Faltando pouco mais de um ano para o início do período eleitoral, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) não está em uma situação confortável. Em levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado no último dia 5, ele aparece empatado tecnicamente com Requião Filho (PMDB) na segunda colocação para a sucessão municipal – com apenas 15,1%. Ratinho Jr. (PSC), seu principal adversário na última disputa, lidera com 25,9%. Além disso, sua aprovação está em apenas 33,5%.
Em entrevista para a Gazeta do Povo, Fruet evitou “antecipar o debate eleitoral”. Entretanto, ele comentou que há um “grau de intolerância e descrença na sociedade”, principalmente em razão de sucessivos escândalos de corrupção e da dificuldade do poder público em responder às demandas da sociedade. Ele defendeu, também, que fez investimentos importantes na área de educação e da saúde, mas que a “baixa visibilidade” impede que isso se reflita em uma maior aprovação.
Fruet também comentou sobre a crise do transporte coletivo na cidade – um dos calcanhares de Aquiles de sua gestão. “Meus últimos fios de cabelo estão caindo por causa disso”, brincou. Ele também indicou um possível aumento na passagem de ônibus, mesmo às vésperas do período eleitoral, já que há pressão para a reposição da inflação na tarifa técnica. “Não dá para fazer demagogia com tarifa de ônibus. A consequência está aqui hoje”, comentou.
Falta um ano para o início do debate eleitoral. O sr. será candidato à reeleição?
Eu não tenho por que antecipar esse debate. Claro que é um caminho natural [se candidatar à reeleição]. Para ser objetivo: acho que vai sobreviver e chegar à eleição quem garantir manutenção e clareza de investimentos e ficar à margem de escândalos. Estamos passando por um processo que gera um grau de intolerância e de descrença na sociedade. Haverá muitos votos em branco, nulos, abstenções e, mais do que nunca, o voto terá um caráter pessoal. Será um voto menos ideológico, haverá muito voto de protesto. Mas entendo que não há razão para antecipar esse debate, meu adversário hoje sou eu. O importante é chegar ao final da gestão com clareza em relação à situação que encontramos e com clareza na divulgação e no diálogo com a sociedade, sobre tudo o que foi feito.
Sua base aliada na Câmara é composta por partidos adversários entre si, como PT, PSDB e PSC. Com quais partidos o sr. conta para a campanha?
Nesta fase, muito do que a gente falar vai servir mais para especulação do que para decisão. O cenário tem tantas variáveis que o que a gente afirma hoje pode mudar na semana que vem. Não tenho por que alimentar esse debate agora.
O sonho de consumo dos ‘tarifeiros’ [profissionais das empresas de ônibus que propõem o valor da tarifa] oscila entre R$ 3,70 e R$ 3,80. Meus últimos fios de cabelo estão caindo por causa disso.
Houve algumas pequenas crises no PDT local, especialmente com o vereador Jorge Bernardi. Especulou-se sua possível ida para a Rede Sustentabilidade. O que sr.tem a dizer sobre isso?
Tem até uma brincadeira: a prefeitura tem uma tradição de prefeitos advogados, engenheiros e arquitetos. O próximo vai ter que ser um psiquiatra [risos]. Eu nunca apaguei tanto incêndio e nunca neguei tanta especulação. Quem me acompanha nas redes sociais sabe que tem questões que eu ignoro... não num sentido pejorativo. Mas não adianta alimentar especulação. Não há crise no PDT. Cada pessoa tem uma personalidade, uma forma de agir. Se for assim, vamos considerar que há crise sempre que alguém pensar diferente.
Segundo pesquisa divulgada no início do mês, sua aprovação está em cerca de 30%. A que o sr. atribui essa rejeição?
No Brasil, pesquisa, mais do que informação e opinião, dá margem para sentença e especulação. Há um tempo eu tenho evitado responder a pesquisas. De qualquer forma, desde junho de 2013, mudou o grau de tolerância da sociedade. Reitero o que disse no início: vai sobreviver quem ficar à margem dos escândalos. Mesmo considerando as pesquisas, mudou novamente a tendência. Quando a gente fala de aprovação ou desaprovação neste momento, não significa que haja uma rejeição absoluta. Isso tudo é para ser conhecido e trabalhado. Estamos procurando estabelecer uma postura aqui que está na contramão do que a gente vê em relação ao governo do estado e ao governo federal. Eles, agora, estão tomando medidas que tomamos desde o primeiro momento.
Alguns atribuem essas medidas à ausência de grandes obras. O metrô ainda não saiu do papel, a Linha Verde não foi concluída. O que o sr. pode fazer em um ano para reverter isso?
