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Seria cômico não fosse trágico o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) dizer não saber o que fazer com o pacote anticorrupção, que retornou do Senado por ordem do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF). Numa votação vergonhosa no fim do ano passado a Câmara desfigurou a proposta. Fux, então, concedeu liminar por entender que os deputados não poderiam ter alterado um projeto de iniciativa popular.

Mesmo que a liminar de Fux caia perante o posicionamento dos demais ministros, a imagem da Câmara sai mais uma vez arranhada. Afinal, novamente a sociedade foi instigada a lembrar que boa parte dos parlamentares desta legislatura está descomprometida com um ambiente mais rigoroso contra a corrupção.

A pretensa dificuldade de Maia é até engraçada, mas se mostra trágica ao mais uma vez deixar claro que poucos são os que intencionam tornar o ambiente político menos acessível a políticos mal intencionados. Afinal, a todo o momento congressistas dão sinais de que o único interesse que possuem é a blindagem de si próprios e de seus pares.

A notícia boa é que está difícil conseguirem fazer o que bem entendem. Veja o caso do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que ensaiou encaminhar projeto para blindar presidentes da Câmara e do Senado, mas que acabou recuando. Nestes tempos de sociedade em redes, o poder de obstrução é mais fácil de surtir efeito.

O risco, entretanto, é que em algum descuido da opinião pública – composta hoje por meios de comunicação tradicional, organizações fiscalizadoras e redes sociais – os adeptos do “grande acordo nacional” consigam “estancar a sangria”. As tentativas de esvaziar a Lava Jato têm sido recorrentes. Perante a opinião pública, nem mesmo o presidente Michel Temer escapa – levantamento realizado nesta semana pelo Instituto Paraná Pesquisa indica que 44% da população do país consideram que ele é contra a operação.

Com um ambiente desses, parece arriscado confiar à sorte da operação e do ambiente democrático apenas aos meios de fiscalização tradicionais e da opinião pública. É preciso que se busque rapidamente alternativas antes que venham as eleições de 2018.

Essa sociedade em rede que tem demonstrado com desenvoltura o poder de obstruir precisa encontrar meios de restabelecer consensos mínimos para em conjunto poder criar. É necessário desde já que caminhos são passíveis de serem articulados em nível nacional, para que tenham influência decisiva no próximo pleito, especialmente no que diz respeito às escolhas para a Câmara dos Deputados e o Senado.

Não se pode esquecer dos nomes dos congressistas que ostensivamente trabalham contra um ambiente mais rigoroso contra a corrução. E qualquer medida para evitar que sejam reeleitos será bem-vinda. É preciso fazer nascer uma coligação ampla, em todos os entes da federação, para evitar que a próxima legislatura seja tão ruim quanto essa que convive nesta crise política. As eleições ainda estão longe, mas, se objetivo é uma mudança substancial, a articulação começa agora.

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