Londrina - Uma pulseira à base de óleo de citronela, planta apontada como repelente natural para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, já está à venda em algumas farmácias do Paraná. Ao exalar o odor da citronela, o fabricante garante que a pulseira mantém longe diferentes tipos de insetos. Mas a eficácia desse produto, assim como de outros tipos de repelentes, é questionada por autoridades de saúde e especialistas da área.
Licenciada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a pulseira de citronela tem eficácia de 87%, segundo o empresário Diego Reis, da Bye Bye Mosquito, que comercializa o produto há cinco anos no Brasil. Segundo ele, o efeito tem duração de 120 horas. Feito de plástico, o acessório pode ser usado em qualquer ambiente. "O produto é atóxico", diz Reis. A restrição ao uso fica para crianças de 0 a 3 anos.
"Estamos exportando [as pulseiras] para África para combater o mosquito da malária", conta. Apesar de atestar que o produto funciona, ele diz que é impossível garantir que o usuário da pulseira nunca será picado por um inseto. "Usar a pulseira é um dos métodos preventivos".
De acordo com a especialista em cosmético da Anvisa, Erica França, a pulseira tem a vantagem de não exigir a aplicação do produto no corpo todo, como as fórmulas em loção ou spray. "Esses produtos são coadjuvantes. Se a gente aplicar de manhã, não quer dizer que vai ficar protegido o dia todo", compara. Ela afirma que a pulseira repele os mosquitos pelo odor natural da planta.
Em relação ao uso de repelentes convencionais, Erica orienta os consumidores a seguirem as recomendações dos fabricantes sobre prazo de reaplicação, verificar restrições de uso, reações alérgicas possíveis e se possui registro na Anvisa.
Ela diz que não existe um produto específico para repelir o Aedes aegypti. Para aprovar um repelente, a Anvisa realiza testes com três tipos de mosquito, entre eles o da dengue. Mas a recomendação das autoridades sanitárias é, sempre, seguir as orientações do Ministério da Saúde (MS) para eliminar os criadouros do mosquito, evitando depósitos de água limpa e parada.
O entomólogo pesquisador que estuda insetos e professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), José Lopes, teme que a divulgação do uso de repelentes atrapalhe as campanhas de combate à dengue, caso a população deixe de tomar os cuidados básicos de prevenção. Para ele, o produto ajuda a se proteger "no auge da guerra", ou seja, numa eminência de epidemia. "O repelente é importante, principalmente, para as pessoas que estão com dengue. Elas são o reservatório que vai contaminar um monte de mosquitos", justifica. Segundo o professor, armadilhas contra o mosquito não funcionam, assim como plantar a citronela no quintal de casa. "Ela não repele [os insetos] por mais de 10 minutos. Nosso problema não é repelir, mas evitar que o mosquito se reproduza".
Autoridades da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e Secretaria Municipal de Saúde de Londrina reforçam a recomendação para que os focos do mosquito sejam eliminados. "Repelente pode ser útil para uma região infestada. Mas dificilmente essas ações dão resultado", avalia o superintendente de Vigilância em Saúde da Sesa, Sezifredo Paz.
A médica infectologista do Hospital Universitário (HU) de Londrina, Jaqueline Dario Capobiango, atenta que, para ter uma boa resposta, o produto precisa ser reaplicado a cada duas ou três horas. "Todo repelente tem risco de provocar alergias", acrescenta. Ela diz que o uso é eficaz apenas para as pessoas que vão ficar expostas a um ambiente com mosquitos durante um curto período. "Mas isso não serve para o dia a dia".