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José Dirceu e Clara Becker: apesar da separação, os dois mantêm amizade até hoje | Arnaldo Alves  / SECS
José Dirceu e Clara Becker: apesar da separação, os dois mantêm amizade até hoje| Foto: Arnaldo Alves / SECS

Prioridades

PT quer regulação da mídia e financiamento público de campanha

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu declarou "integral apoio" à pauta que o PT definiu como prioridades partidárias para 2013, anunciadas pelo presidente nacional do partido, Rui Falcão. Entre os temas considerados prioritários pela legenda para discutir no ano que vem estão a regulamentação da mídia e a reforma política, especialmente o financiamento público de campanha. Esses dois assuntos têm relação com o mensalão.

Parte do PT considera, por exemplo, que as denúncias do mensalão feitas pela imprensa fizeram parte de uma conspiração da mídia para prejudicar o partido. A cobertura jornalística do julgamento do caso, no entendimento de alguns petistas, também foi feita para atrapalhar candidatos da legenda nas eleições deste ano – que coincidiram com a apreciação do processo pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A regulamentação da mídia poderia coibir eventuais excessos da imprensa.

Os petistas acusados pelo mensalão também tentaram usar o argumento jurídico, em suas defesas, de que o esquema na verdade não passou de caixa 2 eleitoral – algo que todos os partidos fariam e ao qual o PT também tem de se sujeitar. O financiamento público de campanhas, nesse sentido, seria a proposta petista para sanear o sistema eleitoral.

José Dirceu, em texto publicado anteontem em seu site, defendeu as duas propostas da direção nacional do PT. "Quando acabamos de sair de eleição feita pelas antigas regras de financiamento privado de campanha, está certo o partido quando decide que vai dar prioridade à discussão sobre financiamento público", escreveu o ex-ministro.

Caribe

"Achou que eu estava fugindo?", questiona condenado após viagem

Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e lavagem de dinheiro no julgamento do mensalão, o ex-deputado Romeu Queiroz (ex-PTB, hoje no PSB) retornou ontem ao Brasil depois de sete dias de viagem à ilha de Curaçao, no Caribe. Ele disse que nunca cogitou a possibilidade de fugir para o exterior. "Já estou de volta. Achou que eu estava fugindo?", perguntou Queiroz.

O ex-deputado viajou na mesma semana em que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, requisitou a retenção dos passaportes dos condenados no caso do mensalão. Queiroz explicou que ele e a mulher marcaram a viagem em setembro, quando o casal ganhou as passagens dos filhos como presente de 40 anos de casamento. "Não antecipei o retorno, estava marcado para hoje [ontem] mesmo", disse o ex-deputado. A notícia de que ele estava no exterior se tornou pública anteontem.O ex-deputado disse ainda não ver problema em entregar à Justiça o passaporte, renovado há 15 dias. Queiroz foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

  • Queiroz viajou ao Caribe

Clara Becker, primeira mulher de José Dirceu, disse em entrevista publicada ontem pelo jornal O Estado de S.Paulo que o ex-ministro, ao ser condenado no processo do mensalão, está sendo sacrificado para salvar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa é a terceira vez desde o início do julgamento do mensalão que há insinuações ou acusações de que Lula foi o verdadeiro comandante do esquema de compra de votos no Congresso.

A ex-mulher de Dirceu disse que José Genoino, ex-presidente do PT e também condenado pelo mensalão, é outro que está sendo sacrificado. "Eles estão pagando pelo Lula. Ou você acha que o Lula não sabia das coisas, se é que houve alguma coisa errada? Eles assumiram os compromissos e estão se sacrificando", disse ela na entrevista.

Ela disse ter certeza de que "Dirceu não é ladrão". "Se ele fez algum pecado, foi pagar para vagabundo que não aceita mudar o país sem ganhar um dinheiro. (...) Se ele pagou, foi pelos projetos do Lula, que mudou o Brasil", afirmou, referindo-se ao pagamento a parlamentares da base aliada que receberam dinheiro para votar a favor de propostas do governo do ex-presidente Lula, segundo a denúncia do Ministério Público.

Clara, de 71 anos, é mãe do filho mais velho do ex-ministro, o deputado federal paranaense Zeca Dirceu (PT). Ela ainda afirmou ao jornal que a família está sofrendo muito diante da perspectiva de ver o ex-marido na penitenciária. Clara e Dirceu foram casados por apenas quatro anos, na época da ditadura militar. Apesar da separação, os dois mantêm amizade até hoje.

Durante o início do julgamento do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), delator do esquema e também condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), disse que Lula eram o mandante do esquema. O ex-deptado cobrou da Justiça a inclusão de Lula entre os réus. Mas os ministros do STF rejeitaram o pedido.

Já a revista Veja, também durante o julgamento, publicou reportagem informando que o publicitário Marcos Valério, operador do mensalão, estaria comentando com amigos que o ex-presidente era o verdadeiro chefe do esquema. Ontem, partidos da oposição informaram que vão apresentar hoje um pedido para que a Procuradoria-Geral da República investigue a suposta participação de Lula no mensalão.

PT não punirá filiados que o Supremo condenou

O PT não vai expulsar ou punir petistas que foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão. Na terça-feira, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, disse que a legenda não tomará qualquer medida contra os condenados. Falcão alegou que as condenações impostas a parlamentares e políticos do PT não fazem parte dos casos de punição elencados no estatuto partidário.

O estatuto do PT prevê que a pena de expulsão do partido deve ser aplicada quando ocorrer "condenação por crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado". Para Falcão, os casos dos companheiros condenados não se aplicam ao estatuto. "Quem aplica o estatuto somos nós. E esse caso não se aplica", disse.

Manifestação

Hoje o PT deve fazer a primeira manifestação oficial e pública a respeito do mensalão depois da condenação dos petistas. A manifestação do PT deve ocorrer durante reunião da Executiva do partido, nesta quinta-feira à tarde, em São Paulo.

Uma ala do partido quer emitir uma nota alegando que o julgamento não foi democrático. "Vamos construir uma nota na linha de que será respeitada a decisão do STF e falar da politização do julgamento", afirmou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP), integrante da Executiva. O PT considera que houve mudança do rito adotado pelo Supremo em relação a julgamentos anteriores. E também dirá ter identificado excessos na fixação da pena dos réus e em atitudes dos ministros fora do processo, por terem emitido opinião sobre o julgamento em entrevistas.

Mas há petistas contrários à nota. O deputado federal André Vargas (PT-PR) é contra. "Não temos de trazer uma pauta negativa para nós", disse.

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