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Tião Medeiros, do PTB | Albari Rosa/Gazeta do Povo/Arquivo
Tião Medeiros, do PTB| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo/Arquivo

Investigações da Polícia Federal que resultaram na Operação Carne Fraca, deflagrada na última sexta-feira (17), revelam que o deputado estadual paranaense Tião Medeiros (PTB) mantém ligações com uma rede de empresas que seria sustentada por Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente do Ministério da Agricultura (Mapa) no Paraná, e apontado como chefe do esquema de propina. De acordo com a PF, essa “sucessiva interposição de empresas” servia para intermediar pagamentos que se destinavam à mesma pessoa: no caso, o próprio Daniel Gonçalves Filho, líder da organização criminosa.

Embora seja citado nas investigações da PF, o deputado paranaense não é acusado de participação no esquema.

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O escritório curitibano de advocacia Medeiros & Emerick Advogados Associados, que tem o parlamentar como um dos sócios, fez repasses que totalizam cerca de R$ 3,8 milhões para a Portal Operações Portuárias/Fênix Fertilizantes. A empresa, segundo o fiscal federal agropecuário Daniel Gouvêa Teixeira, que denunciou a corrupção no Mapa à PF, pertenceria, na verdade, a Daniel Gonçalves Filho.

Doações eleitorais

Eleito deputado estadual em outubro de 2014, Tião Medeiros (PTB) recebeu doação de R$ 15 mil de Valdécio Bombonatto naquele pleito. Já a empresa Fortesolo Serviços Integrados doou R$ 28 mil ao petebista na forma do uso de uma aeronave – o valor é estimado por não envolver uma doação em espécie. Por sua vez, Adriano Emerick doou R$ 50 mil ao sócio e então candidato.

Conforme dados da Receita Federal, o quadro societário da Portal Operações Portuárias/Fênix Fertilizantes é formado atualmente por Murilo Medeiros − irmão do deputado estadual Tião Medeiros – e pela Centerlog Serviços e Participações. Esta última empresa tem como um dos proprietários Adriano Emerick, que também é sócio do parlamentar no escritório Medeiros & Emerick Advogados Associados.

Trecho da representação entregue pela PF à Justiça Federal aponta que “uma parte significativa dos créditos (R$ 3.785.060,54), nas contas bancárias da empresa Portal Operações Portuárias, teve por origem a pessoa jurídica Medeiros & Emerick Advogados Associados, demandando a análise das relações comerciais/negociais entre esses dois entes jurídicos”. A “vultosa quantia” foi paga em 137 operações.

Tanto Tião Medeiros quanto Adriano Emerick já foram sócios da Portal Operações Portuárias/Fênix Fertilizantes.

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Mais ligações

“Pagamentos suspeitos” entre 2012 e 2014, segundo a PF, também ocorreram da Fortesolo Serviços Integrados para a Dalchem Gestão Empresarial, que seria uma empresa “fictícia” de Curitiba ligada a Daniel Gonçalves Filho e está no nome da mulher e do filho dele. A Fortesolo tem como proprietários Almir e Valdécio Bombonatto. Este último também já pertenceu ao quadro societário da Portal Operações Portuárias/Fênix Fertilizantes.

Além disso, segundo registro da Receita Federal, a Portal Operações Portuárias/Fênix Fertilizantes e a Fortesolo Serviços Integrados ficam no mesmo endereço em Paranaguá e possuem o mesmo número de telefone. “Essa empresa merece especial atenção”, diz a PF em relação à Fortesolo, que responde a diversos autos de infração no Mapa.

Outro ex-sócio da Portal Operações Portuárias/Fênix Fertilizantes é Perito Garcia. Além de também já ter figurado no quadro societário da Dalchem, ele “mantém contato muito próximo com Daniel Gonçalves Filho, referindo-se a ele como ‘compadre’, ‘irmão’, ‘padrinho’, marcando com ele reuniões em locais seguros e privativos e tratando-o como sócio”.

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Mandados judiciais

A PF pediu autorização da Justiça Federal para fazer buscas e apreensões, no âmbito da Operação Carne Fraca, nas quatro empresas: Medeiros & Emerick Advogados Associados, Portal Operações Portuárias/Fênix Fertilizantes, Fortesolo Serviços Integrados e Dalchem Gestão Empresarial. Mas, até o fechamento desta reportagem, a instituição ainda não havia divulgado um balanço dos mandados concedidos e cumpridos na última sexta-feira (17).

Tião Medeiros nega irregularidade em escritório de advocacia do qual é sócio

Por meio de nota, o deputado estadual Tião Medeiros (PTB) disse que, desde 2012, quando passou a exercer funções públicas, deixou de atuar na advocacia. Ele informou que permanece como sócio do Medeiros & Emerick Advogados Associados, mas ressaltou que o escritório não foi alvo da operação da Polícia Federal. “A busca de documentos foi restrita a apenas um dos clientes, cujas atividades não estão sujeitas a registro ou fiscalização do Ministério da Agricultura”, afirma o texto.

O parlamentar declarou ainda ter convicção de que as investigações vão demonstrar “absoluta ausência de qualquer irregularidade” nas atividades do escritório e confiança “na solidez das instituições essenciais à administração da Justiça”, como a PF.

O escritório Medeiros & Emerick também disse não ter sido alvo da ação da Polícia Federal, que teria ocorrido especificamente em relação a um cliente. A informação é de que não haverá manifestação sobre o caso e que tudo será esclarecido em juízo.

Na Fortesolo – cujo telefone é o mesmo da Fênix Fertilizantes −, a funcionário do setor administrativo que atendeu ao telefonema da reportagem afirmou que o caso está sob responsabilidade do jurídico da empresa e, portanto, não havia nada a declarar.

Valdécio Bombonatto não foi encontrado no Terminal da Ponta do Félix − onde é o CEO −, em Antonina, nem no telefone repassado à reportagem do local onde ele estaria em Curitiba na tarde desta segunda-feira (20).

A pessoa que atendeu no telefone da Dalchen Gestão Empresarial que consta no site da Receita Federal disse que, na verdade, se tratava do escritório de contabilidade da empresa e que não possuía outro número para informar à reportagem.

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