A intensificação das imigrações europeias aliada ao auge do ciclo da erva-mate foi a receita para que o Paraná desse os primeiros passos rumo à industrialização no século 19. O extrativismo do mate abriu espaço para que as primeiras fábricas surgissem na então província paranaense. O beneficiamento e empacotamento da erva destinada aos mercados interno e externo contribuíram de maneira decisiva para esse processo.
A vinda dos imigrantes, por sua vez, criou um nicho de mercado para o consumo de bens não duráveis. Além disso, como constata o historiador Renato Carneiro, diretor do Museu Paranaense, muitos imigrantes – sobretudo alemães e italianos – sempre tiveram um pé na industrialização.
“Eles vinham para cá com a incumbência de atuar no campo, mas alguns deles nunca tinham trabalhado com lavoura. Ficavam um tempo e depois iam para as cidades”, afirma. Dessa forma, parte deles foi responsável por montar as primeiras indústrias alimentícias na região.
O início
O historiador Dennison de Oliveira, autor do livro “Urbanização e Industrialização no Paraná”, conta que, no começo do ciclo ervateiro no Paraná, os comerciantes recebiam a erva já beneficiada do produtor. Porém, era necessário um cuidado maior para garantir a exportação. Tornou-se, então, imprescindível adotar técnicas para vender um produto de qualidade.
“Gradualmente os comerciantes foram adotando determinadas práticas que convergiam para a obtenção de um nível de qualidade da erva a um custo que entendiam ser compatível”, afirma Oliveira. O resultado final de todo esse processo foi a instauração de uma indústria da erva-mate.
Ele acredita que os primeiros engenhos de erva, que funcionavam em Curitiba e no Litoral, foram a experiência inicial do capitalismo industrial no estado. Segundo os estudos de Oliveira, no ano da emancipação política da Província do Paraná, em 1853, havia em Morretes 47 engenhos de erva-mate e em Curitiba, 29.
Estrada da Graciosa
A construção da Estrada da Graciosa, iniciada em 1853 e concluída em 1873, intensificou ainda mais as atividades dessa indústria, colocando em contato mais fácil e rápido os fornecedores da folha da erva com os engenhos, que se situavam a meio caminho entre os produtores e o Porto de Paranaguá. “Aos poucos, os engenhos foram subindo do Litoral para ficarem mais próximos do local de plantio da erva”, afirma Carneiro.
A indústria do mate gerou, consequentemente, a necessidade de novas fábricas. A manutenção dos engenhos, a embalagem e o transporte da erva requeriam considerável soma de empresas voltadas para áreas como metalurgia, carpintaria e gráfica.
“Toda a cadeia produtiva passou a ser necessária. Junto com esse processo , veio a necessidade de se produzir mais alimentos, pois a população estava aumentando, o que fez surgir também as indústrias alimentícias”, ensina Carneiro. Foi exatamente nesse caminho que grande parte dos imigrantes europeus no Paraná apostou.
No entanto, durante a I Guerra Mundial (1914-1917), a indústria do mate entrou em recessão e começou a ser substituída. Já nos anos 1920, a madeira e o café passaram a ser os carros-chefes da economia paranaense. “Mas a semente da industrialização paranaense já estava plantada com a erva-mate”, atesta Carneiro.