De saída do PSDB há meses, o senador Alvaro Dias tornou-se um dos principais críticos da relação do partido com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para o paranaense, a estratégia de respaldar o peemedebista (acusado de envolvimento na Lava Jato e de manter contas secretas na Suíça) partiu do comando tucano, encabeçado pelo colega de Senado Aécio Neves (MG). “A direção do PSDB tem que assumir a responsabilidade por ter se aproximado de Eduardo Cunha”, declarou.
Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o senador explicou que a mudança de legenda faz parte de um movimento de seis senadores em busca de uma terceira via, fora da polarização entre PT e PSDB. Além dele, compõem o grupo os petistas Paulo Paim (RS) e Valter Pinheiro (BA), os pedetistas Cristovam Buarque (DF) e José Antonio Reguffe (DF) e José Medeiros (PPS-MT). A tendência é que eles migrem para o PV.
O sr. integra um grupo de seis senadores descontentes com a polarização entre PT e PSDB e que buscam um partido para viabilizar uma terceira via. Como está essa discussão?
Há uma insatisfação visível da parte de vários senadores com a situação atual. Há constrangimento de atuação em determinados partidos. No meu caso, há um desejo enorme de buscar um espaço para ser mais útil, mais protagonista, em um momento tão importante da política nacional, de transição política. Existe realmente uma discussão entre vários senadores, sobre a busca de um caminho. Aí se fala muito na tal terceira via, que foge desse raio de atuação do PT e do PSDB. Mas o nosso objetivo mesmo é buscar uma ferramenta política para atuação no Senado. E, evidentemente, a partir desse trabalho aqui, pensar em um projeto eleitoral para 2018.
Não há nenhuma razão para nos misturarmos com dissidentes do governo, como se fôssemos todos iguais politicamente. Não há razão para aproximação com o Eduardo Cunha nem com o PMDB.”
O que é ser mais útil no cenário atual?
Talvez uma forma de fugir desse desgaste generalizado da política brasileira. Cresce a descrença em relação aos políticos, exatamente em razão da mesmice. Não há uma alternativa renovadora, não se propõe uma ruptura em relação ao status quo da política brasileira. As propostas são semelhantes e periféricas, não alcançam a essência da crise: o modelo atual de negociação política, do balcão de negócios. Eu desejo um espaço político onde eu possa combatê-lo e oferecer uma alternativa a ele.
Onde foi que o PSDB errou e fez o sr. tomar essa decisão?
Desde a antevéspera da eleição passada, eu passei a defender a democratização do partido. E isso começaria pela realização de primárias para a escolha de candidatos majoritários, tanto para presidente quanto para governador. O partido se recusou a esse avanço. Imagino que se o PSDB tivesse adotado esse sistema, teria colocado o pé na rampa do Palácio do Planalto. Mesmo que fosse o mesmo candidato, ele seria um nome legitimado pela militância partidária, teria mais autoridade e mais força para defender o seu projeto de poder. Infelizmente o partido não adotou. No meu caso específico, ainda há a questão paranaense. Todos sabem, não é novidade para ninguém, que há uma presença constrangida no PSDB do Paraná. Isso já vem de anos, o que motiva a busca de alternativas. Soma-se a questão local com a nacional e obviamente a ação é de mudança. Isso é inevitável, embora não seja uma decisão tomada. Porque se a alternativa não estimular, não motivar, não há razão para mudança.
O que o sr. promete ao seu eleitor com essa possível mudança?
Eu brinco às vezes que posso até mudar de sigla, mas não mudo de lado. Eu sigo na oposição. Nesses 13 anos venho fazendo uma oposição de atitude, tomando providências, de romper barreiras de instalação de CPIs, de atuar em todas elas, de fiscalizar em todas as áreas. Foi uma batalha de todos os dias, então não há qualquer chance de sair da oposição.
A troca de partido está ligada com o interesse de se candidatar a presidente?
