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Denúncia

PMs relatam excessos em formação

Alunos da corporação dizem que sofrem agressões físicas e são forçados a inalar gases de bombas de efeito moral | Arquivo/Gazeta do Povo
Alunos da corporação dizem que sofrem agressões físicas e são forçados a inalar gases de bombas de efeito moral (Foto: Arquivo/Gazeta do Povo)

O sonho de se tornar policial militar tem se transformado em pesadelo para muitos paranaenses que lutam para ingressar na corporação. Três batalhões da Polícia Militar (PM) de Curitiba estão envolvidos em denúncias de excessos cometidos no treinamento de alunos de cursos de formação da instituição. Os relatos descrevem as mesmas práticas: torturas físicas e psicológicas, com direito a castigos pesados, punições severas e perseguições, além de falta de infraestrutura.

Na manhã de ontem, o comandante-geral da PM no estado, coronel Roberson Bondaruk, reconheceu que foram cometidos abusos no 13.º Batalhão, que teve seu coordenador de curso substituído. Em seguida, a Associação de Defesa dos Interesses dos Policiais Militares (Amai) informou que os casos se repetem em escolas de formação de pelo menos outros dois batalhões: Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) e 20.º Batalhão. "Desde o início de novembro temos comunicado à Corregedoria da PM e ao diretor de ensino sobre as denúncias", disse o advogado da Amai, Marinson Luiz Albuquerque.

Ao menos dois casos que chegaram a Amai se referem a policiais em formação que sofreram lesões na coluna ao longo do curso. Um dos casos envolve uma aluna do BPTran que foi obrigada a carregar um toco de madeira durante parte de um percurso de dez quilômetros, pelo Caminho do Itupava. O outro caso diz respeito a um soldado que foi forçado a correr 14 quilômetros ininterruptamente, sob ritmo ditado por uma viatura que ia à frente. Resultado: além de lesões na coluna, o soldado sofreu ferimentos nos joelhos. Com cirurgia marcada para daqui a duas semanas, ele corre o risco de não poder exercer trabalho policial nas ruas.

Os relatos mostram ainda que os alunos em formação eram obrigados a passar por "corredores poloneses" (em que eram agredidos por policiais), forçados a inalar gases de bombas de efeito moral e a ficar com os braços levantados por horas seguidas.

"Tortura psicológica"

As denúncias também descrevem práticas definidas pelas vítimas como tortura psicológica. A ocorrência mais grave é a da aluna do BPTran, que afirma ter sofrido assédio sexual. Depois que um cabo tentou beijá-la à força, ela acabou transferida para outra unidade. A aluna afirma que sofreu perseguição desde o início do curso, quando o coordenador disse que ela "não tinha o perfil" para ser policial. O caso é apurado pela Corregedoria da PM.

Os plantões de fim de semana também se tornavam castigos. Segundo os policiais em formação, ao mínimo deslize, eles eram convocados a trabalhar aos sábados e domingos. Além de cuidar da limpeza do quartel, chegavam a fazer serviço de pedreiro e a capinar terrenos.

Comandante reconhece abusos

Na manhã de ontem, o comandante da PM, coronel Roberson Bondaruk, reconheceu a existência dos excessos relatados por alunos do curso de formação do 13.º Batalhão. Ele afirmou que adotou medidas para coibir novos casos e que determinou a substituição do coordenador do curso. "Houve problemas de falta de estrutura. Excessos no treinamento, rigor excessivo. Não é a tônica na formação dos nossos alunos. Mas isso foi devidamente administrado e a escola já está se formando dentro de uma nova visão", disse.

Após a denúncia de que alunos de outros batalhões também sofreriam abusos, a PM emitiu uma nota afirmando que "providências já foram tomadas". A corporação afirma que os casos no 20º Batalhão e no BPTran seriam pontuais: dois registros entre 2,5 mil alunos. A instituição ressalta que "não compactua com os abusos".

Bondaruk será ouvido hoje pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Ele deve falar sobre uma ação da PM no Bairro Alto, que terminou com denúncias de agressões físicas, tortura e racismo contra moradores. Segundo o deputado Tadeu Veneri (PT), a comissão também deve questioná-lo sobre os novos casos de excesso.

Para o advogado da Amai, Marinson Luiz Albuquerque, a má formação dos policiais gera um círculo vicioso. "O clima de terror que está sendo colocado internamente é o que ocasionando esses abusos que a gente vê na sociedade", afirma.

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