Há mais gado nas fazendas ligadas ao banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, do que acredita o Ministério Público Federal. É o que indicam documentos de vacinação de rebanho registrados na Agência de Desenvolvimento da Agropecuária do Pará (Adepará). Em 4 das 27 propriedades sequestradas pela Justiça Federal na semana passada, o número de cabeças de boi em 2008 era 27% superior ao que consta em registro feito pela Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, controlada por Dantas.
Os documentos, anexados ao relatório da Polícia Federal, serviram de base para o sequestro dos 453 mil bois pertencentes ao grupo. Para a PF e a Procuradoria, as fazendas e o gado foram negociados por Dantas nos últimos três anos para lavagem de dinheiro. Os controladores seriam sua irmã Verônica Dantas e seu ex-cunhado Carlos Rodenburg.
As fazendas estão concentradas no Pará, onde estão 23 delas. São imensas áreas de terra, quase todas com irregularidades fundiárias. Há ainda duas em Mato Grosso, uma em Minas e uma em São Paulo. Apesar de terem sido sequestradas 27 na semana passada, uma tabela da própria empresa anexada ao inquérito lista ao todo 43 fazendas do grupo.
A reportagem esteve na região onde estão as principais propriedades de Dantas. A Fazenda Cedro é a maior e mais bonita, tendo anexas outras três menores Ouro Indiano, Plantel e Rancho Americano. No relatório da PF há um quadro, elaborado pela Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, com o título "Resumo geral mapa de gado por categoria de animal". Ali estão listados cinco conjuntos de propriedades e o total de cabeças de gado em fevereiro de 2008. Na Cedro e em suas anexas o número registrado é de 14.953.
A quantidade, no entanto, não confere com os registros oficiais da unidade da Adepará de Marabá, onde obrigatoriamente são lançadas as compras de vacina de cada ano. As notas fiscais de compra de vacina dão conta de 19.133 unidades adquiridas em 2008, isto é, 4.180 cabeças de gado a mais.
A reportagem sobrevoou a imensa propriedade de cerca de 6,5 mil hectares. Há um acampamento sem-terra próximo à sua entrada desde que a Operação Satiagraha apontou irregularidades nas fazendas.
A sede é uma bela casa com piscina e área de lazer cercada por palmeiras. Há ainda uma exclusiva pista para jatinhos, além de uma área de manejo de gado e um campo de futebol.
Cruzamento
A verdadeira quantidade de bois existentes nas 27 fazendas do banqueiro sequestradas pela Justiça Federal, e mesmo quais são os donos do patrimônio, será determinada nos próximos dias, após as autoridades de agricultura dos quatro estados envolvidos realizarem uma devassa nos registros de vacina e de movimentação do gado, por meio das Guias de Transporte Animal (GTAs).
No despacho assinado pelo juiz Fausto Martin de Sanctis, foi determinado que em um prazo de 10 dias o Ministério da Agricultura e autoridades estaduais informem "a quantidade de vacinas realizadas nas fazendas", "o nome dos proprietários e os responsáveis pelos animais" e a "quantidade de bovinos" registrada. Dessa forma será possível determinar valores movimentados por Dantas na Agropecuária Santa Bárbara Xinguara e se, de fato, houve lavagem de dinheiro.
Os documentos pedidos por De Sanctis são considerados imprescindíveis para transações legais com gado. O problema é que em estados como o Pará o controle de movimentação por GTAs é precário e as notas fiscais de vacinações (todo ano o rebanho tem que ser vacinado contra febre aftosa) são a principal forma de aferir os plantéis.
Autoridades que atuam no combate à lavagem de dinheiro explicam que o gado é, sem dúvida, uma das formas mais fáceis de transformar recursos sem origem em dinheiro limpo. Uma das formas é a "vaca de papel", onde são obtidas documentações frias para gados inexistentes. Outra forma possível é inventando novilhos e, em seguida, simular suas vendas.
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