100. Essa variação interfere no regime de chuvas e de vazão dos rios, por exemplo, além de atingir culturas que são mais suscetíveis a variações climáticas. As áreas cultivadas com milho, arroz, feijão, algodão e girassol deverão sofrer forte redução na Região Nordeste, com perda significativa da produção.

O assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias Filho, defende que o setor agropecuário nacional tem condições de se adaptar às mudanças climáticas. "A nossa parte na redução de emissão de carbono, nós estamos fazendo", afirma. Segundo ele, em comparação com outras partes do mundo, a atividade agropecuária brasileira é mais eficiente, principalmente no setor pecuário extensivo, com impactos menores por quilo de alimento produzido.

Para a CNA, o passo que poderia contribuir com a expansão de técnicas mais adequadas à preservação ambiental seria a ampliação da extensão rural, com mais profissionais levando conhecimento aos médios e pequenos produtores.

Falta de ousadia trava acordo

Vai de mal a pior o ritmo das negociações na 19.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-19), que começou no dia 11 e vai até a próxima sexta-feira, em Varsóvia, Polônia.

A opinião é da secretária-executiva do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), Andrea Santos. A decisão do Japão, que anunciou metas menos ambiciosas para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, é o principal motivo da falta de boas perspectivas para que os 190 países cheguem ao um acordo sobre compromissos para frear o impacto humano no aquecimento global. Também a Austrália recuou em compromissos assumidos anteriormente.

"A verdade é que nenhum país quer mexer no seu modelo de desenvolvimento", diz Andrea. O discurso vigente no momento, na Polônia, aponta para adiar decisões até o encontro que deve acontecer em 2015, em Paris.

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