A Corregedoria da Polícia Federal (PF) em Brasília abriu uma investigação para apurar denúncia de que delegados da Operação Lava Jato teriam usado uma escuta ilegal para ouvir conversas do doleiro Alberto Youssef. O inquérito, aberto na semana passada, também tenta descobrir se a Polícia Federal teria manipulado a primeira sindicância sobre o caso para evitar que se descobrissem irregularidades na operação.
Advogado de Youssef diz que denúncia pode invalidar a operação
O advogado do doleiro Alberto Youssef, Antônio Figueiredo Basto, afirmou nesta segunda-feira (11) que, se o conteúdo do depoimento prestado à corregedoria da Polícia Federal for verídico, irá entrar com uma ação judicial para anular toda a Operação Lava Jato. “Se isso for verdade, é um fato gravíssimo. É uma mancha terrível para a Lava Jato. É um meio de prova totalmente nulo, que pode invalidar toda a operação”, ressaltou.
Basto também afirmou que irá convocar o policial que prestou o depoimento como testemunha de Youssef, para que as informações constem nos autos.
“Vou analisar o material e vou pedir imediatamente providência à Polícia Federal para saber porque isso foi feito, se o juiz [Sergio Moro] sabia disso e quem mais sabia”, disse. A Polícia Federal (PF) foi procurada, mas não retornou até o fechamento desta edição. (AA)
A nova denúncia partiu de um agente da PF em Curitiba. Ele admitiu na segunda-feira da semana passada, dia 4, em depoimento formal a um delegado da PF, ter sido o responsável por colocar um equipamento de escuta na cela da carceragem que seria usada para receber Youssef. O agente, que diz ser responsável pela área de “captação de áudio e vídeo” do setor de inteligência da PF, afirmou que recebeu ordens de colocar a escuta poucos dias antes da chegada de Youssef.
No depoimento registrado pelo delegado Mário Fanton, ele afirma que “no ano passado, recebeu uma visita em sua sala do delegado Rosalvo, acompanhado do delegado Igor Romário e do delegado Márcio, solicitando que implementasse com urgência uma escuta ambiental na cela” de Youssef. Rosalvo Ferreira Franco é o atual superintendente da PF no Paraná. Márcio Anselmo e Igor Romário de Paula são dois dos principais integrantes da Lava Jato.
O delegado Mário Fanton tomou o depoimento do agente depois de ouvi-lo admitir informalmente a irregularidade. Em sua versão, o agente responsável pela escuta disse que só soube posteriormente que os delegados não tinham autorização judicial para fazer a escuta. Depois que o próprio Youssef descobriu o equipamento, colocado entre o forro e a laje da cela, ele teria perguntado ao delegado Igor se havia alvará para a operação e teria ouvido como resposta que não.
Fanton levou o caso à direção da Polícia Federal em Brasília e deu um depoimento na quarta-feira (6). Segundo a reportagem da Gazeta do Povo apurou, um integrante da Corregedoria chegaria ainda na noite desta segunda-feira (11) para ouvir os citados.
Escuta
Alberto Youssef foi preso em 17 de março de 2014, no início da Operação Lava Jato. Ele é acusado de ser um dos principais operadores de um esquema de fraude de licitações e de desvio de recursos públicos. Em 10 de abril do ano passado, Youssef, por meio de sua defesa, denunciou a existência de uma escuta em sua cela.
Na época, a Polícia Federal emitiu uma nota oficial afirmando não ter colocado qualquer equipamento de escuta na carceragem e dizendo que iria investigar o aparelho encontrado. A sindicância foi aberta e o delegado responsável pelo caso, Maurício Moscardi, disse não ter encontrado irregularidades.
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