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Exceção à regra, o recém-formado Rafael Vanin de Moraes, 25 anos, vai tentar uma vaga de residência na área de clínica médica: questão de gosto pessoal | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Exceção à regra, o recém-formado Rafael Vanin de Moraes, 25 anos, vai tentar uma vaga de residência na área de clínica médica: questão de gosto pessoal| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Como funciona a residência

É uma modalidade de ensino de pós-graduação destinada a médicos recém-formados, sob a forma de curso de especialização. Ela ocorre em instituições de saúde, onde o profissional atende diretamente o público e recebe orientações de outros médicos:

Prova

Para ingressar na especialização, o médico precisa fazer um concurso e ser aprovado. Cada instituição é responsável pelas provas para os residentes, que trazem questões sobre assuntos gerais de Medicina. São cerca de 100 questões. O processo seletivo inclui ainda análise de currículo e entrevista pessoal com o candidato.

Custos

Fora a taxa de inscrição da prova, a especialização não tem custos para o médico. Durante a residência, ele recebe uma bolsa mensal, a partir de R$ 1.916,45. Esse valor independe da especialidade escolhida. Algumas instituições podem reajustar para mais a bolsa, de acordo com a avaliação do hospital onde o residente atua.

Tempo

A duração de cada uma das 53 residências varia de acordo com a complexidade das especializações. Em média, elas duram de dois a quatro anos. Algumas residências exigem que o médico tenha concluído uma outra especialização primeiro. É o caso da neurocirurgia, que tem como pré-requisito dois anos de residência em cirurgia geral.

Condição

A residência médica não é obrigatória. Médicos que não fazem a especialização podem exercer a profissão normalmente, como clínico-geral. Eles apenas não poderão portar o título de especialistas.

Alternativa

O título de especialista também pode ser concedido por meio do reconhecimeno formal, por um órgão de certificação profissional, da apropriação de conhecimentos específicos em uma determinada especialidade.

Concurso

Cursinho para passar na residência

Recém-formado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Rafael Vanin de Moraes, 25 anos, não teve tempo de abandonar os livros e as pesquisas. Dois meses depois de receber o diploma, ele agora aproveita o tempo livre para estudar para a prova que muitos médicos chegam a considerar como um segundo vestibular: o concurso de residência médica. Os estudos, inclusive, são reforçados com a presença em um "cursinho" que resgata e relembra ensinamentos passados ao longo dos seis anos de curso.

Moraes pretende participar de pelo menos oito provas no fim deste ano, tanto em Curitiba quanto em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A especialidade em mente é a de clínica médica, que serve como requisito para outras residências mais complexas, como cardiologia e oncologia. A opção, reconhece o médico, é uma exceção diante das preferências dos colegas recém-formados e outros participantes do cursinho, que têm optado principalmente por áreas como oftalmologia, dermatologia e otorrinolaringologia. "No meu caso, é mais uma questão de gosto pessoal. E ao fazer clínica médica, terei mais uma série de outras residências que posso escolher para me especializar", explica.

Dificuldade

Passar na prova para garantir a especialização, porém, não é tarefa fácil. As residências mais cobiçadas são em hospitais integrados a instituições de ensino, como o Hospital das Clínicas de Curitiba, da Universidade Federal do Paraná, por exemplo. No exame, os recém-formados precisam responder a perguntas sobre clínica médica, cirurgia, pediatria, ginecologia e obstetrícia e medicina social.

"A grande maioria dos médicos acaba fazendo cursinhos preparatórios. A prova de residência é um concurso de alto nível, muito concorrido, que exige bastante empenho do candidato", afirma Moraes.

Melhor remuneração e menos carga de trabalho. Esses atrativos têm influenciado a opção de médicos recém-formados por algumas especialidades no país. Neste ano, os programas de residência registraram uma maior concorrência por vagas em áreas como dermatologia, oftalmologia e otorrinolaringologia. Enquanto isso, especialidades tradicionais, como ginecologia e obstetrícia, sofrem com a baixa procura: das 3.011 vagas disponíveis para residência em 2011, 36% ficaram ociosas. Outras como psiquiatria e anestesiologia também sentem o mesmo problema. Apenas 73% e 74% das vagas disponíveis, respectivamente, foram preenchidas, segundo a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).

