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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Estudo genético conduzido pela Universidade Harvard (EUA) com a participação de cientistas brasileiros descobriu que a origem dos indígenas das Américas é mais complexa do que se imaginava. A pesquisa, que teve a colaboração da pesquisadora Maria Luiza Petzl-Erler, professora do Departamento de Genética da UFPR, encontrou uma ancestralidade comum de índios da Amazônia e do Planalto Central do Brasil com povos nativos do Sudeste da Ásia e da Oceania, incluindo aborígenes australianos. A comprovação desse “parentesco” genético é algo novo nas pesquisas sobre os nativos americanos.

“É consenso que o grupo que deu origem aos indígenas veio do Nordeste da Ásia, da região da Sibéria. Eles entraram nas Américas pelo Estreito de Bering. E depois se espalharam, descendo do Norte para o Sul”, diz Maria Luiza. Estima-se que o chamado “grupo fundador”, do qual se originaram todos os índios americanos, seria composto por apenas 70 pessoas e passou pelo estreito em algum momento entre 30 mil e 15 mil anos atrás. Não se sabe se numa única ou em mais levas de pessoas.

Segundo Maria Luiza, a nova pesquisa não refuta esse entendimento. O mapeamento genético mostra que a ancestralidade dos indígenas americanos ainda é eminentemente a do povo que viveu na região da Sibéria. Os traços comuns de algumas tribos do Brasil com as populações nativas do Sudeste Asiático e da Oceania tampouco são majoritárias entre esses índios brasileiros. E nem sequer aparecem na imensa maioria dos indígenas das Américas.

Publicação na Nature

A pesquisa sobre as origens dos indígenas americanos foi publicada na edição de setembro de 2015 da prestigiosa revista Nature. O estudo, conduzido pela Universidade Harvard (EUA), cruzou dados genéticos de indígenas das Américas com os de populações do mundo inteiro. Pesquisadores brasileiros participaram devido ao fato de terem amplo conhecimento sobre a genética dos indígenas. Além de Maria Luiza Petzl-Erler, da UFPR, contribuíram com a pesquisa cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A pesquisa, contudo, indica que o povo que deu origem aos índios (ou ao menos parte dessa população) não veio só da Sibéria, mas também de algum ponto mais ao Sul da Ásia. Estabelecer os novos elos do homem americano ainda é algo de terá de ser objeto de mais estudos, diz Maria Luiza.

Migração oceânica

A pesquisadora da UFPR afirma que o estudo tampouco mostra que parte dos indígenas da América do Sul possa ter vindo diretamente da Oceania, por meio do Pacífico. De acordo com Maria Luiza, embora haja similaridades genéticas entre povos dos dois continentes, as semelhanças teriam de ser maiores se a migração tivesse ocorrido diretamente por meio dessa rota. E isso não foi verificado.

A hipótese de que a origem dos indígenas é a Oceania chegou a ser cogitada mais fortemente em alguns meios científicos com a descoberta nos anos 1970, em Minas Gerais, da ossada de Luzia – o esqueleto humano mais antigo das Américas, com idade estimada em 13 mil anos. A reprodução de como seria o rosto de Luzia, a partir do crânio encontrado em Minas, mostrou uma mulher com traços assemelhados aos dos atuais aborígenes australianos e dos negros africanos – e não dos asiáticos.

Mas a pesquisadora da UFPR afirma que a interpretação mais corrente hoje sobre a aparência de Luzia é de que, há milhares de anos, a diferenciação de traços físicos não era tão marcante como hoje. O tipo humano mais característico à época seria uma espécie de “mestiço” atual.

Laboratório de Genética está em busca de voluntários para pesquisa sobre ancestralidade

O Laboratório de Genética Molecular da UFPR está em busca de curitibanos e moradores da região metropolitana que queiram ser voluntários em um estudo sobre ancestralidade. Para participar, a pessoa tem de ser 100% descendente de europeus ou de negros africanos. Isso porque o objetivo da pesquisa é obter dados para diferenciar, em estudos sobre doenças, quais são os genes da ancestralidade étnica e quais são os que podem estar associados a alguma suscetibilidade genética para desenvolver determinado tipo de doença.

A professora Maria Luiza Petzl-Erler, do Departamento de Genética da UFPR, afirma que essa diferenciação é importante nas pesquisas de doenças complexas, que têm mais de um fator causador (caso, por exemplo, do câncer, artrite reumatoide, diabetes tipo 1, esclerose múltipla, lúpus erimatoso sistêmico, fogo selvagem).

Essas enfermidades normalmente têm alguma causa genética, mas também são desencadeadas por fatores ambientais. A multiplicidade de causas possíveis dificulta o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes. Ao distinguir quais são os genes associados à ancestralidade dos demais, os estudiosos otimizam os resultados de suas pesquisas.

Maria Luiza afirma que o Departamento de Genética da UFPR tem um bom banco de dados de indígenas. Agora precisa de informações genéticas de europeus e africanos. Por isso a necessidade de ser 100% descendente de algum desses grupos. O mais difícil de conseguir, diz ela, serão os dados de africanos, pois os negros brasileiros geralmente são miscigenados. O ideal, afirma a pesquisadora, é conseguir africanos que morem em Curitiba.

Serviço: quem tiver interesse em participar do estudo pode entrar em contato com os pesquisadores da UFPR pelo e-mail carolina.derrico@hotmail.com. A pessoa fará uma entrevista. Terá de se submeter a uma coleta de sangue. E, ao fim da pesquisa, deve receber dados sobre as suas origens genéticas.

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