Com um cão para cada quatro habitantes, a população canina de Curitiba é estimada em 457 mil animais. Destes, quase metade está nas ruas, ou seja, 40% são cães semidomiciliados (animais que têm dono, mas que ficam soltos na rua virando o lixo, mordendo as pessoas e correndo atrás de cadelas no cio); e outros 3% são cachorros sem dono (vivem nas mesmas condições). As informações são do setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Os números mostram que o caminho mais fácil, rápido e prático para conter os vira-latas seria a castração. A prefeitura de Curitiba tem um projeto com ONGs para esterilizar os animais que vivem soltos em área de risco (leia nesta página), mas, segundo especialistas ouvidos pela reportagem da Gazeta do Povo, esta não é a melhor solução.
A média de vida do cão com dono que vive solto é de quatro anos, enquanto a do cachorro sem dono é a metade. Porém, o animal mantido sob guarda responsável que não vai para a rua e recebe os cuidados necessários pode sobreviver de 8 a 12 anos.
Segundo o professor de Medicina Veterinária da UFPR Alexander Biondo, o ideal seria castrar todo cão que tem acesso às ruas, com ou sem dono, e os outros deveriam ser mantidos sob guarda responsável. "Mas não basta apenas castrar. É preciso orientar a população sobre os benefícios da guarda responsável", diz. Ele estima que só 5% dos cães curitibanos sejam castrados.
Biondo afirma ainda que o problema do lixo se resolveu na cidade com a educação da população, agora só falta romper a barreira do cão de rua sem dono ou semidomiciliado, tomando o mesmo caminho. Ele citou como referência a ONG Pensa Bicho (pensabicho@hotmail.com), que não faz campanhas de castração nem recolhe animais de rua.
O diferencial da Pensa Bicho são as palestras feitas em escolas sobre a guarda responsável e quais são os cuidados necessários para ter um animal de estimação. A ONG também distribui fôlderes em aproximadamente 150 estabelecimentos comerciais de Curitiba, com o bê-á-bá de como tratar um bicho. "Ninguém deve comprar um animal por impulso", aconselha Karin Birckholz, presidente da Pensa Bicho.
Já a professora dos cursos de Medicina Veterinária e Zoonoses da UFPR Carla Molento lembra que "os únicos países que resolveram o problema são aqueles em que a população entendeu o que é guarda responsável".
Isto inclui o respeito à regra dos cinco "a" no trato de um animal de estimação: alimento, água, abrigo, acasalamento e acesso a tudo isso.
O livro infantil Zoonoses, bem-estar animal e guarda responsável, lançado pelos professores Carla Molento e Alexander Biondo, traz estas e outras dicas do gênero, como doenças que os animais podem transmitir para o ser humano.