Em agosto de 2014, a curitibana Diane Susele perdeu o emprego na multinacional em que trabalhava havia quatro anos e onde recebia um auxílio-creche que cobria mais da metade do valor da mensalidade escolar dos dois filhos. Um mês depois, foi o marido, Douglas Silva, quem ficou sem trabalho. Com o seguro-desemprego e uma reserva financeira, o casal ainda conseguiu manter os filhos na escola particular até o fim daquele ano. No início de 2015, o jeito foi colocar a filha Sophia, de 6 anos, na rede pública de ensino. O filho Pedro, de 4 anos, não conseguiu vaga nos Centros Municipais de Educação Infantil de Curitiba e foi para uma instituição sem fins lucrativos com mensalidade mais acessível.
A história da família reforça um movimento que se tornou mais comum no país com a crise econômica: a migração de estudantes de escolas particulares para públicas. Em setembro, uma pesquisa do Ibope Inteligência para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que a dificuldade financeira levou 13% dos entrevistados a tirar os filhos de escola privada de junho de 2014 a junho deste ano. A pesquisa, com margem de erro de dois pontos porcentuais, foi feita entre os dias 18 e 21 de junho de 2015, com 2.002 pessoas. Em 2013, esse porcentual era de apenas 4% e em 2012, de 7%.
O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), Jacir Venturi, diz que a perda do poder aquisitivo das famílias e o desemprego levaram ao aumento da inadimplência nas instituições do Paraná, especialmente nas escolas com mensalidades em torno de R$ 500 e que atendem à nova classe média brasileira. “São escolas com alunos oriundos de famílias que tiveram ascensão social e econômica nos últimos anos”, diz. Segundo Venturi, ainda que inadimplentes, os pais normalmente seguram os filhos na escola até o final do ano. Além de o atraso no pagamento implicar em juros baixos, de 1% ao mês, a escola não pode aplicar sanções pedagógicas, como impedir o acesso à sala de aula, suspender provas ou reter documentos escolares. Conforme a Lei n.º 9870/1999, o desligamento do aluno por inadimplência só pode ocorrer ao término do ano letivo.
De acordo com o presidente do Sinepe, muitas escolas só começarão as matrículas para 2016 em novembro, por isso ainda é muito cedo para dizer quantos alunos sairão das particulares do Paraná. Mesmo assim, ele avalia que a rede privada chegou ao fim de um ciclo de crescimento. “Nestes últimos dez anos, na educação básica do Paraná, as escolas públicas apresentaram quedas em suas matrículas: as estaduais, de 165 mil; e as municipais, de 43 mil. Neste mesmo período, a rede privada obteve um incremento de 88 mil alunos. Mas em 2015 esse aumento foi mínimo, o que indica que a curva de crescimento provavelmente atingiu o ponto de inflexão”, afirma.