O número de vagas ociosas reflete um cenário que permanece inalterado pelo menos há três anos no Brasil. Um estudo do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado em 2009, mostra que anestesistas e psiquiatras, junto dos pediatras, são os três profissionais mais em falta nos hospitais, unidades de saúde e planos privados.

Segundo gestores entrevistados pelos pesquisadores em todo o Brasil, entre as principais razões para a dificuldade na contratação desses especialistas estão a falta de profissionais titulados e o fato de os médicos considerarem baixa a remuneração paga. Atualmente, o Nescon prepara outra pesquisa sobre o assunto, que deve ser publicada ainda neste ano.

"Os novos estudos têm mostrado que, em relação às demandas dos hospitais, a falta de pediatras vêm se agravando", relata o pesquisador Sábado Nicolau Girardi, da UFMG. "Hoje, cerca de 70% dos gestores entrevistados até o momento estão reportando um alto grau de dificuldade de contratação desses profissionais, tanto em áreas metropolitanas quanto no interior dos estados."

Apesar disso, a pediatria segue como a terceira maior especialidade com médicos ativos no país: 21.722 profissionais. Três vezes mais do que o total de psiquiatras – são 6.255 no Brasil e apenas 408 no Paraná. Neste ano, das 2.609 vagas disponíveis no país para residência em pediatria, 1.987 foram ocupadas.

Mercado

O presidente da Comissão Estadual de Residência Médica do Paraná, Adriano Keijiro Maeda, reconhece que a valorização de certas especialidades não têm seguido, em parte, as demandas apresentadas pelo sistema de saúde. "Ao escolher a residência, o médico tende a seguir um desejo pessoal, mas ele também busca aquela carreira que, financeiramente, é a mais viável, de acordo com o mercado", afirma.

Para o representante da Associação Médico Brasileira na CNRM, José Bonamigo, não se pode ignorar o fato de que o perfil dos médicos recém-formados mudou e, hoje, qualidade de vida é um fator decisivo no momento de escolher qual área seguir. "Atualmente, há uma grande procura por especialidades com carga de trabalho menor, que privilegiam o atendimento no consultório, sem necessidade de emergências e plantões, e que remuneram melhor", confirma Bonamigo.

Entidades são contra regulação do governo

Para o pesquisador do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Sábado Nicolau Girardi, a disparidade entre demanda e oferta observada nas especialidades médicas é resultado da inépcia do governo federal em definir diretrizes e números de vagas para os programas de residência médica. "Um melhor planejamento deveria ser trazido à tona. O estado tem um papel regulador, que é verificar necessidades e demandas de saúde e, a partir daí, incentivar uma melhor distribuição dos profissionais, seja por especialidade ou região", avalia.

A hipótese de regulação do mercado, porém, é rechaçada por entidades do setor e profissionais. Para o representante da Associação Médica Brasileira na Comissão Nacional de Residência Médica, José Bonamigo, a discussão é complexa porque "existe pressão do governo para baratear a mão de obra médica". Segundo Bonamigo, qualquer ação deve priorizar, antes de tudo, a valorização dos profissionais.

"Hoje, o governo tem o direito de escolher as vagas que quer fomentar, por meio de bolsas melhores ou benefícios durante a residência. Porque não estabelece, então, planos de carreira para certos profissionais, como médicos de família e pediatras, que atuam no setor público?", questiona.

Empecilho

Para os médicos, a baixa remuneração ainda é o principal empecilho para resgatar a busca por especialidades como a pediatria. "Não há como expurgar dessa análise o fato de que o ganho do médico está muito pequeno. As especialidades que continuam tendo maior procura são aquelas que usam mais exames e em que as tabelas de convênio dos planos de saúde ou do SUS [Sistema Único de Saúde] pagam bem pelo procedimento", afirma o coordenador da Residência Médica do Hospital das Clínicas de Curitiba, Angelo Luiz Tesser.

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