É a alegria do empreiteiro, né? Curitiba já investiu mais de R$ 1,2 bilhão. Neste momento, estamos com 261 obras [em andamento], no valor de R$ 780 milhões. É um investimento muito expressivo. Mas a gente tem que entender que houve uma mudança nesses 30 anos. Quando meu pai [Maurício Fruet] era prefeito, Curitiba tinha cerca de 140 equipamentos. Hoje, são mais de 2,4 mil. Tinha uma época que a prefeitura cuidava de três coisas: malha viária, ônibus e zoneamento. Agora, tem que dividir [a verba] com outras áreas, principalmente a social, ambiental e econômica.
Há uma crítica também com a demora para que os projetos saiam do papel.
Qualquer projeto desses leva de um ano a dois anos. Os projetos da Linha Verde, duas licitações com o valor de cerca de R$ 40 milhões, levaram dois anos. Hoje tem que ter projeto executivo, edital, licitação, audiência pública, parametrização com o governo federal. O tempo de elaboração do projeto, por vezes, é maior do que o tempo de execução da obra. Mas nos próximos dias começam obras na Linha Verde, na Raul Pompeia, na continuação da Agamenon Magalhães e o BRT do Inter 2.
O metrô seria uma espécie de símbolo disso. A licitação ainda não começou. Em que pé está o projeto?
Nós chegamos onde nenhuma outra gestão chegou. Lançamos o edital. No penúltimo dia, o Tribunal de Contas suspendeu. Claro, respeitamos a decisão e prestamos todos os esclarecimentos. Retomamos o processo, mas nesse período, como começou a Operação Lava Jato, o governo federal criou novos parâmetros. Tivemos que apresentar todos os parâmetros de custo do metrô, mesmo que Curitiba nunca tenha feito uma obra desse tipo. A gente espera que isso esteja concluído nas próximas semanas para reapresentar o edital.
Há quem considere o gasto com o metrô muito alto – tanto o investimento quanto o custeio. É uma obra necessária?
Curitiba já não é uma cidade média. Então temos que pensar num sistema de alta capacidade de transporte. Só com ônibus, Curitiba não consegue expandir [sua capacidade de transporte] em mais de 30 mil usuários por hora no horário de pico – por mais que se sincronize os semáforos, por mais que se coloque ônibus de alta capacidade, por mais que se formem comboios. Além disso, hoje qualquer intervenção gera desapropriação, não tem mais área disponível na cidade.
A nova tarifa técnica do ônibus – retroativa a fevereiro – deve ser anunciada em breve. É possível prever quanto ela custará?
Procuramos estabelecer uma correção pela inflação. Estamos pagando uma conta de uma tarifa que foi usada de maneira demagógica. Por isso aprendi a dizer “não” e estou enfrentando esse tema – mesmo com o desgaste que isso gera. Não dá para fazer demagogia com tarifa de ônibus. A consequência está aí. Não corrigiram [a tarifa técnica], e, em 2012, deram subsídio. A conta está sendo paga hoje.
A inflação está próxima dos 10%. Isso significa que um aumento de R$ 0,30 é provável?
Esta é a preocupação e a pressão. Vou te dar um número: o sonho de consumo hoje dos “tarifeiros” [profissionais responsáveis por elaborar proposta de tarifa por parte das empresas] oscila entre R$ 3,70 e R$ 3,80. Meus últimos fios de cabelo estão caindo por causa disso. E no momento que estabelecemos a tarifa, é retroativa a fevereiro. Estamos em uma recomposição, otimização das receitas e despesas, mas essa pressão vai ser permanente.
Há a possibilidade de novos subsídios para evitar um reajuste tão forte?
Hoje, o ônibus já é altamente subsidiado. A prefeitura vai gastar em dinheiro do orçamento, só neste ano, mais de R$ 80 milhões na manutenção do sistema. Quem constrói e mantém as vias? A prefeitura. Quem constrói e mantém as canaletas? A prefeitura. Quem constrói e mantém os terminais? A prefeitura. Quem paga luz, limpeza, manutenção? A prefeitura. E isso não está na tarifa. A gente está discutindo o custo da tarifa, mas a manutenção do sistema é integralmente feita com recurso público.
Na campanha, o sr. prometeu que gastaria 30% dos recursos do município em educação. 2016 é o último ano da gestão. Com toda a crise econômica no país, esse índice vai ser atingido?
Vai. [O cálculo] é sobre a receita líquida, como já especifiquei desde a campanha [eleitoral]. Isso, para mim, é transformador, é a Curitiba humana. Se tem um dado que é motivo de orgulho para a cidade: das 15 melhores escolas do Brasil, cinco são daqui. Isto é transformador, mas não aparece como obra física. Quem está acostumado com uma cidade inovadora só por obra física está em sintonia com empreiteiros. Agora, isso [gastos em educação] tem um impacto de médio e longo prazo. É uma tendência sem volta na cidade. Pela primeira vez, a saúde e a educação terão mais que 55% do orçamento.
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