O trajeto de 25 quilômetros entre o Complexo Penal de Piraquara e a sede do Gaeco, em Curitiba, já foi cumprido algumas vezes nas últimas semanas pelo senhor Eduardo de Souza Lopes – claro que sob escolta policial. A informação, de fonte segura, é de que o dono da construtora Valor enfim sucumbiu às pressões familiares e decidiu fazer delação premiada. O Centro Cívico treme com o que ele, em longas sessões de depoimento, já pode ter revelado.
Para quem não se lembra: Eduardo é o dono da construtora Valor, aquela acusada de ter recebido cerca de R$ 30 milhões para construir e reformar escolas estaduais sem ter concluído nenhuma das obras. É um dos principais protagonistas da Operação Quadro Negro, deflagrada no ano passado pelo Gaeco. Além dele, a mulher, o filho e funcionárias da empreiteira tornaram-se réus no processo em curso na 9.ª Vara Criminal de Curitiba.
A esposa cumpre prisão domiciliar por ser mãe de recém-nascido, mas o filho, Baruque, penou por algum tempo em cela vizinha à do pai. O regime fechado dele teria sido transformado há alguns dias em prisão domiciliar com uso obrigatório de tornozeleira eletrônica.
Segundo apurou o Gaeco, a construtora Valor contava com a benevolência do então diretor de Engenharia da Superintendência de Educação (Sude, órgão vinculado à secretaria da Educação), Maurício Jandoi Fanini, que atestava falsamente o andamento das obras e mandava liberar pagamentos indevidos, envolvendo até mesmo recursos transferidos pela União.
Eduardo Lopes vinha sendo assistido por um advogado que o desaconselhava a aderir à colaboração premiada, mas mudou de opinião após contratar os serviços de outro famoso escritório jurídico.
Informações vazadas por quem acompanha o caso de perto indicam que o réu está se mostrando muito disposto a auxiliar na identificação de vários figurões com gabinetes no Centro Cívico, com quem mantinha conversações telefônicas e trocava e-mails, visando a esmiuçar as relações deles com o esquema. CDs organizados pelo Gaeco guardam mais de 60 megabites de escutas, mensagens telemáticas e digitalizações de documentos.
A denúncia do Ministério Público Estadual aceita pela Justiça envolve pessoas com foro privilegiado, dentre as quais o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ademar Traiano, assim como o próprio governador Beto Richa e seu irmão, o secretário Pepe Richa. Em razão disso, parte do processo foi desmembrada e passou a tramitar no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Aspectos que não tinham ficado tão claros quanto à participação e ao papel de cada um nas investigações da Quadro Negro devem ser esclarecidos a partir de agora se o Gaeco considerar úteis os termos da delação e a Justiça homologá-la. O material será útil também para as investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, interessadas também no caso em razão do suposto desvio de verbas alocadas pelo governo federal.