O assassinato do carregador Felipe Osvaldo da Guarda dos Santos, 19 anos, levou o governador Roberto Requião a considerar a possibilidade de existência de um grupo de extermínio na Polícia Militar. Santos foi morto com cerca de 30 tiros, na madrugada do último dia 25, por policiais da Rotam (Rondas Ostensivas Tático Motorizadas) que atendiam uma suposta tentativa de furto de veículo no bairro Umbará. Na semana passada, o deputado federal Dr. Rosinha (PT) denunciou que Santos e outros três detentos foram torturados no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São José dos Pinhais, em novembro do ano passado, o que reforçou a suspeita de execução.
"Não foi uma operação policial, foi uma operação de esquadrão da morte", afirmou Requião em pronunciamento oficial. Ele rebateu a versão dos policiais, de que havia um furto em andamento. "A denúncia de roubo não era verdade, o carro era da mãe do rapaz. Até a arma pode ter sido plantada", disse Requião em relação ao revólver calibre 38 encontrado com Santos. "Temos que investigar para ver se não existe implicação com o tráfico de drogas, que poderia ligar a polícia ao rapaz." Sobre a possibilidade de existência de um grupo de extermínio no estado, Requião foi claro: "No Paraná não. É um aviso aos oficiais da Polícia Militar."
Não foi a primeira vez que o governador se referiu a um assassinato cometido por policiais. Em junho de 2005, Requião afirmou que o sub-comandante do 13.° Batalhão da PM, major Pedro Plocharski, morto em janeiro daquele ano, foi assassinado por policiais, por investigar "irregularidades dentro do Batalhão". "Ele descobrira as conexões e o envolvimento de comandados seus com o crime organizado", afirmou Requião. Além da morte de Felipe dos Santos, policiais militares mataram neste ano o pedreiro Édson Elias dos Santos, na madrugada do dia 17 de fevereiro, no Largo da Ordem, Centro de Curitiba.
A suspeita de que Santos foi morto de forma intencional por policiais militares é reforçada pelo integrante de um Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de um bairro de Curitiba, que pede para não ter o nome revelado. "Certos setores da PM são grupos de extermínio mesmo. Se deixarem tudo como está, vão matar a torto e a direito", comentou. "Isso sem falar nos (policiais) que não fizeram o treinamento completo e que vão para as ruas, como no ano passado. Eles pensam que são a lei e que podem matar."
Em nota divulgada ontem, o comandante-geral da PM, coronel Nemésio Xavier de França, reforçou que os policiais envolvidos nas duas mortes registradas neste ano foram afastados e que determinou a instauração de inquéritos.
A Secretaria de Estado da Justiça (Seju) só determinou a abertura de um processo administrativo para investigar a denúncia de tortura no CDP no dia 6 de janeiro deste ano, apesar de ter recebido a informação em novembro do ano passado. Até agora, o único afastado foi o agente penitenciário que fez a denúncia. Seis agentes acusados de participar de sessão de tortura continuam trabalhando no CDP. A Seju não comenta o assunto.