É uma cobrança que há. E não é só paranaense, é nacional. Há um estímulo para que se busque uma terceira via. Agora, é muito cedo, não é hora de decidir isso. O que é bom é estar disponível, não ser refém de determinada situação partidária. Estando disponível, esta é uma hipótese que pode se viabilizar, desde que as coisas aconteçam. Mas acho que quem se colocar como candidato agora sofre as consequências negativas da antecipação do processo.
2018 vai marcar o fim da polarização PT-PSDB?
O que a gente prevê é que haverá uma pulverização. Teremos muitos candidatos a presidente, alguns em pé de igualdade. Não creio que a polarização se repita, até pelo desgaste do PT. Só no PSDB temos três nomes postulantes – Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin. Não sabemos se todos permanecerão no PSDB, evidentemente que o Aécio, como presidente do partido, vai postular a vaga. Aí há especulações sobre a saída do Alckmin e do Serra.
Qual sua avaliação sobre o impeachment da presidente Dilma?
É uma questão que hoje está mais restrita ao fato de decidir dar início ao processo do que fazer a opção pelo impeachment ou pelo não impeachment. A decisão sobre o início do processo é o mais importante. Como oposicionista, meu papel é atender ao anseio da maioria da população, que quer o impeachment. Mas enquanto ficarmos nessa indefinição de haver ou não impeachment, vivemos o pior dos mundos. É insustentável essa situação de o presidente da Câmara [Eduardo Cunha (PMDB-RJ)] receber pedidos de impeachment substanciosos e não decidir nem pela instauração, nem pelo arquivamento. O país está paralisado. Decidir rapidamente é o mais importante nessa hora. Minha opinião é que se instaure e que então a Câmara decida sobre o afastamento.
Como o sr. vê o posicionamento do PSDB sobre as denúncias contra Eduardo Cunha?
Eu sempre fui contrário à posição do PSDB. Já na eleição para a presidência da Câmara, a minha ideia era nem cogitar qualquer relação com ele. E, depois, ainda com mais força. Nunca entendi essa aproximação com dissidentes do governo. Não há nenhuma razão para nos misturarmos com eles, como se fôssemos todos iguais politicamente. Não há razão para aproximação com o Eduardo Cunha, nem com o PMDB.
O PSDB vem claramente jogando junto com o Cunha há alguns meses. Isso não desmoraliza a bandeira do impeachment?
Essa estratégia de aproximação é um equívoco. Estou dizendo isso publicamente porque sempre disse a mesma coisa nas reuniões. Eu não fui uma voz ouvida nesse caso. A minha avaliação sempre foi de afastamento. Poderíamos ter até opiniões coincidentes, mas distantes um do outro.
Quem do partido garante esse vínculo com Eduardo Cunha, a direção do PSDB ou a bancada do partido na Câmara?
A direção do partido tem comandado todo o processo. Não posso responsabilizar os deputados porque eles sempre ouviram a presidência do partido. Todas as questões foram levadas à executiva do PSDB.
Então o presidente do partido, Aécio Neves, é responsável pela manutenção dessa relação com Cunha?
A direção do PSDB tem que assumir a responsabilidade por ter se aproximado de Eduardo Cunha.
Qual a avaliação geral que o sr. faz de Aécio?
Sem dúvida, é a grande liderança da oposição. As pesquisas indicam isso. É fruto da sua ousadia e de ter participado das eleições passadas – o chamado recall. Há de se reconhecer tudo isso.
E a gestão Beto Richa?
Quem tem que avaliar é a opinião pública. E está claramente condenando a gestão, as pesquisas estão aí para dizer isso. Eu seria até suspeito para avaliar. Para alguns, porque sou do mesmo partido. Para outros, porque sou “adversário” do governador. Por isso eu fico com a avaliação popular.
Os problemas da gestão Richa, como aumento de impostos e pedaladas fiscais, prejudicam as bandeiras nacionais do PSDB?
O discurso fica um pouco comprometido porque, se nós combatemos aqui em Brasília, temos que combater no Paraná. Eu tenho sido muito claro nisso. Se eu estou combatendo aqui e lá se faz o mesmo, o combate daqui vale para lá também.
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