O empresário Marcelo Simões, que diz trabalhar com marketing, declarou à Polícia Federal que pagou R$ 2,3 milhões “na boa fé” a Leon Vargas, irmão do ex-deputado federal petista André Vargas (sem partido/PR). Simões e os irmãos Vargas são alvos da Operação ‘A Origem’, 11.ª etapa da Lava Jato, deflagrada sexta-feira, 10.
Testemunha diz que dava metade do salário para trabalhar no gabinete de Corrêa
A comerciante Vera Lúcia Leite Sousa Shiba, dona de uma banca de jornal em Brasília, disse à Polícia Federal que a partir de 2006 trabalhou no gabinete do então deputado Pedro Corrêa (PP-PE), mas teve que fechar acordo com o assessor do parlamentar, Ivan Vernon Gomes Torres Junior - em troca do emprego, ela repassava ao assessor de Pedro Corrêa metade de seus vencimentos.
A PF suspeita que o destinatário final da fatia do salário da funcionária era Pedro Corrêa.
Vera Lúcia foi ouvida na sexta feira, 10, quando a PF deflagrou a Operação A Origem, a 11.ª fase da Lava Jato, e prendeu três ex-deputados federais - Pedro Corrêa, Luiz Argôlo (SD-BA) e André Vargas (ex-PT), todos sob suspeita de terem sido favorecidos em um esquema de propinas em contratos de publicidade de órgãos públicos.
Ela contou que já havia trabalhado na Câmara dos Deputados no período entre 2003 a 2014. Disse que “foi levada para a Câmara pelas mãos do deputado Ronivon Santiago, do Partido Progressista, com quem trabalhou até o momento em que ele teve seu mandato cassado pela Câmara”.
Ronivon Santiago, deputado pelo PP do Acre, renunciou ao mandato depois de ter admitido que vendeu seu voto em favor da emenda da reeleição presidencial na década de 1990. Em 2002 foi eleito novamente, mas três anos depois perdeu o mandato pela segunda vez.
Vera Lúcia relatou que em 2006 passou a trabalhar com Pedro Corrêa na Presidência do PP na Câmara. Nessa ocasião, segundo afirma, ela aceitou dividir seu holerite, ficava com metade do valor e entregava a outra metade para Ivan Vernon.
Alguns meses depois Vera Lúcia migrou para o gabinete da deputada Aline Corrêa, filha do ex-deputado que se elegeu em 2006. Mesmo em seu novo emprego, no gabinete de Aline, ela diz que teve que abrir mão de 50% de seu salário na Câmara. Vera Lúcia disse ainda que movimentava, por procuração, duas contas da deputada no Banco do Brasil.
À PF, Simões, sócio da IT7 Sistemas, disse que Leon Vargas recebeu aquela quantia por ter feito uma “avaliação” de sua empresa em R$ 50 milhões. Segundo Simões, ficou acertado que o irmão do ex-deputado receberia comissão equivalente a 8% ou 10% do valor atribuído à IT7.
A PF tem provas de que a lavanderia de dinheiro do doleiro Alberto Youssef - peça central da Operação Lava Jato - foi usada por André Vargas, entre 2013 e 2014, para o recebimento de R$ 2,3 milhões em dinheiro da IT7 Sistemas, que mantém contratos no governo federal.
São notas fiscais, registros de depósitos e trocas de e-mails envolvendo a contadora do doleiro, Meire Pozza, e a IT7 Soluções, contratada da Caixa Econômica Federal, do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), vinculado ao Ministério da Fazenda, e outros órgãos de governo. A força-tarefa da Lava Jato tem elementos para acreditar que a IT7 - que tem escritório no Paraná e é administrada por Marcelo Simões - era usada pelo ex-deputado e seu irmão Leon Vargas para recebimento de propina em contratos do governo federal.
Ao ser indagado pela força tarefa da Operação Lava Jato sobre qual exatamente foi o serviço executado por Leon Vargas para que merecesse um valor tão expressivo, o marqueteiro disse que o irmão de Vargas lhe disse que estava “fazendo levantamentos, bem como prospecção dos valores ativos do empreendimento, a fim de concretizar o negócio”.
Os investigadores perguntaram a Marcelo Simões se ele, efetivamente, “viu estes levantamentos ou documentos, ou ainda, e-mails ou serviço efetivo de Leon Vargas”. “Efetivamente não vi nenhum documento, este pagamento preliminar (R$ 2,3 milhões) foi na boa-fé.”
Questionado sobre a origem do recurso entregue à Leon Vargas, o empresário declarou que “o valor fazia parte do caixa da empresa (IT7 Sistemas)”. Ele disse que fez uma transferência eletrônica e que a empresa “emitiu as notas fiscais respectivas”.
A PF apurou, por meio dos relatos do doleiro Youssef - preso desde março de 2014 - e de sua contadora que foi o irmão de Vargas que pediu, no final de 2013, o repasse de R$ 2,3 milhões em dinheiro. Depois de ser orientada pelo irmão de Vargas e por Simões, da IT7, Meire emitiu então as notas, recebeu e sacou os valores para serem disponibilizados em dinheiro vivo. Ela cumpria ordens de Youssef.
Os valores foram entregues a Vargas entre janeiro e fevereiro de 2014. Nessa época, ele era vice-presidente da Câmara dos Deputados e secretário de Comunicação do PT. Foram anexados ao pedido de prisão de Vargas e Leon, além das notas, as trocas de e-mail, em que Leon e Simões indicam a IT7 para emissão das notas fiscais para a contadora do doleiro.
A contadora e o doleiro não souberam dizer, nos depoimentos, qual a origem do pagamento da IT7. Meire identificou as três transferências eletrônicas bancárias, nos valores de R$ 964,3 mil, R$ 287,1 mil e R$ 1,1 milhão, como sendo relativas a operação para Vargas.
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