O ex-comandante da Polícia Militar, o tenente-coronel Samir Geha, teria assumido em depoimento ao Ministério Público que chegou a pedir ajuda para Luiz Abi Antoun, parente do governador Beto Richa (PSDB) que foi preso no mês passado como parte da Operação Voldemort, do Gaeco. As informações estão em um depoimento ao MP ao qual a RPC teve acesso.
OPERAÇÃO VOLDEMORT: Contador diz que Abi ficaria com valor devido à oficina
O oficial teria dito que, quando faltava dinheiro para a Polícia Militar, procurava diversos órgãos e pessoas influentes, entre elas Luiz Abi, que facilitaria na intermediação de repasses à PM, já que era primo do governador. O tenente-coronel prestou depoimento na condição de testemunha e não é investigado pelo órgão por qualquer ilegalidade.
Geha também confirmou que foi o responsável por apresentar o mecânico Ismar Ieger para Antoun. Ao MP, o oficial disse que, em 2013, foi perguntado por Abi Antoun se conhecia algum mecânico bom. Ele teria respondido que conhecia Ieger, passando o telefone do mecânico ao parente do governador.
De acordo com a promotoria, Ieger era “laranja” de Abi na oficina Providence. O estabelecimento foi aberto em março de 2013 e teria sido usado na fraude de um contrato com o governo do Estado. Segundo o Ministério Público, o dono da empresa é Luiz Abi Antoun.
Em uma conversa telefônica em janeiro deste ano, gravada com a autorização da Justiça, Ismaer Ieger avisa a esposa que o coronel Rolim e Luiz Abi Antoun estariam na Providence, em Cambé. A esposa respondeu: “Tá todo mundo aí... tá a festa do Bolinha aí...”.
O tenente-coronel Samir Geha está na Polícia Militar há 29 anos e atualmente comanda cinco batalhões na região de Maringá. Entre 2012 e 2014 foi chefe do Batalhão de Londrina. Antes disso, comandou a companhia da zona norte de Londrina. Foi nessa época que ele diz ter conhecido o mecânico Ismar Ieger. Em depoimento ao MP, o tenente-coronel disse que conhece o mecânico desde 2008, quando chegou a Londrina e que teria mantido relações profissionais com Ieger por conta da manutenção de viaturas policiais.
O depoimento do tenente-coronel Samir Geha aponta que “depois que o governador Beto Richa assumiu o cargo, ele [Abi Antoun] foi apresentado por alguém em alguma cerimônia pública como sendo um primo do governador”. Isso teria ocorrido no começo do primeiro mandato de Richa. De lá pra cá, os contatos continuaram.
Ainda segundo o tenente-coronel “em virtude da escassez de recursos destinados a área de segurança, Luiz Abi sempre se mostrou solicito para tentar ajudar a Polícia Militar”. Geha ainda disse que esteve em uma das empresas de Luiz Abi, a KLM, para tratar justamente do assunto vinculado à obtenção de recursos para a PM com Antoun.
A influência de Luiz Abi Antoun em vários órgãos do governo estadual já havia sido detalhada no depoimento do ex-assessor da Governadoria do Estado, Marcelo Caramori, que disse que Luiz Abi indicava diretores em diversas secretarias.
Em depoimento ao Ministério Público, Caramori disse que Abi Antoun “trata-se de pessoa de fundamental importância na estrutura política com grau de influência e determinação sobre todos os comandados da Polícia Militar”.
Sete integrantes da quadrilha chefiada por Luiz Abi Antoun foram denunciados à Justiça por crimes de fraude em licitação, falsidade ideológica e formação de quadrilha. Um dos denunciados é Ricardo Batista da Silva, soldado da PM. Segundo o MP, Silva seria o responsável por conseguir orçamentos em oficinas diferentes que teriam sido usados no esquema para favorecer a oficina Providence.
O advogado de Ismaer Ieger disse desconhecer qualquer relação entre o seu cliente e o tenente-coronel Samir Elias Geha. Já o advogado de Luiz Abi mais uma vez não comentou as declarações prestadas em depoimento. A reportagem da RPC não conseguiu contato com o tenente-coronel Samir Geha que estaria em período de férias nesta terça-feira (7).
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou em nota que desconhece, até o momento, qualquer envolvimento ou qualquer influência de Luiz Abi Antoun sobre a Polícia Militar. “A Sesp não irá se furtar de investigar qualquer irregularidade envolvendo policiais”, diz trecho do documento.
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