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Multidão na Marechal Deodoro, em Curitiba: capital paranaense foi a terceira em número de pessoas na rua contra a corrupção. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Multidão na Marechal Deodoro, em Curitiba: capital paranaense foi a terceira em número de pessoas na rua contra a corrupção.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Apesar das dúvidas a respeito do balanço final das manifestações deste domingo em todo o Brasil – 3,5 milhões de pessoas, segundo a polícia – uma coisa ficou clara: os dias de Dilma Rousseff (PT) como presidente do Brasil estão contados. Essa é a opinião que predominou nas diversas análises sobre os atos, que entram para a história como os maiores protestos políticos do país, e o impacto deles sobre uma já debilitada base de apoio ao governo federal.

Em muitas cidades, a Polícia Militar nem chegou a divulgar estimativa de público. Para os organizadores, as manifestações teriam reunido o dobro de pessoas, chegando a 6 milhões. Segundo fontes do Palácio do Planalto, o tamanho dos protestos surpreendeu o governo.

Independentemente do número, o crescimento ficou evidente, avalia o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). “Seguramente, com os últimos desdobramentos políticos e a crise econômica, muitas pessoas estão chateadas. Ainda não é o mesmo percentual de pessoas descontentes com o governo, em torno de 64%, como mostram as pesquisas, mas os movimentos estão conseguindo captar essa onda”, observa.

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Para os analistas, as manifestações deste domingo não devem provocar mudança direta no governo, mas influenciam os deputados e senadores, que podem acelerar e aprovar o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. Segundo Monteiro, o PMDB, que no sábado (12) fez convenção nacional e deu prazo de 30 dias para decidir se permanece ou não no governo, já decidiu desembarcar. “O fato é que o governo, hoje, provavelmente já perdeu sua maioria, está em uma espiral descendente. É uma questão de tempo”, diz.

O PT já vem sofrendo perdas. Com a janela partidária que vigora até 18 de março, políticos podem mudar de partido sem perder o mandato. Na eleição de 2014, foram eleitos 70 deputados para a Câmara Federal; agora, a listagem mais recente da Casa traz o nome de 58. “Há um processo de deterioração, em que o governo tem muita dificuldade para aprovar sua agenda. As mudanças no pré-sal, aliás, só foram aprovadas porque o governo contou com ajuda da oposição”, acrescenta.

Nota oficial

O Planalto se pronunciou por uma nota: “A liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada. O caráter pacífico das manifestações ocorridas neste domingo demonstra a maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes e sabe garantir o respeito às suas leis e às instituições”.

“Os dias de Dilma estão numerados”, diz o cientista político David Fleischer, professor da UnB. Para ele, depois do PMDB, a tendência é que PP e PR também deixem a base de sustentação do governo. A delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), se homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), também deve elevar o nível da crise, aponta.

O sociólogo Rudá Ricci, diretor do Instituto Cultiva, em Minas Gerais, ressalva que as manifestações continuam com pouca participação de pobres, negros e moradores de periferia. Mesmo assim, ele avalia que o governo de Dilma Rousseff não tem mais chance. “Está muito claro. Ela pode até permanecer, mas como figura decorativa, sem peso nenhum”, considera.

Esta chance é real, caso prospere a iniciativa capitaneada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de costurar um governo de “concertação nacional”, em que Dilma permaneça como presidente, mas sem poderes.

“Esse é o fio de esperança do PT, que poderia continuar, mas sem Dilma. A questão é com quem”, acrescenta Ricci.

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