Apesar de assistir 80% dos brasileiros que procuram atendimento médico, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem à disposição a metade dos equipamentos clínicos em operação no país. No caso de aparelhos para diagnóstico por imagem, a situação é pior: apenas um terço do total serve ao SUS, segundo o banco de dados do Ministério da Saúde. Proporcionalmente à demanda, existem mais equipamentos alocados na rede privada do que na pública. A única exceção é na área de manutenção da vida, como respiradores mecânicos, reanimadores e desfibriladores. Aproximadamente 67% dos 515.596 equipamentos estão a serviço do SUS.
No Paraná, o panorama é semelhante. Perto de 50% dos aparelhos são usados no atendimento público e 33% dos 8.682 equipamentos de diagnóstico por imagem (raio-x, mamografia e ecografia, por exemplo) pertencem ao SUS. Outro problema é a distribuição desigual dos aparelhos. No Paraná, 37% dos equipamentos por imagem, por exemplo, se concentram em seis das maiores cidades do estado (veja infográfico).
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Alexandre Bley, os números demonstram a necessidade de o poder público investir mais em estrutura para dar condições de trabalho aos médicos. "Com o avanço da tecnologia, equipamentos para a realização de exames são necessários para evitar possíveis erros. Mas o governo não disponibiliza esses meios para que possamos trabalhar de forma adequada na saúde pública", explica.
Argumento
A falta de estrutura de trabalho é o principal argumento da classe médica para justificar o baixo índice de profissionais nas periferias do país. No Paraná há uma média de 1,87 médico para cada mil moradores, segundo o estudo Demografia Médica no Brasil, do Conselho Federal de Medicina (CFM). Se levar em contar apenas profissionais que atuam no SUS, a taxa no Paraná cai para 1,06.
No Brasil, a proporção de profissionais na saúde pública é a metade da taxa total. Enquanto no SUS a razão é de um 1,11 médico para cada mil habitantes, a relação nacional é de 2 para cada mil. Na Argentina, por exemplo, a média é de 3,2 médicos por mil moradores.
A desigualdade na distribuição dos profissionais fica evidente quando se compara municípios de diferentes portes. Curitiba, por exemplo, tem 5,7 médicos por mil moradores enquanto a média em cidades de 10 mil a 50 mil habitantes no estado é de 0,6.
Segundo Bley, a baixa qualidade de vida de algumas cidades e a falta de perspectiva de uma carreira no SUS também afastam os profissionais. "Hoje a contratação dos médicos é, na maioria dos casos, terceirizada. Não existe um plano de carreira."
Equipamento não é desculpa para falta de médico, diz especialista
A professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Ximena Pamela Bermudez, é categórica ao afirmar que equipamentos não são suficientes para salvar vidas. "Primeiro precisamos de médicos onde não tem. A ideia de que a tecnologia resolve tudo é equivocada", ressalta. Segundo o Ministério da Saúde, 80% dos problemas de saúde podem ser resolvidos na atenção primária, com ações de prevenção e diagnóstico precoce.
"A medicina é uma ciência voltada ao lado social, para salvar vidas. Se tivesse médico em lugares remotos do país haveria atenção básica pelo menos", diz Ximena. "Infelizmente, os médicos não vão para cidades de menor porte. Há falta de conhecimento sobre essa necessidade. Muitos ainda têm uma visão individualista e, até mesmo, mercantilista da profissão", afirma a professora.
Trabalho