É possível dizer que os espetáculos realistas – que imitam a “vida real” a ponto de nos fazer esquecer que estamos diante de um palco – são minoria na grade do Festival de Teatro deste ano. Mas um exemplo típico é Silêncio!, obra que estreou no Rio de Janeiro em agosto passado, com texto de Renata Misrahi, e está escalada para os dois primeiros dias da mostra principal.
A dramaturga e diretora já veio ao evento em 2008, com a segunda peça que escreveu na vida, Nada do Que Eu Disser Será Suficiente Até Que o Sol Se Ponha. Lembrando das “críticas pesadas” que recebeu na época, ela garante que, neste seu 17.º texto, mudou muito.
O registro realista foi considerado ideal por ela para contar uma história que a capturou em 2013, sobre polonesas que chegaram ao Brasil no início do século 20 acreditando estar destinadas a um casamento entre judeus, mas que acabaram sendo obrigadas a se prostituir.
Quem fala sobre o assunto é uma família de sete pessoas, representando três gerações, que se reúne para jantar. O tempo que eles ficam à mesa, cerca de 1h20, é o tempo real da peça. “O que acontece antes ou depois daquela noite não importa. Sabe um daqueles jantares que mudam sua vida?”, diz Renata.
Esta também é a segunda peça que ela dirige, um trabalho que, diz, foi feito “em função dos atores em cena”. Isso porque, ao melhor estilo realista, o foco está totalmente nos diálogos, gestos e interjeições dos personagens. A escolha de atores pelo jeito foi acertada, já que o trabalho levou o prêmio de melhor atriz para Suzana Faini no Cesgranrio, em janeiro, e concorre no dia 17, na mesma categoria, ao Shell–etapa Rio.
Manchas do absurdo
Já no último fim de semana do Festival, Curitiba recebe um outro tipo de realismo, manchado pelo cômico absurdo da pena do americano Nicky Silver, em Adorável Garoto (autor de Pterodátilos e Os Altruístas, entre outras peças que já foram encenadas no Brasil). Com direção de Maria Maya e cinco atores no elenco, o espetáculo aborda as relações familiares e a sexualidade por meio de uma trama aparentemente banal: um rapaz volta para casa e se depara com problemas de comunicação. Uma decisão que ele toma piora as coisas.
O texto de Silver já foi comparado ao dos dramaturgos Eugene Ionesco e Edward Albee, passando do cômico ao trágico.
Numa entrevista ao jornal O Globo,em 2011, o autor disse: “Não sei se o humor é uma forma, uma arma ou um instrumento que nos leva a resolver as coisas, mas acho que é a única ferramenta que nós, como seres humanos, temos para sobreviver.”